O globo, n. 30921, 04/04/2018. País, p. 6

 

Dono do grupo Libra admite à PF que se encontrou com Temer

Aguirre Talento e Bela Megale

04/04/2018

 

 

Gonçalo Torrealba prestou depoimento ontem na Operação Skala

-BRASÍLIA- O dono do grupo Libra, Gonçalo Torrealba, admitiu à Polícia Federal encontros com o presidente Michel Temer (PMDB) e afirmou que pediu ajuda a um amigo do peemedebista, o coronel João Baptista Lima. A pauta era um pleito do grupo no governo federal: a prorrogação de contratos no porto de Santos.

Torrealba prestou um longo depoimento na sede da PF, em Brasília, durante dois dias, ontem e anteontem, após ter sua prisão temporária decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso na Operação Skala, que mirou empresários e amigos do presidente. No depoimento, o executivo estava acompanhado da criminalista Ilcelene Bottari. Como estava nos Estados Unidos, Torrealba não chegou a ser preso. Ao voltar para o Brasil anteontem, foi conduzido à PF em Brasília para depor sobre suspeitas de favorecimento indevido de empresas do setor portuário em troca do pagamento de propina a Temer e integrantes do PMDB.

O empresário relatou à PF que conhece Temer desde a época em que ele era deputado federal e admitiu ter mantido encontros com o peemedebista, como uma reunião no Palácio do Jaburu em 2015. Teriam participado outros integrantes do governo Dilma Rousseff, como a então chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT). O objetivo era resolver uma disputa judicial que permitiria a prorrogação dos prazos dos contratos do grupo. Torrealba, porém, afirmou que Temer não interferiu sobre o assunto e que o grupo Libra acabou aceitando as condições impostas pelo governo.

Em seu relato, Torrealba admitiu que mantinha relações com o coronel Lima e afirmou que pediu uma ajuda a ele em 2015 para marcar reunião com o então ministro da Secretaria dos Portos, Edinho Araújo — no depoimento, o empresário frisa que Edinho era afilhado político de Temer. Mensagens encontradas no celular do coronel Lima, reveladas pela revista “Veja”, mostram que, em 12 de agosto daquele ano, ele avisou ao empresário: “O encontro foi agendado para as 12h, na secretaria”.

Mesmo com uma dívida de R$ 2,8 bilhões na União, o grupo Libra conseguiu renovar sua concessão. Em setembro de 2015, a empresa teve seus contratos estendidos até 2035 pela Secretaria dos Portos, em decisão assinada justamente por Edinho. Torrealba, porém, afirmou que todas suas conversas com integrantes do governo federal ocorreram de forma institucional e não envolveram irregularidades.

Questionado sobre as doações do grupo Libra ao PMDB, o empresário afirmou que foram feitas por afinidade com o partido e que não envolveram contrapartida. A PF também ouviu ontem Rodrigo Torrealba, outro acionista do grupo, que negou irregularidades.

Em nota, o grupo Libra afirma que não era inadimplente com o governo e que estava depositando em juízo a parcela mensal referente à concessão, porque travava uma disputa com a Companhia de Docas do Estado de São Paulo (Codesp) na qual alegava que a Codesp estava descumprindo suas condições contratuais.

Questionado sobre os encontros de Temer com Gonçalo Torrealba, o Palácio do Planalto não respondeu.