Correio braziliense, n. 20084, 18/05/2018. Política, p. 2
"Com oito nomes no centro, ninguém chega"
Michel Temer, Ana Dubeux, Denise Rothenburg, Leonardo Cavalcanti e Vicente Nunes
18/05/2018
Ao fazer um balanço dos dois anos de gestão, presidente emedebista diz que não errou no episódio Joesley Batista e afirma que os governistas devem firmar um pacto por nome único ao Planalto. Sobre a impopularidade, se diz vítima de campanha contra ele e as reformas
Um ano depois da divulgação do áudio gravado pelo empresário Joesley Batista — pivô do maior escândalo do atual governo —, o presidente Michel Temer chama o episódio de “embaraço do dia 17 de maio”, mas diz que, se houve um erro, não foi dele. “O erro foi ele gravar. Recebi inúmeras pessoas no Jaburu e não colocava na agenda. Foi um descuido meu, mas não que tenha sido um gesto criminoso, absolutamente não”, disse o emedebista durante entrevista ao Correio, no final da manhã de ontem, no gabinete presidencial, terceiro andar do Palácio do Planalto.
Ao fazer uma retrospectiva dos dois anos de mandato, Temer tem na ponta da língua avanços na economia por causa de reformas e de repactuações de acordos com estados e municípios, além de medidas como a liberação do FGTS. Mas também elenca acertos nas áreas de educação, saúde, meio ambiente e segurança. Diz, porém, não conseguir entender os altos índices de impopularidade. “Se vocês colocarem entre aspas, acho que as pessoas não vão com a minha cara”, brinca, e, logo depois, emenda, sério: “Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha que é feita contra mim”.
Sobre a candidatura ao Planalto, Temer diz que está “meditando”, mas abre espaço para o debate de um candidato do centro. “Eu penso que todos os candidatos tinham de abrir mão para firmar um pacto em torno de um só candidato”, afirmou Temer, considerando que este nome pode até mesmo não estar entre os anunciados até agora. Com base nas pesquisas atuais, vê força em Jair Bolsonaro, Ciro Gomes ou Marina Silva. “Isso significa que precisamos ter um único candidato de centro.”
Como o senhor quer ser julgado pela história?
Olha... Pergunta difícil. Quero ser julgado como alguém que passou por aqui, colocou o Brasil nos trilhos, permitiu uma sequência governamental. Lamento não ter conseguido ainda a reforma da Previdência. E também quero ser lembrado como alguém que manteve, digamos, os critérios democráticos. Há poucos dias ouvi de um colega de vocês, da imprensa, que via algo incrível. Batiam em mim, e ainda assim eu mantinha a liberdade de imprensa. Porque existe uma ordem constitucional, que assim determina. Distingo as pessoas das instituições, todos vamos passar, as instituições permanecem. Eu quero ser lembrado, assim, como alguém que, apesar das agressões, não respondeu com agressão. Vocês se lembram na Argentina, por exemplo, a ex-presidente tentou fechar empresas… Jamais isso me passou pela cabeça, por mais que, no plano pessoal, eu considerasse uma injustiça. Prego uma reinstitucionalização do país, perdemos um pouco esse sentido, essa noção. Estamos fazendo essa integração na segurança pública, por exemplo. Criamos esse ministério porque já tínhamos levado a garantia da lei e da ordem para 11 estados brasileiros, alguns duas, três vezes. Sem entrar nas competências dos estados, estamos fazendo esse trabalho e colocando também verbas, o BNDES está colocando quase R$ 40 bilhões para estados e municípios brasileiros. Fizemos reuniões dos governadores e prefeitos das capitais, reuniões das empresas… Das igrejas, até. Para pôr todo mundo nessa história da segurança, e acho fundamental, porque quando fui secretário da primeira vez, me lembro que criei os conselhos comunitários de segurança, que era o sujeito, digamos de capital, que inclui as associações de bairro. Falo isso para dizer que quero ser lembrado assim. Agora, se também quiserem lembrar de outra maneira, não tem importância.
O senhor sente algum tipo de mágoa, se chateia com a alta impopularidade?
Zero mágoa, agora vejo naturalmente um critério injusto. Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha que é feita contra mim, então, sei lá, tem 6 milhões de pessoas que podem achar que sou uma boa pessoa, têm 200 que são bombardeados diariamente pelo noticiário. Você vê, não há uma notícia positiva divulgada. Nisso não se dá crédito.
A divulgação da gravação do Joesley Batista completou um ano hoje (ontem). A popularidade piorou desde então?
Naquela data já não tinha muita popularidade, estava muito em alta a pauta da Previdência, e a campanha contra mim era uma coisa feroz. Aquilo não me dava popularidade, mas não me incomodava.
Foi um erro receber o Joesley naquele horário, daquele jeito?
Não. Disso não há dúvida, o erro foi ele gravar. Pelo seguinte, eu recebi gente lá no Jaburu, inúmeras pessoas. Empresários, gente da imprensa, às vezes, ia jantar às 22h30. E não estava na agenda, e até outros empresários.. Não colocava na agenda. Esse foi um descuido meu, mas não que tenha sido um gesto criminoso, absolutamente. Sobretudo, o caso do Batista… Era a quinta vez que se procurava audiência comigo e não pude atendê-lo, por razões factuais. Quando ele ligou aqui, tinha uma homenagem para ir. Quando ele mandou ligar, falei para mandar vir naquele momento. Mas não chegou a vir, talvez, porque seria detectado por causa do gravador, não sei. Eu disse que só podia 21h, 22h, depois da homenagem ao jornalista Noblat. Mandei dizer que precisava sair e fui lá na homenagem, depois fui para casa e o esperei lá. Mas fiz isso com ele e mais 200 pessoas. Se todos gravassem… Sei lá.
Se o episódio de Joesley não é o motivo, qual a explicação para a impopularidade?
Não sei, não consigo entender bem o porquê. Talvez porque eu não seja um sujeito de gestos populistas. Desde a época da faculdade, da procuradoria… Sempre fui muito discreto. Não sei me portar como se fosse um carro alegórico, tem gente que consegue. Eu dificilmente dou lead (informação quente e direta para uma reportagem), porque sou muito explicativo. É aquela mania de explicar tudo, não sei qual a razão. Quando tem uma campanha muito grande contra o governo, as pessoas acham que sou um tirano, deseducado… Aliás, o que falta ao Brasil, é educação cívica, uma certa liturgia, uma certa cerimônia entre as pessoas. Porque hoje o desapreço e o desprezo pela autoridade são muito grandes. Isso é ruim, nos EUA você não chama ninguém pelo primeiro nome, é Mr. Trump, Mr. Clinton… Aqui não, é Michel, Dilma… Quando se fala em abuso de autoridade, pensam que alguém ofendeu o presidente da República, da Câmara… Se não perceberem que a única figura que tem autoridade no país é a lei, você não consegue resolver o assunto, a Constituição bem ou mal nasce da soberania popular. Agora, se você votasse uma lei que falasse “toda vez que alguém descumprir o texto constitucional, quando for autoridade pública, você está abusando da autoridade”, o mundo seria outro.
O senhor é candidato?
Ainda estou meditando.
O senhor já está meditando há muito tempo, não?
Eu tenho o que dizer. Quem se opuser ao governo, vai ter que dizer que é contra o teto dos gastos, que não tem preocupação com o país; que é contra a inflação ridícula de 2,8%, porque é a favor de 10,28%; que é contra a redução dos juros de 14,25%, para 6,5% porque quer juros mais elevados; que é contra a recuperação das estatais, a Petrobras, a Caixa Econômica;, contra a modernização trabalhista porque “temos que manter a consolidação de 1943”. Vai ter que dizer isso! Não vi ninguém ainda… No caso da reforma da Previdência, estávamos preparados para votar e aconteceu o embaraço em 17 de maio e paralisou tudo. Foi algo estupendo, que paralisou o país. Embora achassem que eu renunciaria, estamos aqui e faz um ano. Não vi ninguém falar, e ninguém cobrar, o que se fará com a Previdência. Porque, embora tenha saído da pauta legislativa, não saiu da pauta política. Só sairá se não cobrarem… Não é possível mais esse disfarce. Quando formulamos um documento chamado “Ponte para o futuro” era para conciliar com o governo anterior. Quando apresentamos, Levy (Joaquim) era o ministro da Fazenda, e até me telefonou, dizendo que existiam pontos formidáveis. Mas o governo, não sei porquê, tomou aquilo como gesto de oposição. Quando assumimos, cumprimos quase tudo aquilo que está no projeto. Agora, lançaremos outro, “encontro com o futuro”. O que ocorre numa campanha eleitoral é que as pessoas dizem algumas coisas e quando chega o governo, não cumprem. Nós, não, cumprimos e pretendemos cumprir no próximo. Não fui eleito diretamente, como cabeça de chapa, fui eleito indiretamente como vice. Mas concluí um programa, e tive coragem de concluir.
A divisão de candidatos de centro não pode levar à derrota nas urnas para esse grupo?
Acho que o afunilamento se dará no fim de junho, começo de julho. Hoje todos os candidatos percebem que há um grande vácuo, então, todos querem e acham que podem chegar lá. Sou contra os rótulos, né? Esse negócio de esquerda, direita, isso não existe mais. O que o povo quer é uma política de resultado, se ele vem de quem é de esquerda, direita, centro, não importa. Usam-se os rótulos, de qualquer maneira. Seria extremamente útil que tivéssemos um candidato de extrema esquerda, extrema direita e de centro. O eleitor vai escolher em face dos projetos. Agora, se no chamado centro tivermos oito, nove candidatos, ninguém vai chegar lá.
Não sendo o senhor o candidato do governo, quem vai ser?
Meirelles (Henrique) é outra opção, veio para o MDB com esta intenção, até muito adequadamente, dizendo que a decisão era minha. Isso dá uma tese da continuidade, não vai mudar o que está hoje, pelo contrário, vai prosseguir. Como disse, não vi nenhum candidato falando que faria a reforma da Previdência, pelo contrário, o que eu vi foi: “Vou destruir tudo que o Temer fez”.
O senhor acha que Meirelles tem chance com 1% nas pesquisas?
É cedo, muito cedo ainda. Essa coisa de pesquisa de hoje não é uma pesquisa de três dias antes da eleição.
Os candidatos que defenderam o impeachment e, na sequência, formaram a base ou integraram o governo apresentam dificuldades nas pesquisas. O senhor vê alguma relação?
Acho que os candidatos estão olhando o futuro, essa coisa do impeachment não existe mais. Acho que ninguém mais olha o passado. É página virada.
O eleitor está mais pragmático?
Acho, o eleitor vai olhar o candidato ou o projeto que interesse a ele. Essa coisa de dizer que o eleitor vota ignorantemente não é mais verdadeiro. Ele olha com muito cuidado o que vai fazer.
Existe um desprezo pela classe política?
Existe um desprezo pela classe política, isso não há dúvida. A renovação do Congresso, por exemplo, a sensação que tenho é que ela não será muito grande. Por uma razão singela: não tem dinheiro na praça. São aqueles nomes mais conhecidos, que já percorreram municípios.
O fundo partidário vai ajudá-los?
Vai ajudar.
A política antiga ainda vai sobreviver nessas eleições?
Tenho a impressão de que é isso que vai acontecer.
O senhor acha que dificilmente teremos uma renovação de quadros no Congresso?
Não vejo isso (renovação), não sei se vocês veem. São duas coisas distintas. Uma é a eleição do Congresso, a outra a história do centro, da disputa ao Planalto. Eu penso que todos os candidatos de centro tinham que entrar numa tese e dizer que está disposto a abrir mão, num pacto, para ter um candidato. Até porque pode ser que não seja nenhum dos que estão aí, a começar por mim.
O senhor tem disposição de abrir mão?
Sem dúvida alguma, se tiver um candidato… De repente, pode ser eu! Mas pode ser outro, ou alguém de fora.
Mas quem vai liderar esse pacto?
Deixa dizer uma coisa… Comecei a liderar isso, e até o ex-presidente Fernando Henrique esteve comigo em São Paulo, e ele partilha da mesma tese, de que o ideal seria isso. Eu falei com alguns e sinto que ainda não é o momento.
O senhor falou com o Alckmin?
Falei com o pessoal dele, que me procurou. Agora, ninguém vai se definir. Mas vai haver o momento do afunilamento, que acho que é no final de junho, começo de julho.
O senhor acha que vai ser quem no segundo turno? Um candidato de centro ou esquerda? Ou veremos um Ciro Gomes e Bolsonaro?
Se eu me pautar pela pesquisa de hoje, será o Bolsonaro e o Ciro. Ou Marina.
O que isso representa para o país, ter um candidato de extrema-esquerda e outro de extrema-direita?
Significa que precisamos ter um candidato de centro.
A campanha atrapalha a economia?
Acho que o clima eleitoral ou pré-eleitoral atrapalha a economia. O empresário investe se tiver certeza do que vai acontecer, quando começa um clima de insegurança, que convenhamos não é só deste período. Podem pegar as eleições anteriores, onde diziam que se fulano ganhar, iam voltar pra Miami. Esse clima de insegurança se repete e, talvez, com mais força. Isso atrapalha a economia. Mas não ao ponto de paralisar, senão não teríamos tido aumento de 40% na produção automotiva, 77% de venda de caminhões... Essa história do terceiro turno do trabalho que a Fiat e a Toyota fizeram significa mais de 2 mil empregos. Então, a economia não parou. Mas há uma tentativa de paralisá-la.
E quem tenta isso?
O clima geral.
Mas o senhor identifica algum grupo?
Acho que os candidatos que dizem que vão eliminar tudo que foi feito é uma tentativa de paralisar a economia. Ela cresceu porque fizemos o teto, a reforma trabalhista…
O que o senhor coloca como o ponto alto desses dois anos de governo?
Insisto na reforma que foram feitas no país. Começando pelo teto de gastos, reforma trabalhista e do ensino médio, recuperação das estatais… Tudo isso resultou na queda da inflação, dos juros. Essa história do emprego também é algo curioso. Sempre se diz que o desemprego não diminuiu. E diminuiu. Em janeiro deste ano houve cerca de 79 mil carteiras assinadas, fevereiro, 69 mil, em março, 59 mil carteiras assinadas. Em 2015, o número ativo de desempregados era de 1,5 milhão. Em 2016, 1,2 milhão. Agora, em 2017, os dados de dezembro, eram menos 20 mil. O IBGE disse que aumentou, e não entendi bem aquilo, chamei o pessoal do Ministério do Trabalho e da área econômica e eles me explicaram o seguinte: quando você está muito desalentado e não tem chance de emprego, eles não procuram. Quando surge um certo alento, as pessoas procuram. Também não tem emprego para todo mundo, e quando não tem, o IBGE contabiliza como desempregado. É claro que mesmo no cálculo do IBGE caiu o desemprego. O que devemos contar é que temos dois anos de governo, e pegamos uma recessão que vocês conhecem melhor do que eu.
Como assim?
Quando pegamos o país, o PIB era menos 3,6% (2016). Em 2017, foi mais 1,1%, portanto, 4,7% de recuperação. Neste ano, fala-se de 2%, 2,5%. Mas de qualquer maneira, uma recuperação fruto das reformas. Isso na economia. Meio ambiente, por exemplo, fizemos a maior reserva marinha que o mundo já conheceu — a que temos hoje equivale a reserva da França e da Alemanha. Veja o que fizemos com a Chapada dos Veadeiros, que aumentamos em 400%. Veja, Alcatrazes, que delimitamos como área ambiental. As multas ambientais transformamos em valores para o meio ambiente no pantanal. Zequinha (Sarney, ex-ministro do Meio Ambiente) fez uma exposição e ele dizia: “Olha, há muito tempo não se fazia isso no Brasil, o desmatamento caiu de 12 a 13%”. Na educação, muitos consideravam anacrônico o ensino médio. Passou-se um período de 20 anos, e nada da reforma do ensino médio. Mendonça (Filho, ex-ministro da Educação) me trouxe a hipótese de uma nova lei, e disse para recolher tudo que foi discutido na Câmara, no Senado, nesses 20 anos, pegar os pontos centrais para a reforma, e vamos fazer uma medida provisória. Quando fizemos a cerimônia (de sanção da lei), Mendonça trouxe os secretários, 96% aprovando a reforma.
Mesmo os adversários?
Mesmo os adversários, todos os estados. Fizemos 500 mil vagas do ensino em tempo integral, a tendência é chegar em 1 milhão de vagas e prosperar. Quando fui a Davos, fiz um discurso no papel e falei isso, e um dos temas era exatamente esse. Um europeu me falou: “Olha, o senhor não fala isso aqui não, porque aqui na Europa todo mundo tem ensino integral”. Falei, pois é, então estamos perfilhando a tese dos países desenvolvidos.
Então, nós ainda estamos atrasados?
Ainda estamos atrasados. Se eu pegar saúde, por exemplo, primeiro que, de fato, o ministro Barros (Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde) é um bom gestor. E economizou milhões de reais, que permitiram a compra de muitas ambulâncias. Vocês vejam, há mais de 7 anos, não se distribuíam ambulâncias para o Samu. Distribuímos 300 neste ano, mais 800 no ano passado, e tem mais 1,5 mil para serem entregues neste ano. De igual maneira, mais de 12 mil gabinetes odontológicos. Consertamos certas coisas. Por exemplo, o auxílio-doença. Quando chegamos aqui, mais ou menos há 2 anos e meio não se fazia a revisão disso. Auxílio-doença é assim, você tem uma pneumonia, solicita o auxílio, quatro ou cinco meses depois você tá em ordem e volta ao trabalho, não se fez isso. Quando se atingiu mais ou menos 50% da revisão, houve uma vantagem na recuperação de cerca de R$ 3 bilhões de reais. Fizemos coisas aparentemente triviais, por exemplo, liberar o fundo de garantia (FGTS) das contas inativas. Isso injetou R$ 44 bilhões na economia; e beneficiou 25 milhões de trabalhadores. Agora que liberamos o PIS/PASEP, que nós reduzimos a idade para você requerer, antes era 70 anos para homem em mulher, agora é 60 anos. Isso já está liberando R$ 4 a 5 bilhões para a economia. Coisas mais singelas, é interessante você pegar a história, havia uma crítica porque os órgãos a serem transplantados precisavam esperar as companhias aéreas e, quando chegavam, já não era mais possível transplantar. Quando vi aquilo, botei um avião da FAB só para fazer isso, e isso salvou centenas de vidas, porque os órgãos são transportados imediatamente. Você pega o Bolsa Família, quando cheguei não se dava aumento havia dois anos. Recentemente, demos um aumento acima da inflação. Parece pouco, mas você coloca isto para 14 milhões de famílias, isso tem um significado na venda, armazém, mercadinho… Nós zeramos a fila do Bolsa Família!
Mas, voltando à popularidade, porque esse trabalho não está refletido nela?
Se vocês colocarem entre aspas, acho que as pessoas não vão com a minha cara. Porque não é possível... Voltando ao que fizemos, nas estatais, a Petrobras teve um lucro neste trimestre de R$ 7 bilhões, anos atrás estava desmoralizada, era quase, se me permite, um palavrão. Quando chegamos aqui, a ação do Banco do Brasil valia R$ 15, hoje vale R$ 45; portanto, um patrimônio que era de R$ 35 bi, passou a ser de R$ 125 bi. A Caixa Econômica deu lucro, Correios, que era um desastre, fecharam com balanço positivo. A recuperação das estatais foi feita com muita firmeza. No aspecto federativo, desde o primeiro momento, eu disse: “Vivemos em uma federação disfarçada, capenga, meia sola e vou cuidar disso”. Chamei os estados, que há muito tempo estavam ansiosos para a repactuação da dívida. Fizemos a repactuação, e, claro, a fixação de um valor máximo de R$ 500 milhões por mês. O estado de São Paulo, por exemplo, pagava um bilhão e pouco. Então, deixou de pagar por seis meses cerca de R$ 500 milhões por mês. Ou seja, naquele semestre ele economizou R$ 3 bilhões, que foram reinvestidos no estado, e assim em todos estados brasileiros. Em 2016, os municípios não conseguiam fechar o seu balanço, fizemos a tal da repatriação. Fiz uma Medida Provisória partilhando as multas com estados e municípios. Com isso, eles conseguiram fechar o balanço. No ano passado, os municípios vieram aqui e disseram que não conseguiriam fechar de novo. Disse que não conseguiria ajudar em dezembro, mas tomaria providências de modo que brevemente recebessem R$ 2 bilhões por meio do fundo de participação, e assim foi feito em fevereiro. É uma tentativa de recuperação do princípio federativo, embora eu ache — e quero levar adiante — que possamos fazer uma reformulação tributária de modo a dividir recursos entre União, estados e municípios.
Mas dá tempo de fazer isso no Congresso?
Agora, neste momento, não sei.
Só depois da eleição?
Depois da eleição, nós temos outubro, novembro e dezembro.
Ou no novo mandato?
Aí, eu não sei, espero. Vocês falam isso e sabe o que acontece? Vem a imprensa e tenta me destruir. Falo: “Quem sabe... Vou pensar…” E, no dia seguinte, repete tudo.
Estamos enfrentando novamente uma crise forte neste momento.
Crise internacional, que repercute naturalmente aqui.
O Banco Central teve que suspender o corte de juros. A economia vai responder?
Acho que sim, estamos preparando o país para o futuro. Você não pode imaginar que um governo com uma oposição fortíssima, incompreensões e com gestos, fatos falsos que prejudicam o governo, que você vai consertar o país. Tivemos coragem de enfrentar um tema que todos governos os enfrentam, mas não tinham coragem de assumir, que é o da segurança pública. Quais foram os gestos? Primeiro, a intervenção no Rio, que chamo de intervenção cooperativa, porque o próprio Pezão veio aqui dizendo que não adiantava levar as Forças Armadas para lá, porque o problema também era da administração. Eu disse que interviria, tive a coragem de fazer…
Agora, muita gente diz que a intervenção seria melhor se tivessem afastado também o governador…
Não. Aí seria radical demais e nem acho que o Pezão merecesse isso, o problema é a segurança pública. Quando surgiu a questão, tinha o problema das Olimpíadas, e não sei vocês se recordam, mas quase que não se realiza, porque não tinha mais dinheiro. Não era mais um problema de auxiliar o Rio, era a repercussão internacional. Diferentemente do que aconteceu, foi um sucesso. Logo depois fui numa reunião no G20 e lá todos me cumprimentaram pelo sucesso.
O Banco Central está preparado para conter os movimentos de um dólar a R$ 4?
Tenho falado muito com Ilan (Goldfajn, Banco Central), Meirelles, e hoje com Guardia (Eduardo). O Banco Central está muito preparado para isso. Primeiro, todos sabem, temos reservas internacionais que cresceram muito, hoje temos mais de US$ 380 bilhões, o Banco Central, nessas questões, vende dólar.
O senhor se preocupa que tenha alguma contaminação em relação à Argentina?
Não, aliás… Quando estive na cúpula das Américas, eu vi a admiração com que os países enxergam o Brasil nesses dois anos. Uma coisa fantástica, o presidente Macri (Mauricio), perguntando como conseguimos a inflação de 3%, porque lá na Argentina é 25% a inflação. Naquela época, os juros já eram elevados, mas três ou quatro dias depois que voltei, vi que os juros chegaram a 40%. Então, nós temos que nos orgulhar do Brasil, o que vejo é o seguinte, as demais nações veem o país com olhos melhores que nós.
Um tema nas eleições será a corrupção. Tem a investigação no setor de portos, envolvendo a sua filha, inclusive. Como o senhor vai responder a isso?
Desagradável, é. Vou deixar o Judiciário decidir isso, está entregue a eles e não interfiro na competência dos outros poderes. Então tenho preocupação toda vez que há invasão de competência. Tomo cautela porque qualquer palavra que eu diga hoje será a do chefe do Executivo dando palpite por uma matéria do judiciário. Deixa ele trabalhar, as pessoas vão se defender como devem. Acho que é isso que deve ser feito e que temos que fazer.
O senhor é a favor de foro privilegiado?
Sabe que muita gente pleiteia que o foro seja comum? Porque dá a oportunidade de várias instâncias, quando na verdade o Supremo só dá uma. Em vez do sujeito ficar numa instância só, ele fica em quatro, tem muita chance! Formou-se uma tese de que acabar com o foro acaba com a corrupção… Não sei, de repente, pode ajudar. Pode causar efeito inverso. Acho que é uma discussão de certa forma inútil.
O senhor acompanha o noticiário, vê os memes na internet?
Eu acabo olhando, porque acordo de manhã e vejo, recebo das pessoas. Tem gente que fala: “Ah, eu não leio jornal...” Mentira, todos leem, todos sabem tudo.