O globo, n. 30930, 13/04/2018. Rio, p. 10

 

Petrópolis: vereador preso escondia dinheiro na banheira

13/04/2018

 

 

MP apura se presidente da Câmara chefiava esquema de pagamento de propina na Casa

O presidente da Câmara de Vereadores de Petrópolis, Paulo Igor da Silva Carelli (PMDB), foi preso ontem, sob acusação de fraude em licitação e peculato, na operação Caminho do Ouro, realizada pelo Ministério Público e pela Delegacia Fazendária (Delfaz), da Polícia Civil. O vereador Luiz Eduardo Francisco da Silva, o Dudu (PEN), acusado dos mesmos crimes, não foi encontrado pelos policiais e é considerado foragido.

Na casa de Paulo Igor, os policiais apreenderam R$ 155 mil e 10.300 dólares em espécie. O dinheiro estava escondido na bomba da banheira de hidromassagem, em uma gaveta da mesa de cabeceira e dentro de um carro. Parte do dinheiro estava separado em maços e preso a papéis contendo nomes ou siglas, o que pode levar a polícia às pessoas que receberiam os valores.

SUSPEITA DE “MENSALINHO”

O Ministério Público agora investiga se as letras encontradas presas aos maços de dinheiro pertencem aos outros vereadores de Petrópolis. Algumas iniciais coincidem. De acordo com o promotor Alexandre Araripe, o MP tentará descobrir se Paulo Igor comandava um esquema de distribuição de propina, uma espécie de “mensalinho”, na Câmara de Petrópolis. O presidente da Câmara foi levado preso para a Delegacia Fazendária, no Rio.

Na operação, foram encontrados outros R$ 238 mil em espécie na casa do empresário Wilson da Costa Ritto Filho, o Júnior, alvo da operação. Gabinetes da Câmara foram objeto de busca e apreensão. De acordo com a denúncia, Paulo Igor combinou com o empresário, com ajuda de Dudu e outros cinco envolvidos, o direcionamento da licitação 03/2011, que gerou um contrato de R$ 4,49 milhões entre Câmara e a empresa Elfe Soluções em Serviços.

Segundo o MP, entre as irregularidades há um sobrepreço de 25,4% na licitação. O contrato, iniciado em janeiro de 2012, abrangia a prestação de serviços como limpeza, conservação, higienização, reprografia, vigia, jardinagem, recepção, telefonia, motorista, manutenção predial e operação de áudio e vídeo, além de fornecimento de materiais de consumo e equipamentos para as atividades da Câmara pelo período de um ano.

LICITAÇÃO DIRECIONADA

Entre os envolvidos há funcionários da Câmara. De acordo com o MP, Paulo Igor e seu ex-chefe de gabinete, Bruno Pereira Macedo, responsável pelo processo administrativo que levou à licitação, deixaram de dar publicidade ao certame, como manda a lei. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) também apontou outra irregularidade: foram consultadas para pesquisa de preços as mesmas três empresas que ofereceram propostas pelo contrato.

O Ministério Público descobriu que os sócios das três empresas que apresentaram propostas na licitação já pertenceram aos quadros societários umas das outras. Alguns têm vínculos familiares. Para o MP, ficou evidente que as ilegalidades na licitação, especialmente as relativas à falta de publicidade, tinham o objetivo de eliminar a competição e direcionar a licitação em favor da empresa de Ritto Filho.

O ex-chefe de gabinete de Paulo Igor está entre os denunciados, assim como o empresário. Por determinação da Justiça, os sigilos bancário e fiscal dos denunciados foram quebrados e os vereadores, afastados das funções públicas. O presidente da Câmara de Petrópolis, Paulo Igor Carelli: na casa dele, a polícia encontrou maços de dinheiro com nomes ou siglas O vice-presidente da Câmara, Roni Medeiros, assumirá a presidência.

Segundo as investigações, Paulo Igor e Dudu eram amigos do empresário. Ritto Filho foi responsável por financiar, por meio de doações, mais de 90% das campanhas eleitorais de Dudu para a Câmara de Vereadores em 2008, e para deputado estadual, em 2010.

Ritto Filho foi o represente legal da Elfe e vice-presidente do grupo Facility, que teve R$ 3 bilhões em contratos com o governo do Rio no mandato de Sérgio Cabral, preso na Operação Lava-Jato. Hoje, o Facility se chama Grupo Prol e mantém contratos com o governo Pezão.

O advogado de Paulo Igor disse que ele é inocente. Em nota, a empresa Elfe informou que Ritto Filho foi afastado da direção da empresa em agosto de 2015, e que está colaborando com as investigações: “Condizente com sua total transparência, a Elfe vem prestando prontamente todos os esclarecimentos solicitados pela Justiça, desde que tais investigações se iniciaram, há mais de cinco anos. A empresa esclarece que, desde 2012, quando se encerrou o referido contrato com a Câmara Municipal de Petrópolis, não possui mais nenhum contrato com qualquer órgão da administração pública direta. Em 2016, já sob nova administração, a empresa foi a primeira de seu setor no Brasil a obter as certificações ISO de sistemas de compliance e antissuborno. O empresário citado se afastou da empresa em agosto de 2015.”