Correio braziliense, n. 20093, 27/05/2018. Mundo, p. 17

 

Irlanda diz sim ao direito ao aborto

27/05/2018

 

 

Com fortes raízes católicas, o povo irlandês aprovou ontem uma mudança na Constituição com impactos históricos. Um referendo sobre a liberalização do aborto obteve 66,4% de votos favoráveis, o que resultará na revogação da emenda que proíbe a interrupção voluntária da gestação. Agora, o governo redigirá um novo projeto de lei autorizando o procedimento durante as 12 primeiras semanas de gravidez e até a 24ª por motivos de saúde.

“O povo disse que queremos uma Constituição moderna para um país moderno, que confiamos e respeitamos as mulheres para tomar as decisões corretas sobre a própria saúde”, afirmou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. Há três anos, também por referendo, o país legalizou o casamento homossexual.

Segundo Varadkar, o projeto de lei ficará pronto em menos de um mês e seguirá para aprovação antes do fim do ano no Parlamento. O texto deverá ser adotado sem dificuldade na Casa, já que os líderes dos dois principais partidos da oposição, Fianna Fail e Sinn Fein, apoiam a reforma.

A população foi às ruas comemorar o resultado. “Maravilhoso! É um dia maravilhoso”, disse Eileen Shields, que carregava uma placa com a frase “Fizemos história!”. “Saímos da era da escuridão. Não somos mais um país dividido, como a Igreja queria nos fazer crer”, disse Catherine Claffey, em frente ao Castelo de Dublin, onde foram anunciados os resultados definitivos.

Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram chamadas às urnas depois de uma dura campanha. O movimento contra o aborto apostava na mobilização da Irlanda rural. Os favoráveis incentivaram os jovens a se registrar e votar. A participação dos eleitores foi de 63%. Pelas leis atuais, o aborto pode ser punido no país com até 14 anos de prisão, mesmo que a gravidez tenha sido resultado de estupro ou incesto.