O globo, n. 30930, 13/04/2018. País, p. 7

 

Na mira da PF, Temer pede a ministros que ignorem críticas

Karla Gamba e Bárbara Nascimento

13/04/2018

 

 

Presidente discute com advogados sua defesa no caso dos portos

-BRASÍLIA- Com índices de popularidade que não passam de 6% segundo as últimas pesquisas e investigado pela Polícia Federal, o presidente Michel Temer pediu ontem a seus ministros que “não se incomodem com as críticas”, sob o lema de manter a “continuidade dos trabalhos”. As declarações foram dadas na primeira reunião de Temer com sua nova equipe do primeiro escalão, com 11 novos ministros empossados após a reforma forçada pela saída dos que irão disputar as eleições.

As mudanças ocorreram na semana em que duas pessoas próximas de Temer, o advogado José Yunes e João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, são alvo de denúncia por envolvimento com propina supostamente vinculada ao PMDB.

— Não vamos nos incomodar com críticas. Enquanto protestam, a caravana do governo vai trabalhar — disse Temer.

O presidente viajou à tarde para São Paulo, onde se encontrou com seus advogados para tratar das investigações sobre decreto que teria beneficiado empresas do setor portuário. Em reportagem publicada ontem pelo jornal “Folha de S.Paulo”, mais um fornecedor confirmou o pagamento em dinheiro, feito pela arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel Lima, pela obra de reforma da casa de uma das filhas de Temer, em São Paulo. A Polícia Federal investiga se a reforma seria um pagamento indevido ao presidente.

MARUN DEFENDE O PRESIDENTE

Yunes e o coronel Lima foram incluídos na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra integrantes do que o MPF chama de o “quadrilhão do PMDB”. Os procuradores chegaram a pedir a prisão preventiva dos dois amigos de Temer, mas a Justiça Federal rejeitou o pedido.

O ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, se encarregou de defender Temer, a quem chamou de “o maior presidente da História do país por hora de mandato.” Segundo Marun, Temer enfrenta a “maior perseguição já sofrida por um presidente no exercício do seu mandato”.

— O presidente Temer é o maior presidente da História desse país por hora de mandato. Nunca houve um governo tão eficiente quanto o nosso. E isso foi conquistado em meio a maior perseguição já sofrida por um presidente da República no exercício do seu mandato. Eu vejo muitas dessas questões como capítulos dessa perseguição. Essa falta de cautela, a agressividade de alguns setores ao se referirem ao presidente sem prova nenhuma — defendeu Marun.

Na reunião, o presidente advertiu os novos ministros que o governo trabalharia com a continuidade e que não seria "razoável nem admissível” modificar o que estava sendo feito.

— É o trabalho da continuidade, ou seja, que nós possamos prosseguir com os mesmos programas e as mesmas vitórias que nós temos tido. Ressalto a palavra continuidade porque às vezes um ministro pode chegar e entender que possa modificar a estrutura ou os programas do ministério, e isso, neste momento, não é razoável nem admissível — afirmou o presidente na abertura da reunião.

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Marun recua sobre saída de Barroso

13/04/2018

 

 

Conversa com Temer fez ministro desistir de impeachment

-BRASÍLIA- O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou ontem que desistiu de apresentar o pedido de impeachment contra o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). No mês passado, ao criticar as decisões de Barroso sobre a quebra de sigilo bancário do presidente Michel Temer e sobre o decreto de indulto de Natal, Marun disse que se licenciaria da secretaria e retornaria à Câmara como deputado para apresentar um impeachment contra Barroso.

De acordo com o ministro Marun, o presidente Temer ponderou que não gostaria que o impeachment de Barroso fosse visto como uma “ação do governo”. Barroso é relator, no Supremo, do inquérito que investiga supostas irregularidades em um decreto portuário assinado por Temer.

— Conversei com o presidente na segundafeira a respeito disso e pedi que ele me licenciasse por alguns dias para que eu pudesse apresentar esse pedido de impeachment. Todavia, o presidente entende que não há como, que não é o fato de eu licenciar e apresentar esse pedido na condição de parlamentar que vai afastar a impressão de que isso seria uma ação do governo. E ele não gostaria que isso se transformasse em uma ação de governo, até porque não é nesse momento o pensamento do governo — disse. — O pensamento do governo é pela pacificação. Então eu estou reavaliando e não devo fazer nos próximos dias e não devo fazêlo, pelo menos enquanto for ministro — argumentou Marun.

No entanto, Carlos Marun manteve as críticas e disse que tinha convicção de que Barroso “desrespeitava a Constituição”:

— Eu tenho convicção de que em vários momentos o ministro Barroso tem desrespeitado a Constituição e tem deixado que as suas preferências político-partidárias se revelem nas suas decisões. (Karla Gamba e Bárbara Nascimento)