Título: Começa o duelo
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2012, Mundo, p. 26

Ao mesmo tempo em que tenta diminuir os danos de uma dura sequência de críticas partidas do ex-rival Rick Santorum, que abandonou na véspera a disputa pela candidatura do Partido Republicano à eleição presidencial de novembro, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney partiu ontem para o ataque direito ao adversário que tentará tirar da Casa Branca. Barack Obama não ficou atrás e também subiu o tom da retórica. Em suas mensagens de campanha, cada um buscou retratar o outro como uma ameaça ao futuro do país. A desistência de Santorum, um ultraconservador, ajuda Romney, mas não elimina suas dificuldades com os eleitores republicanos mais direitistas, cujo entusiasmo será decisivo para a sorte de Romeny nas urnas.

Em declaração à emissora de tevê Fox News, Romney disse que agora começa sua campanha pela Casa Branca. "As pessoas vão me conhecer melhor, assim como conhecerão Barack Obama", afirmou. "Elas verão que quem está sem contato com o povo americano é ele. Eu estou próximo", declarou, ao ser questionado sobre a preferência do eleitorado pelo presidente, mostrada pelas pesquisas recentes. O republicano também acusou a atual administração pelas grandes perdas de emprego no país.

Obama, por sua vez, reuniu-se na Casa Branca com milionários simpatizantes da chamada Regra Buffett, um projeto a ser votado no Congresso na próxima semana, segundo o qual os mais ricos passariam a ser taxados com alíquotas maiores de imposto. Em uma mensagem publicada no seu site, Obama disse que "é errado que a classe média americana pague com sua renda a maior parte dos impostos, e não alguns milionários e bilionários". A bandeira tem sido uma das principais do presidente, que acusa os republicanos de defenderem o alívio fiscal para os mais ricos, sacrificando programas sociais. O próprio Romney viu-se no centro da discussão, em fevereiro, ao publicar sua declaração de renda.

Nova fase Enquanto sua campanha ganha contornos de uma disputa presidencial propriamente, Romney ainda precisa se recuperar dos danos causados pelos fortes ataques nos primeiros meses de primárias republicanas. A saída de Santorum deixa o caminho livre, ainda que permaneçam na disputa o ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich e o congressista texano Ron Paul, que já não ameaçam a candidatura do favorito. Mesmo assim, a retórica do ex-senador foi efetiva em tachar Romney como um pré-candidato moderado demais e conservador de menos para os republicanos.

A especialista em política norte-americana Melissa Miller, professora de ciências políticas da Universidade Estadual Bowling Green (Ohio), explicou ao Correio que, em seus discursos, Santorum foi enfático e deixou em evidência uma das fraquezas do adversário diante de seu eleitorado.

"O problema para Romney é convencer os conservadores de que ele é o melhor candidato e de que eles têm de se entusiasmar-se, arrecadar dinheiro e mobilizar-se para novembro", disse. "Esse é seu principal desafio agora, assim como foi para John McCain em 2008."

Nesse segmento republicano estão os cristãos conservadores, especialmente os evangélicos, que praticamente endossaram Rick Santorum. "A boa notícia para Romney é que eles não votarão em Obama", declarou Melissa. "Definitivamente, ou votarão em Romney ou ficarão em casa", ponderou a analista, acrescentando que, para se fortalecer, o ex-governador precisa ganhar essa fatia dos eleitores e convencê-la a ir votar em 6 de novembro. "Sem esse apoio, ele enfrentará um grande problema."

Professor do Departamento de Governo da Georgetown University (Washington) e veterano observador dos processos de nomeação dos partidos republicano e democrata, Stephen Wayne pondera que há hoje uma divisão partidária muito profunda nos EUA. Para ele, uma campanha negativa contra o presidente ajudará a oposição a se unir em torno de Romney e o favorecerá nas eleições de novembro. "Será o voto anti-Obama", afirmou Wayne, também consultor para produções cinematográficas sobre a Presidência norte-americana.

As pessoas verão que quem está sem contato com o povo americano é ele (Obama)" Mitt Romney, adversário do presidente na eleição de novembro

Ciência em xeque nas escolas do sul O governador do estado americano do Tennessee (sul), Bill Haslam, autorizou a entrada em vigor de uma lei que permitirá aos professores de escolas públicas questionar o consenso científico em questões como o aquecimento global e a teoria da evolução. Nos últimos dias, o governador recebeu uma petição assinada por mais de 3 mil pessoas pedindo que vetasse o projeto, mas seus partidários conservadores tinham apoio suficiente para derrubar o veto com maioria simples. A Associação de Professores de Ciências do Tennessee e a seção estadual da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, em inglês) são os maiores críticos da medida e afirmam que ela dará amparo legal para que os educadores ensinem "ideias pseudocientíficas". Segundo o diretor da ACLU Hedy Weinberg, "eles não falam tanto sobre criacionismo, mas sobre "desenho inteligente"". A teoria do "desenho inteligente" defende a ideia de que a evidência científica pode demonstrar que formas de vida se desenvolveram segundo um plano concebido e conduzido por uma "inteligência superior".