Título: Pais exigem ação do MPF
Autor: Temoteo, Antonio; Alcantara, Manoela
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2012, Cidades, p. 22

Representantes da Confederação Nacional de Pais e Alunos (Confenapa) e da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF protocolaram ontem uma representação contra a Universidade de Brasília (UnB) no Ministério Público Federal (MPF). O documento pede que sejam apurados os trotes sujos na UnB, denunciados pelo Correio na última semana. As averiguações iniciais, ainda em caráter cível, serão conduzidas pelo procurador da República Peterson de Paula Pereira. Ele terá 30 dias para definir se abrirá uma investigação, se incluirá a petição em um processo existente ou se arquivará a denúncia.

Como primeira medida, Pereira marcou uma reunião para as 15h de hoje com a decana de Assuntos Comunitários da UnB, Carolina Cássia Batista, e o diretor da Faculdade de Tecnologia, Antônio Brasil. Segundo o MPF, caso uma investigação seja aberta e haja indícios de crimes a apurar, um novo processo criminal será instaurado com base nas provas colhidas. Segundo Carolina, a universidade colaborará com os trabalhos. Além disso, a decana solicitou à Faculdade de Tecnologia a realização de uma sindicância para apurar os fatos ocorridos na semana passada.

"Já nos reunimos com os estudantes e com a coordenação do curso para sugerir a formação de uma comissão de sindicância. Representantes dos calouros e do Centro Acadêmico foram ouvidos e em um primeiro momento disseram que ninguém se sentiu agredido. A nossa equipe de assistentes sociais e psicólogos também está à disposição para um processo de acolhimento de qualquer estudante. Tudo será investigado", explicou Carolina.

Abusos Para o coordenador da Confenapa e presidente da Aspa-DF, Luis Claudio Megiorin, o trote sujo é uma prática ilegal e fere direitos básicos do cidadão. Na opinião dele, os alunos são submetidos a humilhações, mesmo quando não se dispõem a participar das agressões. O coordenador avaliou que são necessárias medidas punitivas para que as ilegalidades dentro do câmpus acabem.

O presidente da Aspa-DF sugeriu que sejam feitas recomendações a todas as procuradorias regionais para que a ação do MPF seja estendida às universidades do país. Segundo Megiorin, a presença dos órgãos de segurança na universidade se faz necessária, já que o conceito de liberdade é confundido com libertinagem na UnB. No documento entregue ao MPF, ele pede aumento da segurança e até uma possível intervenção da Polícia Militar na instituição de ensino superior.

"Nós precisamos ver o que está por trás desta filosofia de extrema liberdade dentro dos câmpus das universidades. Será que o aluno precisa fumar um baseado para melhorar o aprendizado e os níveis de abstração e de raciocínio? Não consigo entender esse comportamento leniente das direções das instituições. Ninguém deve ser obrigado a se submeter a trotes como os que acontecem aqui. Isso é uma vergonha e só vai acabar quando alguém for punido de verdade", defendeu.

Como sugestão de punição, é pedida a expulsão daqueles que participaram do trote do curso de mecatrônica, na última sexta-feira. Eles devem ter direito ao contraditório e à ampla defesa, mas a sugestão é que não haja impunidade a título de exemplo.

Exemplos de cidadania Confira abaixo alternativas ao trote sujo

Solidário » Doação de alimentos » Doação de sangue » Doação de roupas » Gincanas

Produtivo » Calouros passam o dia em instituições de caridade » Realização de seminários para novos alunos » Participação em oficinas em entidades carentes e assistenciais

Confraternização » Festas de boas-vindas aos calouros

Povo Fala Você é a favor do trote na UnB?

Ytalo Matheus, 18 anos, estudante do 3º semestre de história, morador de Taguatinga "Sou a favor da acolhida, de uma recepção positiva, do trote sujo, não. No meu curso, foi feito um jogo de perguntas e respostas, montamos um quebra-cabeça de um momento histórico. Esse tipo de iniciativa é legal. O barulho, a humilhação e as brincadeiras de mau gosto não fazem bem a ninguém."

Paula Evelyn, 20 anos, 6º semestre de psicologia, moradora de Sobradinho "A parte da humilhação é totalmente desnecessária. Já vi casos de pessoas que deixaram de entrar na faculdade porque sofreram tanto no trote que desistiram. A recepção de um ambiente no qual já entramos inseguros tem que ser positiva. Infelizmente, esses trotes sujos ainda são recorrentes."

Nayara Damasceno, 20 anos, 1º semestre de enfermagem, moradora de Sobradinho "Sou a favor da liberdade de escolha e do respeito a todas as pessoas. É legal, sim, conhecer todo mundo, mas existem diversas formas para isso. No meu curso, por exemplo, fizeram um jantar. Foi legal, calmo e conheci todo mundo. Sou contra trotes violentos, simplesmente porque é desnecessário."

João Paulo Barion, 18 anos, 1º semestre de química, morador do Lago Norte "O trote deve ser para integrar. Só deve participar quem quer. Mesmo iniciativas como sujar e jogar ovo só devem acontecer com aqueles que autorizaram previamente. As regras da brincadeira devem ser bem definidas antes de acontecer. O respeito acima de tudo."