O globo, n. 30918, 01/04/2018. País, p. 10

 

Doze anos depois, Alckmin tem mais problemas do que em 2006

Silvia Amorim

01/04/2018

 

 

Desempenho pior em pesquisas e Lava-Jato desafiam candidatura tucana

Prestes a deixar o governo do estado de São Paulo para concorrer à Presidência da República pela segunda vez, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tem pela frente dificuldades maiores do que 12 anos atrás. Em março de 2006, Alckmin tivera de vencer uma disputa interna com José Serra pela vaga de candidato tucano ao Planalto e, na sequência, enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a popularidade em alta após seu primeiro mandato.

Agora, o governador paulista terá que contornar a performance fraca nas pesquisas eleitorais, a pulverização de pré-candidatos dentro do seu campo político e o rótulo de investigado na Lava-Jato.

Daqui a seis dias, Alckmin deixará o Palácio dos Bandeirantes com a mais baixa popularidade que já experimentou. Sua aprovação está em apenas 28%. Em abril de 2006, esse índice estava em 66%.

A receptividade da candidatura dele pelo eleitorado de São Paulo é vital para a sobrevivência na disputa. Político que mais tempo terá ficado à frente do governo de São Paulo — 13 anos —, Alckmin conta com os dividendos dessa hegemonia para abrir uma boa vantagem de votos no estado em relação aos adversários e chegar ao segundo turno. É aí que uma segunda dificuldade, que também não existia em 2006, se apresenta. Alckmin está perdendo a eleição em seu próprio estado. Quatro anos atrás, ele foi reeleito no primeiro turno vencendo em 644 dos 645 municípios paulistas, mas hoje perde para o deputado Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas. Em 2006, nesse período, Alckmin ocupava disparado o topo das sondagens, com 41% das intenções de voto.

Ameaçadora, a situação é monitorada por prefeitos aliados do pré-candidato com pesquisas feitas nas regiões metropolitanas do estado.

— Eleitores que votaram no PSDB nas últimas eleições estão declarando voto no Bolsonaro. Isso está acontecendo no nosso círculo de amigos, pessoas que sempre votaram no PSDB e agora estão dizendo que vão de Bolsonaro. Acredito que esse é um quadro facilmente reversível quando a campanha começar e ficarem evidente as fragilidades da candidatura do adversário — diz o prefeito de Ribeirão Preto, o tucano Duarte Nogueira.

ENTRE 6% E 11%

O cenário se repete em nível nacional. Doze anos atrás, Alckmin tinha cerca de 20% das intenções de voto em abril e aparecia em segundo lugar, atrás do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje ele patina entre 6% e 11%, a depender do cenário pesquisado.

A culpa, apontam aliados do governador, é do excesso de

pré-candidatos no mesmo campo político, outra novidade. O fenômeno tirou do tucano uma aliança com o DEM, seu parceiro no passado.

Ainda como PFL, em 2006 a sigla não era uma ameaça. Pelo contrário. Foi o único partido a apoiar oficialmente Alckmin na eleição presidencial. Houve até um debate sobre a conveniência do lançamento de um candidato próprio ao Planalto pelo PFL, mas o contexto era o oposto de hoje. Seria uma forma de pulverizar votos e forçar um segundo turno, pois havia preocupação de que Lula liquidasse a disputa no primeiro turno. O plano, entretanto, não se viabilizou.

Hoje, o DEM tem um précandidato próprio, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

— A relação com o DEM é completamente diferente hoje. O partido está mais independente e isso é algo com que ele (Alckmin) não precisou lidar lá atrás. É uma dificuldade nova — afirma um dos articuladores da campanha de 2006.

DISCURSO DE CORRUPÇÃO

O rótulo de investigado na Lava-Jato engrossa a lista de adversidades inimagináveis por Alckmin em 2006. Naquela eleição, pós-escândalo do mensalão, o discurso ético de combate à corrupção foi um dos pilares de sua campanha para tirar votos de Lula. Hoje, é um recurso esquecido, pois Alckmin é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal aberto após acusações de delatores da Odebrecht.

Em seu lugar, ganhará força o debate sobre segurança, assunto que não interessava a Alckmin em 2006. São Paulo havia sofrido naquele ano uma onda de ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) que deixou a gestão tucana na berlinda. O tema, agora, é usado como cartão de visita da candidatura do tucano diante da queda da taxa de homicídios no estado.

Em menor grau do que em 2006, a imagem exageradamente paulista de Alckmin é um dos problemas que resistem ao tempo. Por esse e outros motivos, ele busca um vice de outra região, preferencialmente do Nordeste. Também não muda a pressão para crescer nas pesquisas, um problema que dura 12 anos.

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Controle do PSDB e mais aliados dão fôlego

01/04/2018

 

 

Alckmin tem bons palanques em São Paulo e Minas Gerais

Comando do PSDB, palanques garantidos em São Paulo e Minas Gerais e uma coligação mais robusta são algumas das vantagens que o pré-candidato Geraldo Alckmin 2018 terá em comparação ao de 2006. Para aliados, ter o controle do partido no momento em que disputará a mais difícil eleição da sua vida dá a Alckmin uma tranquilidade que ele não teve em sua estreia nacional, 12 anos atrás.

Políticos que participaram da campanha tucana em 2006 lembram do isolamento político do governador no próprio partido. O racha interno é apontado por muitos como fator decisivo para a derrota vexatória para Lula no segundo turno — Alckmin teve menos votos do que no primeiro turno.

— Como ele não tinha apoio de fato das grandes lideranças do PSDB, era uma candidatura solitária. Hoje a situação é infinitamente melhor. Ele controla o partido e sua candidatura tem apoio majoritário — diz um ex-auxiliar.

O engajamento partidário maior também amplia a cobrança por uma vitória. Se perder, Alckmin dificilmente terá espaço dentro do partido para uma nova candidatura presidencial.

— O PSDB naquele ano fingiu que fez mas, na verdade, não fez campanha para o Alckmin. O Aécio (Neves) brincou de apoiá-lo — lembra o secretário nacional do PTB e amigo do tucano, Campos Machado.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) era candidato à reeleição como governador em 2006 e foi acusado de ter ajudado Lula em vez de apoiar Alckmin. Aliados do précandidato também se ressentem até hoje da postura pouco engajada do então candidato ao governo de São Paulo, José Serra.

PALANQUES MELHORES

São Paulo e Minas são os dois maiores colégios eleitorais do país. Para este ano, Alckmin tende a ter palanques mais sólidos e confiáveis com o prefeito paulistano, João Doria, e o senador Antonio Anastasia como cabos eleitorais.

A perspectiva também é boa para a aliança nacional. Se em 2006, Alckmin teve somente o apoio do PFL, hoje ele tem a expectativa de ter ao menos cinco siglas e mais tempo de TV.

Outro vento que sopraria a favor é o desgaste do PT.

— Em 2006, ele visitava o Nordeste e a gente sentia que era luta perdida. A Lava-Jato e a recessão econômica quebraram um pouco isso — avalia o assessor de imprensa de Alckmin naquela campanha, Luiz Salgado Ribeiro. 

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Planalto confirma Occhi na Saúde

Karla Gamba

01/04/2018

 

 

Dyogo Oliveira deixa Planejamento para presidir BNDES

O Palácio do Planalto confirmou ontem a posse de Gilberto Occhi, presidente da Caixa Econômica Federal, como novo ministro da Saúde. Nelson Antônio de Souza, vice-presidente de Habitação do banco, assumirá a presidência no lugar de Occhi. A cerimônia foi marcada para segunda-feira, às 10h30.

Temer também acertou ontem a ida do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, para o comando do BNDES. O ministro resistia, mas acabou aceitando substituir Paulo Rabello de Castro, que deixou o banco para se candidatar à Presidência pelo PSC. Segundo fontes do Planalto, assume o Planejamento o secretárioexecutivo da pasta, Esteves Colnago, nome indicado por Oliveira, que é ligado ao senador Romero Jucá (PMDB-RR).

A troca no comando da Caixa provocou disputa entre o Palácio do Planalto e o PP, partido de Occhi. Enquanto o presidente Michel Temer defendia que Occhi permanecesse no comando da instituição, a sigla queria que ele assumisse a Saúde, pasta com um orçamento bilionário que vinha sendo comandada por Ricardo Barros, também do PP. Barros quer ser candidato à reeleição como deputado federal.

O Planalto tentava não mudar o comando da Caixa para evitar pressões do Judiciário e do Banco Central para que os bancos públicos federais passem a ser conduzidos por profissionais com perfil técnico e não político. Na semana passada, Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acertaram uma mudança legal para que presidentes dessas instituições passem a ser submetidos ao BC.

O Ministério Público Federal, por sua vez, recomendou na semana passada que o substituto de Occhi fosse escolhido a partir de uma lista quíntupla formada por um serviço profissional de recrutamento. Isso acendeu o sinal amarelo no governo. A permanência de Occhi na Caixa seria uma forma de não ter que lidar imediatamente com as pressões para uma mudança no critério de escolha do presidente.

CASIMIRO TAMBÉM TOMA POSSE

Valter Casimiro Silveira, diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), também será empossado como ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil na semana que vem. Ele assumirá o comando da pasta no lugar de Maurício Quintella, que concorrerá a uma vaga no Senado.