Correio braziliense, n. 20088, 22/05/2018. Política, p. 6

 

Meirelles mais perto da urna

Rodolfo Costa

22/05/2018

 

 

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles será o candidato do MDB na corrida eleitoral para a Presidência da República. A confirmação do ex-comandante da equipe econômica pode ser feita ainda hoje pelo próprio presidente Michel Temer. Ele participa nesta terça-feira de evento que marcará o lançamento do documento intitulado de “Encontro com o Futuro”, uma espécie de evolução do programa de governo “Ponte para o Futuro”. A ideia é emplacar uma plataforma que apresente um passo seguinte para a sucessão presidencial ou mesmo para a pré-candidatura que quiser apoio da legenda.

A definição de Meirelles é sustentada por uma ala emedebista, que entende que o partido não deve mais ficar no atual cenário de incertezas sobre quem defenderá o legado governista. O emedebista admitiu em entrevista ao Correio, publicada na última sexta-feira que estava “meditando” sobre a possibilidade de desistir da pré-candidatura.

A alta rejeição nas pesqusias, no entanto, deve fazer Temer desistir. Quase 65% dos eleitores consultaods não votaria de modo algum no presidente, segundo pesquisas de intenção de voto. Os mesmos levantamentos apontam que a rejeição de Meirelles é bem menor, na casa dos 14%. A possibilidade de Temer ser denunciado uma terceira vez pela Procuradoria-Geral da República (PGR), com base em inquéritos da Polícia Federal (PF), é outro fator que pesa para a tomada da decisão.

O discurso sobre a desistência ainda está sendo alinhado entre Temer e auxiliares. Mas não deve demorar muito para sair. “Todos os partidos estão se movimentando. Alguns discutem até alianças. Está na hora de o MDB tomar uma postura mais definitiva”, defendeu um aliado de Temer. Emplacar Meirelles, no entanto, não será um processo fácil. O desemprego continua alto, e a grande massa da população ainda não compra o discurso governista de melhora da economia. Interlocutores de Temer discordam e ressaltam que o emprego formal dá sinais de recuperação, mas admitem que estão em curso propostas para compor uma agenda positiva que garanta votos, como a redução do preço dos combustíveis.

Legado

A escolha por Meirelles se deve ao fato de que ele não tem o nome envolvido em suspeitas de corrupção, tem baixa rejeição, mas, sobretudo, por ser alguém que representaria o legado da gestão atual. A avaliação é de que ele tem as credenciais para abraçar o programa “Encontro com o Futuro”, que vai continuar a agenda de reformas, integração e valorização da produção nacional. “Ele tem a identificação, o conhecimento econômico e um histórico positivo que o governo precisa para emplacar uma pré-candidatura”, ponderou um interlocutor do presidente.

A avaliação encontra eco na alta cúpula do Palácio do Planalto. Em evento em Mato Grosso do Sul, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, chamou Meirelles de “nosso presidente da República”. “Gente que fez, gente que faz, e gente que sabe que pode continuar fazendo”, disse o articulador político. A declaração foi filmada e divulgada pelo próprio ex-ministro em uma rede social.

É nos mínimos detalhes que o MDB está, aos poucos, emplacando Meirelles como o pré-candidato do partido. Amanhã, o terceiro dia da 21ª edição da chamada Marcha em Defesa dos Municípios, evento que conta com a participação de prefeitos de todo o país, promoverá um debate com a presença de pré-candidatos. O ex-comandante da Fazenda está confirmado como o representante da legenda. “Vamos ouvir os candidatos e quem vai pelo partido (MDB) é o Meirelles”, afirmou o presidente da Confederação Nacional de Municípios (CMN), Paulo Ziukoski.

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Lula pode ser barrado

Bernardo Bittar

22/05/2018

 

 

Ainda que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, negue a hipótese de impugnação antecipada da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) buscam uma maneira de impedi-la e evitar a criação de nova jurisprudência. Petistas afirmam que Lula será lançado como pré-candidato ao Planalto no próximo dia 27. Se isso acontecer, ele poderá fazer propaganda em rádio e tevê e, mesmo preso e inelegível, ser votado.

Desde a semana passada, ministros do TSE discutem nos bastidores a possibilidade de tomar a iniciativa de impedir a candidatura do ex-presidente para evitar impasses durante a campanha. Em entreivista transmitida ontem pela Band, Cármen Lúcia disse que isso não é possível. Ex-ministro do TSE, Henrique Neves defende que se repense a legislação. “A análise do pedido de registro precisa acontecer antes das convenções para que se saiba com clareza quem pode e quem não pode ser candidato. Não tem lógica o eleitor ouvir a propaganda eleitoral, votar na pessoa e, depois, se decidir que ela não poderia se candidatar”, defendeu

A opinião de Henrique Neves é endossada por um ministro do STF, que acredita na “possibilidade de que, tão logo haja oportunidade, os ministros do TSE vão fazer alguma coisa. Eles lutam para evitar esse tipo de manobra”.

Ontem, o deputado Wadih Damos (PT) afirmou que a candidatura de Lula será registrada no próximo domingo. Para o advogado Francisco Emerenciano, “se Lula ganhar a eleição, dificilmente tomará posse, porque os votos dele serão considerados nulos”.