Correio braziliense, n. 20093, 27/05/2018. Cidades, p. 21

 

Acaba o gás de cozinha

Renato Alves e Amanda Ferreira

27/05/2018

 

 

CRISE DOS COMBUSTÍVEL » Diferentemente do que acontece com a gasolina e o etanol, não há esquema previsto para liberar caminhões carregados com botijões destinados ao Distrito Federal e retidos em três rodovias

Enquanto caminhões-tanque carregados com gasolina e etanol começaram a deixar as distribuidoras, graças às escoltas da Polícia Militar, as revendas de gás de cozinha da capital zeraram os estoques ontem e não têm previsão para voltar a receber carregamentos. Inexiste um esquema de segurança que garanta a chegada dos botijões ao Distrito Federal. E, quando chegarem, levarão ao menos 24 horas para começarem a ser entregues nas residências.

Os depósitos de Brasília não recebem os botijões para a venda desde terça-feira, por causa da greve dos caminhoneiros, que bloqueia o transporte de cargas nas rodovias brasileiras. De acordo com Cyntia Moura Santo, diretora do Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de Gás LP no DF (Sindvargas), os revendedores fecharam as portas ontem por falta de produto. “Após a normalização das entregas, o gás de cozinha doméstico (P13) deve demorar ao menos 24 horas para chegar ao consumidor residencial porque primeiro será liberado o gás a granel que atende hospitais e outras prioridades”, explicou.

O DF está sem receber tanto o gás já envasado quanto o que seria engarrafado nas distribuidoras. Os caminhões estão parados em Valparaíso (GO), e na Fercal (DF) e na BR-060, que liga Goiânia a Brasília. A Polícia Militar informou que, até a noite de ontem, não havia sido orientada a fazer escolta do gás de cozinha, apenas de combustíveis para veículos, como a gasolina.

O reflexo é sentido nos lares. Moradora do Noroeste, Maria de Fátima Lopes, 73 anos, telefonou para três revendedoras e desistiu quando notou que não haveria mais jeito. O estoque dela só dura, no máximo, até amanhã. “São mais de oito pessoas em casa e fica complicado o dia a dia sem o gás. Além de esperar, não sabemos o que fazer”, afirma. O jeito, de acordo com ela, é preparar alimentos que cozinhem mais rápido e esquentar o necessário no microondas. “Estamos inseguros, fazendo o mínimo”, completa.

Água garantida

Enquanto falta gás, o sistema de abastecimento de água da capital funciona dentro da capacidade e necessidade de atender à população, apesar da greve nacional de caminhoneiros. Assim, não há risco de falta de água, de acordo com a Companhia de Saneamento do DF (Caesb).

Ainda segundo o órgão, o governo “está tomando todas as providências para garantir o funcionamento do sistema de água e esgoto na cidade”. A Caesb alerta que as pessoas não devem fazer estoque extra de água e precisam apenas manter o consumo racional, evitando desperdícios.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Postos recebem gasolina e etanol

Ailim Cabral

27/05/2018

 

 

O esquema montado pela Polícia Militar para garantir o abastecimento dos postos de combustíveis do Distrito Federal deu resultado. Às 13h de ontem, 79 caminhões-tanque haviam deixado a central de distribuição da Petrobras no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).

Em alguns postos, os clientes que aguardaram na fila desde cedo começaram a abastecer os carros na hora do almoço. Estabelecimentos usaram as redes sociais para anunciar a disponibilidade de gasolina e etanol. Alguns postos limitam a R$ 100 a compra por cliente.

A expectativa do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do DF (Sindicombustíveis) é de que o abastecimento nos postos seja normalizado hoje. “A base está liberada e operando quase na normalidade. Agora é só aguardar o tempo para normalizar o abastecimento na cidade”, afirmou a presidente da entidade, Elisa Schmitt.

Filas extensas

Quem foi atrás de combustíveis enfrentou filas quilométricas nos postos e preços bem acima do praticado há uma semana. No posto BR da 105 Sul, por exemplo, o caminhão-tanque chegou por volta do meio-dia. A gasolina era vendida a R$ 4,78 por litro (no débito) e R$ 4,88 (crédito).

Outro posto BR, na quadra 300 do Sudoeste, atraiu uma fila que, à tarde, chegava ao Setor de Oficinas. A dentista Michelle Bastos, 35 anos, saiu do Guará às pressas assim que soube haver gasolina no estabelecimento. Com o carro perto da reserva, ela não conseguiria fazer o percurso até o trabalho nos próximos dias. “Precisamos disso para seguir a semana. A fila vale a segurança”, afirmou.

Quem também estava na espera era o engenheiro Delvan Tavares, 69 anos. Apesar de ainda ter combustível no carro, ele aproveitou a proximidade de casa para colocar mais alguns litros no tanque. “Não é uma emergência, mas quero me garantir porque não sei até quando essa greve vai durar”, comentou.

Ônibus rodam

O sindicato das empresas de ônibus informou que as cinco empresas de transporte público do DF receberam combustível ontem e os 2,8 mil veículos têm óleo diesel suficiente para rodar normalmente hoje e segunda-feira. Nos últimos dois dias, a frota rodou em contenção, por causa da greve dos caminhoneiros e da falta de abastecimento.