O globo, n. 30929, 12/04/2018. Economia, p. 22

 

Aposentadorias respondem por um quinto da renda domiciliar

Cássia Almeida

12/04/2018

 

 

Desemprego alto explica aumento da participação, diz analista

A pesquisa sobre rendimentos dos brasileiros divulgada ontem pelo IBGE mostra que as aposentadorias e pensões têm forte peso no sustento das famílias. Na média, 19,8% da renda da população vêm dessa forma. A participação subiu em 2017. No ano anterior, esse tipo de rendimento equivalia a 18,7%. No Nordeste, o peso é ainda maior: 23,8% em 2017.

Segundo o economista Paulo Tafner, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, esse peso de um quinto do rendimento domiciliar é similar ao encontrado em Escandinávia, França, Alemanha e outros países europeus:

— É um padrão muito alto e similar ao de países europeus que têm uma população muito mais envelhecida que a nossa. Isso é grave. A continuar nesse ritmo e com uma perspectiva de déficit fiscal que trava o crescimento, teremos um grupo pequeno de trabalhadores sustentando um enorme sistema de previdência.

Segundo Tafner, outra explicação é a crise econômica. Com o desemprego alto, a renda do trabalho cai — passou de 74,8% para 73,8% no rendimento total das famílias —, o que faz a parcela recebida de aposentadorias e pensões aumentar:

— Em situação de estabilidade, a parcela costuma ser menor.

 

29 MILHÕES DE BENEFICIÁRIOS

O economista afirma que em outros países que têm perfil demográfico semelhante ao do Brasil, como Chile e Argentina, as parcelas no rendimento dessas transferências do governo são menores, entre 8% e 10%:

— Dado que o país ainda é jovem, a participação deveria oscilar nesse patamar de 10%.

No total da população, são 29,141 milhões de pessoas recebendo aposentadorias e pensões, alta de 2% frente a 2016.

O peso de aluguéis e arrendamento na média nacional ficou em 2,4%, e o dos benefícios sociais, como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), em 3,3%.

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Cai número de lares que recebem Bolsa Família

12/04/2018

 

 

Em 2017, 330 mil domicílios perderam o benefício, afetando 1,5 milhão de pessoas

-RIO E TERESINA- Em 2017, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 1%, a parcela de domicílios que recebiam Bolsa Família caiu. Passou de 14,3% em 2016 para 13,7%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc). Essa queda significou menos 330 mil domicílios com o benefício. Como a média de moradores nos lares que recebem a ajuda do governo é maior — 4,8 pessoas, enquanto nos demais são 3,7 — isso indica que cerca de 1,5 milhão de brasileiros deixaram de contar com o Bolsa Família. O Nordeste concentrou a maior parte das famílias que perderam o benefício: menos 130 mil, 40% do total.

O Bolsa Família é mais presente no Nordeste, onde 28,4% têm o benefício. No Norte, são 25,8%.

Também não houve reajuste no valor do benefício. No Brasil, o dinheiro de Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC) representa 3,3% da renda familiar. O trabalho continua sendo a principal fonte: 73,8% dos rendimentos, enquanto aposentadorias e pensões são 19,4%.

Irenilda Dourado, de 33 anos, parou de receber R$ 120 do Bolsa Família no ano passado, depois que perdeu a certidão de nascimento da filha numa enchente. Hoje, pede comida na rua para alimentar os dois filhos. Ela participava do programa desde 2013.

— Consegui tirar outra certidão, fiz novo cadastro, mas nunca mais recebi o Bolsa Família. faz muita falta — conta ela.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, a folha de pagamentos do Bolsa Família flutua mensalmente em virtude dos processos de exclusão e inclusão. Estas dependem do quantitativo de famílias habilitadas e estratégias de gestão da folha. (Cássia Almeida e Efrém Ribeiro, especial para O GLOBO)