Título: Socorro à indústria sai na próxima terça-feira
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2012, Economia, p. 20
Em nova tentativa de defender as fábricas brasileiras contra os produtos importados, o governo anunciará a desoneração da folha com foco no aumento da competitividade
Em meio à maior crise entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional desde o início do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dará mais uma cartada para que o governo consiga ter o setor produtivo ao seu lado. Na próxima terça-feira, a equipe econômica anunciará as medidas de desoneração da folha de pagamento para beneficiar setores da indústria que perderam competitividade com a invasão de importados, sobretudo da China, no mercado nacional.
Mantega confirmou a data ontem em café da manhã com os líderes da base aliada da Câmara dos Deputados. O ministro, conhecido pela pouca proximidade com o Congresso, aproveitou a viagem da ministra Dilma Rousseff à Índia para fazer um afago nos parlamentares. O convite surpreendeu os políticos e buscou, além do voto de confiança dos empresários, apoio na votação de projetos que interessam ao governo. "Talvez seja um ponto de partida por causa de todo o problema que está aí, de falta de diálogo, de entendimento e de conversa", afirmou o líder do PTB, deputado federal Jovair Arantes (GO), após o encontro com Mantega e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Embora negue que haja uma crise entre o Planalto e a base aliada, a líder do PSB na Câmara, deputada federal Sandra Rosado (RN), também elogiou a iniciativa. "É uma atitude louvável. Estreitam-se os laços", ressaltou.
Elétricos A proposta é substituir a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de 20% sobre a folha de pagamento pela introdução de uma alíquota de 1% sobre o faturamento bruto das fábricas. O ministro já havia conversado com empresários de setores como o têxtil, o moveleiro, o de autopeças, o aeroespacial e o de máquinas e equipamentos. Ontem, ele recebeu representantes das indústrias de plástico, ônibus, elétrica e eletrônica.
Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), explicou que a desoneração da folha contemplará uma lista de 35 produtos utilizados na geração, na transformação e na distribuição de energia elétrica. Entre eles, destacam-se os transformadores e os isoladores elétricos, muito usados em postes de iluminação pública. Em vez de considerar o setor como um todo, a mudança ocorrerá nas empresas que produzem qualquer um desses itens.
"A nossa área é muito ampla. No que diz respeito a alguns produtos, o benefício é possível. Muitos produtos da área elétrica, que agrega muita mão de obra em sua fabricação, vão ser contemplados. Os que têm como componentes principais os eletrônicos, e não a mão de obra, não entrarão na lista", afirmou Barbato. A Abinee representa um setor que emprega, hoje, 185 mil trabalhadores formais.
José Martins, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), disse que, no caso do setor, a medida visa diminuir as perdas no mercado de exportação. Levantamento da entidade mostra que o número de veículos exportados caiu de 6,5 mil em 2008 para 4 mil em 2011, uma redução de 38,5%.