O globo, n. 30918, 01/04/2018. País, p. 4

 

As estratégias de guerrilha a favor de políticos do Rio nas redes

Marco Grillo e Thiago Prado

01/04/2018

 

 

Principais lideranças do estado se beneficiaram de artimanhas virtuais nas últimas campanhas eleitorais. Perfis inflados e disseminação de acusações falsas foram algumas das táticas PMDB Site político ataca adversários do partido​.

Vencedor de cinco das últimas eleições para governo do estado e prefeitura do Rio de Janeiro, uma série de ações na internet para difamar adversários políticos beneficiou o PMDB. A origem de boa parte dos rumores que funcionaram em favor de campanhas peemedebistas era o site “Feijoada Política”, fora do ar desde 2014, quando Luiz Fernando Pezão foi reeleito para o Palácio Guanabara. Naquele ano, a página da internet publicou diversos textos atacando os então candidatos Lindbergh Farias (PT) , Anthony Garotinho (PRP) e Marcelo Crivella (PRB).

No segundo turno da campanha, a página fez circular uma informação falsa contra Crivella, o oponente a ser batido pelo PMDB. No Facebook do “Feijoada Política”, foi publicada uma versão de uma reportagem feita em 18 de outubro pela revista Veja que mostrava como o filho do atual prefeito do Rio, Marcelinho Crivella, havia sido beneficiado dos contatos políticos do pai para fazer crescer sua empresa de capital social milionário.

Dois dias depois, nasceu a fake news com base no texto. Para mais de 140 mil seguidores, o site ligado às campanhas peemedebistas publicou uma versão com informações que jamais estiveram na reportagem original. Na leitura feita pelo “Feijoada Política”, os negócios da família Crivella tiveram origem na lavagem de dinheiro das doações que a Igreja Universal recebia dos fiéis. Em 2012, durante a campanha pela reeleição de Eduardo Paes, o site inventou falsas conexões políticas do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).

O benefício que o submundo digital trouxe ao PMDB também acabou exposto pela Operação Lava-Jato. Em delação premiada homologada no ano passado, o executivo da Odebrecht Leandro Azevedo disse ter pago R$ 600 mil, em 2010, para a empresa Apto Comunicação, a pedido do deputado federal Pedro Paulo Carvalho. Naquele ano, as reais atividades da empresa foram tornadas públicas graças a um processo no Tribunal de Justiça do Rio. A Apto foi condenada judicialmente por difamar na internet as principais lideranças do DEM do Rio, na época rival do PMDB. Um rastreamento descobriu que a Apto criou mensagens vinculando o vereador Carlo Caiado, o deputado federal Rodrigo Maia e seu pai, Cesar Maia, ao mensalão do DEM de Brasília. Ao contrário da insinuação, o esquema, liderado pelo ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, não teve relação com Caiado e a família Maia.

Procurado, Pedro Paulo negou a relação com a Odebrecht e disse não conhecer a empresa Apto Comunicação. Luiz Fernando Pezão afirmou que não conhece o site “Feijoada Política” e que “abomina” o uso de notícias falsas. Eduardo Paes preferiu não se manifestar sobre o tema.