Valor econômico, v. 17, n. 4450, 27/02/2018. Político, p. A8.​

 

 

Jungmann assume Segurança e Exército ganha poder político

Andrea Jubé e Cristiane Bonfanti

27/02/2018

 

 

O novo ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, toma posse hoje com o desafio de construir uma vitrine para os últimos meses do governo de Michel Temer: o combate efetivo à violência em todo o país, muito além da intervenção federal no Rio de Janeiro, mediante a integração das forças policiais de todos os Estados. O general Joaquim Silva e Luna, atual secretário-geral do Ministério da Defesa, assume a pasta interinamente, no lugar de Jungmann, sendo o primeiro militar a assumir o posto.

Silva e Luna é general da reserva, alçado à Secretaria-Geral da Defesa na gestão do então ministro Aldo Rebelo, antecessor de Jungmann - um posto que, até então, era ocupado por civis. Temer poderá efetivá-lo, já que militares são avessos a muitas mudanças na pasta, mas antes testará a reação da sociedade ao manter um militar pela primeira vez no posto. Uma alternativa é indicar um embaixador para a vaga.

Temer terá, ainda, de acalmar os ânimos na cúpula da Defesa. O rearranjo de postos deixou insatisfeitos os oficiais da Aeronáutica, que ficaram sem representação no comando da pasta. Com Silva e Luna na interinidade, o Exército acumula dois cargos principais - ministro e secretário-geral. A Marinha ocupa o terceiro cargo relevante, no comando do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), com o almirante de esquadra Ademir Sobrinho.

Após o desgaste nos últimos meses pela tentativa de aprovar as mudanças nas regras da aposentadoria, Temer agora corre contra o tempo para hastear uma bandeira de apelo popular em meio à crise na área de segurança que extrapola as fronteiras do Rio de Janeiro. Embora Temer seja enfático ao negar o viés eleitoral das medidas, ele busca reduzir a alta rejeição junto ao eleitorado a fim de viabilizar um candidato governista à sucessão presidencial, ou no melhor cenário, arriscar uma candidatura à reeleição.

Jungmann assumirá uma pasta enxuta, com nove cargos de assessores, além do ministro e do secretário-executivo. O ministério passará a abrigar a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Força Nacional de Segurança e o Departamento Penitenciário Nacional. Após a solenidade de posse, Jungmann vai apresentar suas primeiras ações à frente do novo ministério e os primeiros nomes de sua equipe.

Sua primeira missão é articular a tramitação ágil da medida provisória de criação da pasta. Temer e Jungmann também vão reunir os governadores para expor as propostas do ministério e ouvir as reivindicações.

Há meses, governadores de nove Estados vinham reiterando apelos a Temer para que a União enviasse reforços da Força Nacional de Segurança, bem como recursos federais, para auxiliar no combate à violência. Além do Rio de Janeiro, também pediram ajuda os governadores do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santo, Roraima, Rondônia, Amazonas e Goiás.

O governo identificou problemas diversificados: rebeliões em presídios, insubordinação dos policiais militares, greves da polícia civil, roubo sistemático de cargas em rodovias e aumento explosivo da criminalidade de forma geral.

Temer andava insatisfeito com a atuação do ministro da Justiça, Torquato Jardim, que não se mostrava atuante na área que era de sua atribuição. Há um ano, Temer alterou o nome da pasta para Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas a escalada da violência em vários Estados - culminando com o colapso no Rio -, levaram o presidente a tirar do papel uma reivindicação antiga da "bancada da bala".

A pasta sai do papel dez dias após o início da intervenção federal na área de segurança pública no Rio de Janeiro, uma medida extrema que foi acompanhada de perto, desde a gestação por Jungmann, então na Defesa.

Ele já estava afinado com o tema, tendo acompanhado de perto as medidas de segurança tomadas até agora em todas as crises, desde os decretos de Garantia da Lei e da Ordem (GLOs) até a intervenção no Rio. Deputado licenciado pelo PPS por Pernambuco, Jungmann cogitava afastar-se do cargo para concorrer à reeleição. Mas seria um pleito apertado, e por isso o apelo do presidente para assumir o cargo o convenceu a continuar no governo.