Título: FMI cobra mais investimentos
Autor: Cristino, Vania
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2012, Economia, p. 15

Ao contrário do incentivo exagerado ao consumo, o Brasil deve aproveitar o momento de juros em queda para incentivar o aumento da poupança interna e o investimento, cobraram ontem, em Brasília, os economistas Dimitri Demekas, do Fundo Monetário Internacional (FMI), e Augusto de La Torre, do Banco Mundial (Bird). Embora tenham admitido que o país obteve importantes avanços na estabilidade financeira dos últimos anos, os técnicos dos organismos multilaterais, que fizeram uma nova visita de avaliação periódica ao país (a primeira foi em 2002), criticaram a preferência pelo estímulo ao crédito de curto prazo no lugar dos financiamentos de longa duração, responsáveis pelo crescimento da economia.

"O aumento do crédito permitiu a inclusão de muitos consumidores no mercado, mas isso traz riscos, porque as famílias podem ficar com excesso de dívida. Nossa ênfase é a mudança de foco. Em vez de dar estímulo ao crédito ao consumidor, é preciso incentivar os investimentos de prazo mais longo, como a área de seguros e o crédito habitacional", afirmou La Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina. Demekas, diretor assistente de Supervisão Financeira do FMI, reforçou que o Brasil se encontra em uma conjuntura favorável para promover e aprofundar as mudanças necessárias ao seu desenvolvimento.

Migração Para o Bird, o maior desafio do país está em alongar os investimentos de curtíssima duração para médio e longo prazos. "O mercado de longo prazo está subdesenvolvido no Brasil", afirmou La Torre. A seu ver, o país pode fazer essa migração lançando mão, por exemplo, dos fundos de pensão, considerados investidores institucionais. Mas mesmo entre essa categoria de instituições, existem as que preferem as aplicações de curto prazo, ligadas à variação da taxa básica de juros (Selic).

De acordo com La Torre, os fundos de pensão com planos de benefício definido, a exemplo dos antigas fundações de empresas estatais, têm preferência pelos investimentos de longo prazo porque temem o risco de não conseguir os recursos necessários para pagar as aposentadorias de seus participantes. Mas as fundações com planos de contribuição definida pensam diferente. Como o risco é do participante, que só receberá a aposentadoria que conseguir acumular, as aplicações de curto prazo são uma grande tentação. Por conta disso, La Torre pediu ao governo brasileiro medidas regulatórias a fim de ampliar o horizonte de investimento dos fundos de pensão.

Ele observou ainda que, para crescer, o Brasil precisará de um percentual de investimento maior. A taxa, calculada em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), caiu no ano passado, para 19,3%, na comparação com 2010, quando fechou em 19,5%. A meta do governo é de que o índice alcance 24% do PIB em 2014.

Independência à Susep e à Previc O diretor assistente do FMI, Dimitri Demekas, criticou a forma como o governo brasileiro escolhe o alto escalão da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). "Juridicamente, a Susep e a Previc não têm o mesmo grau de independência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)", destacou. Segundo Demekas, requisitos profissionais e motivos para demissão não são muito claros. "Esperamos que o governo brasileiro avance no sentido de tornar esses órgãos semelhantes à CVM, seguindo, assim, padrões internacionalmente aceitos", justificou. As duas autarquias são vinculadas ao Ministério da Fazenda — caso da Susep — e ao Ministério da Previdência Social — situação da Previc.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 22/03/2012 02:34