Correio braziliense, n. 20083, 16/05/2018. Economia, p. 7

 

Recuo dos serviços segura alta do PIB

Rosana Hessel e Hamilton Ferrari

16/05/2018

 

 

CONJUNTURA » Setor responsável por 60% da atividade econômica tem queda de 0,2% em março, consolidando as avaliações de que o desempenho da produção nacional neste ano não passará de 2,5%, abaixo das previsões iniciais

O setor de serviços recuou 0,2% em março, consolidando as apostas de que a retomada da economia neste ano será bem menor do que o projetado inicialmente. A partir desse resultado, analistas calculam que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido de 0,3% a 0,5% nos três primeiros meses de 2018, na comparação com o quarto trimestre de 2017. Desse modo, para o consolidado do ano, a expectativa é de que a atividade econômica tenha evolução próxima de 2,5%, mas com viés de queda.

O resultado do indicador de serviços, anunciado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi o último a ser divulgado com base em dados de janeiro a março. Representando 60% do PIB, o setor teve um desempenho fraco no primeiro trimestre, mostrando recuo de 1,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, e de 0,9% frente aos últimos três meses de 2017.

Entre os indicadores do início do ano, o que mais decepcionou o mercado foi o da produção industrial, que permaneceu estagnada no primeiro trimestre de 2018, frente aos três meses anteriores. Para Leonardo Carvalho, economista e técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a recuperação econômica está ocorrendo num ritmo menor do que o esperado pelo mercado. “O legado da recessão foi muito profundo e o fato de as reformas estruturais não estarem sendo encaminhadas dificulta a retomada da economia em uma velocidade maior. O importante é que não está havendo uma freada. A recuperação está em curso”, frisou.

Juros

O que chama a atenção é que o desempenho se mantém fraco mesmo com as constantes reduções da taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central (BC), que visam estimular a economia. De acordo com especialistas, a dificuldade de retomar velocidade mais consistente de crescimento está associada à falta de investimentos e ao consumo ainda baixo das famílias. O Ministério da Fazenda esperava expansão de 3% no PIB de 2018, o que, segundo analistas, será improvável. Por isso, a equipe econômica deve reduzir a projeção para 2,5%.

Maior instituição financeira do país, o Itaú Unibanco derrubou de 3% para 2% a expectativa para o PIB de 2018.Em seu relatório mensal, o banco prevê que a expansão será pequena no primeiro trimestre: 0,3%. O pessimismo também reflete os números do mercado de trabalho, que não demonstra forte reação e mantém mais de 13 milhões de pessoas à procura de emprego.

O economista sênior do banco Haitong, Flávio Serrano, avaliou que a atividade econômica perdeu “impulso” no primeiro trimestre. “A indústria não foi bem. O comércio melhorou, mas ainda muito fraco”, disse. “Há três meses, esperávamos crescimento por volta de 0,5%, mas, aparentemente, pode ter ficado um pouco mais baixo”, disse. Atualmente, a instituição prevê um avanço de 2,2% do PIB em 2018.

Hoje, o BC deve anunciar um corte de mais 0,25 ponto percentual na Selic, diminuindo a taxa de 6,5% para 6,25% ao ano. A expectativa de analistas é de que a redução melhore os resultados do PIB dos próximos trimestres. Serrano acredita que o acumulado de três meses terminados em junho deve ter um desempenho mais animador. “Mesmo assim, a alta da taxa de câmbio pode diminuir o consumo e prejudicar o investimento das empresas em máquinas. Isso pode frustrar a melhora do segundo trimestre”, ponderou.

Investimentos

As incertezas quanto aos cenários externo e interno têm preocupado o mercado. O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) subiu 1,67% ontem, para 188,7 pontos. De acordo com analistas, além dos conflitos internacionais, que prejudicam toda a economia global, a falta de contratações e de investimentos também está ligada ao receio dos empresários com as disputas eleitorais deste ano.

O economista-chefe do Banco do Espírito Santo (Banestes), Eduardo Velho, afirmou que o conjunto de dados ruins do primeiro trimestre não é bom para os candidatos de centro nem para o governo, porque “abre espaço” para o discurso de que “é preciso mudar” a agenda de reformas, considerada fundamental pelo mercado.

“Na verdade, qualquer dado com viés menor de crescimento, que tende a limitar a melhora do mercado de trabalho, pode segurar os investimentos. Muitos empresários estão cautelosos. Eles poderiam estar investindo mais, mas imprevisibilidade dos candidatos que estão na liderança das pesquisas os impede”, destacou Velho.

Estagnação

Um dado divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) não foi nada animador para o mercado. O Indicador Ipea Mensal de Consumo Aparente (CA) de Bens Industriais — definido como a produção industrial doméstica líquida das exportações e acrescida das importações — recuou 2% na comparação entre março e fevereiro de 2018. No acumulado do trimestre, a queda foi de 0,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Apesar disso, na comparação interanual houve crescimento de 3,4% em relação ao primeiro trimestre de 2017.