O globo, n. 30921, 04/04/20198. Rio, p. 10
 

Roubos explodem

Luã Marinatto, Maurício Ferro e Rafael Galdo

04/04/2018

 
 

Seis tipos de crime atingem, no primeiro bimestre, os piores patamares da série histórica

O colapso da segurança do Rio fez com que pelo menos seis tipos de crime atingissem, nos dois primeiros meses de 2018, o pior patamar para um começo de ano na série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP). O bimestre registrou os mais altos números de roubos de carga, de veículo, a pedestres e em ônibus desde 1991. A escalada da violência também se refletiu nas estatísticas de roubos de celular (contabilizados a partir de 2001) e de caixas eletrônicos (desde 2003). A análise foi feita pelo GLOBO baseada nos dados de fevereiro divulgados anteontem pelo ISP. O levantamento abrange apenas um período de 12 dias da intervenção federal na segurança pública do estado, iniciada em 16 de fevereiro.

Foi a primeira vez, por exemplo, que as ocorrências de roubos a pedestre ultrapassaram a marca de 15 mil casos, considerando apenas a soma dos meses de janeiro e fevereiro deste ano. É como se uma pessoa virasse alvo de assaltantes nas ruas do estado a cada cinco minutos, aproximadamente. Em 1991, foram 1.930 registros.

Isso significa que, nessas quase três décadas, o número de assaltos a transeuntes cresceu 682,7%. Levando-se em consideração o aumento da população fluminense desde então, que saltou de 12,8 milhões para cerca de 17 milhões de moradores, segundo o próprio ISP, a taxa de roubos a pedestre por cem mil habitantes subiu de 15,1 (em janeiro e fevereiro de 1991) para 88,7 (no primeiro bimestre de 2018). A alta foi de 487,4%.

Para as vítimas, restam o trauma e o sentimento de impotência. Na letra fria dos dados, diz o coronel da reserva da PM Robson Rodrigues, mestre em antropologia e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, fica evidenciado o “colapso do sistema policial”. Ele argumenta que a opção por fazer operações para apreender fuzis, por exemplo, prejudicou a capacidade investigativa da Polícia Civil e o patrulhamento ostensivo da Polícia Militar:

— Temos operações em demasia, o que causa muito mais pânico na sociedade. Não se combate (a criminalidade) assim; mas com inteligência. Diante de uma crise, o Estado não foi capaz de orientar as polícias para suas funções originárias.

PERIGO AO VOLANTE

No período analisado pelo GLOBO, outros índices cruzaram marcas significativas. Os roubos de veículo romperam, pela primeira vez, a barreira das dez mil ocorrências: foram exatamente 10.078 casos, ou 170 veículos levados pelos ladrões por dia. Se a opção é o transporte público, a insegurança também reina. Nos ônibus, foram 2.086 roubos — um recorde negativo que nem considera que há passageiros que têm pertences levados pelos bandidos, mas não registram queixa nas delegacias.

Cada vez mais disseminados, os celulares são um alvo crescente dos assaltantes: pela primeira vez, superou-se a marca de quatro mil roubos dos aparelhos — sempre no somatório dos números de janeiro e fevereiro. Algumas estatísticas, em especial a de roubos de rua (conjunto dos assaltos a pedestre, em ônibus e de celular), ficaram prejudicadas no princípio de 2017, já que uma paralisação na Polícia Civil causou grande subnotificação de crimes.

Até mesmo modalidades criminosas com um universo bem menor de ocorrências alcançaram seu patamar máximo no primeiro bimestre deste ano. É o caso dos roubos a caixas eletrônicos, que começaram a ser compilados pelo ISP em 2003. Com ações elaboradas, tanto na capital quanto no interior, quadrilhas especializadas assaltaram caixas bancários em 15 ocasiões em janeiro e fevereiro, ou um caso a cada quatro dias.

Já os homicídios dolosos foram 906 no primeiro bimestre deste ano. É menos do que os 982 de janeiro e fevereiro de 2017 e abaixo dos patamares registrados entre 1991 e 2010.

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Jungmann pedirá que DH ouça testemunhas

Carina Bacelar

04/04/2018

 

 

Para ele, polícia deve achar pessoas localizadas pelo GLOBO que viram morte de vereadora

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse ontem, durante o encontro “E agora, Brasil?, realizado pelo GLOBO, com patrocínio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e apoio do Banco Modal, que vai conversar com o chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, sobre a possibilidade de duas testemunhas da morte da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, localizadas pelo GLOBO, serem ouvidas pela Delegacia de Homicídios. Conforme o jornal revelou no último domingo, duas pessoas viram a ação dos assassinos, a cerca de 15 metros de distância, mas, como não tinham sido identificadas pelos investigadores, não prestaram depoimentos à polícia. Elas afirmaram que, logo após o crime, foram aconselhadas por policiais militares a se afastarem do local e a irem para suas casas. O ministro afirmou ainda que eventuais falhas da investigação serão reconhecidas:

— Vou procurar junto ao próprio Rivaldo Barbosa. É uma pessoa que tem competência reconhecida pela sociedade do Rio, inclusive por ter desvendado outros crimes. Se ocorreu uma falha ali, tem que reconhecer e chamar as pessoas para prestar depoimento a esse respeito. É claro que isso é transparente, e o que deve ser feito tem que ser feito — declarou Jungmann.

INQUÉRITO “ESTÁ CAMINHANDO”

Antes do início do encontro, o ministro disse que o inquérito sobre o caso está “caminhando” e envolve oito equipes de investigadores da Polícia Civil:

— A polícia não deve dar informações para não prejudicar as investigações. Mas posso assegurar que ela está andando, há oito equipes envolvidas nisso. Sobretudo, aqueles que estão à frente têm, da parte da sociedade do Rio, o respeito e o reconhecimento da competência, porque no passado já desvendaram outros crimes, como o caso da juíza Patrícia Acioli e do (ajudante de pedreiro) Amarildo — afirmou Jungmann. —Vamos ter respostas sim, queremos encontrar os mandantes e executantes e colocá-los na cadeia.

Marielle e Anderson foram executados a tiros, no dia 14 de março, no Estácio. A vereadora, que tinha participado de um evento de mulheres negras na Lapa, estava indo para a casa. O grupo teria sido seguido pelos assassinos, que estavam num Cobalt prata. Uma assessora parlamentar de Marielle, que também estava no veículo, sobreviveu. Desde então, teve início uma onda de manifestações no Brasil e no exterior exigindo que o crime não fique impune.