Título: Acordo para PM voltar à rotina
Autor: Araujo, Saulo; Moreira, Braitner
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2012, Cidades, p. 32

Os policiais militares do DF tendem a encerrar a Operação Tartaruga hoje, durante assembleia, às 9h, em frente ao Palácio do Buriti. Após 58 dias de movimento, governo e associações que representam a categoria chegaram a um acordo. O GDF prometeu estudar a pauta de reivindicações dos PMs e, em contrapartida, os cerca de 15 mil servidores terão de encerrar o protesto, que consiste em atrasar o atendimento de ocorrências. Enquanto a rotina da corporação não volta ao normal, a capital do país vive dias violência. Em menos de 24 horas, foram registrados pelo menos três sequestros relâmpagos, dois assaltos a coletivos, um assassinato e várias tentativas de homicídio.

A mobilização de praças e oficiais gerou uma das piores crises da história da PM e levou à queda do então comandante, coronel Sebastião Gouveia, na última segunda-feira (leia Memória). O substituto dele, o também coronel Suamy Santana da Silva, assumiu o comando da instituição quando a tropa já demonstrava sinais de cansaço com as críticas recebidas por diversos setores da sociedade. Suamy teve o mérito de amenizar a situação, mas enfrentou o primeiro desgaste da gestão ao anunciar aumento de R$ 600 na gratificação de 40 chefes de batalhões. Teve de voltar atrás horas depois, pois a medida não foi bem digerida por outras categorias, como a dos professores.

Apesar da proximidade do fim da operação, os comerciantes do Plano Piloto continuam a reclamar da falta de policiamento ostensivo. Na comercial 109/110 Sul, onde um homem foi esfaqueado há 10 dias, o clima ainda é de insegurança. "Essa rua é perigosíssima, mas hoje não vi ninguém fazendo policiamento na rua", afirmou a caixa de um restaurante. Por volta das 15h, uma dupla de Cosme e Damião — como são conhecidos os PMs que realizam ronda a pé — foi vista pela primeira vez no dia. Eles entraram em um restaurante, compraram uma garrafa de água e voltaram em direção à quadra residencial, sem percorrer o comércio.

Para o prefeito da entrequadra, o empresário Ary Lacerda, a situação só não está pior porque, há quatro anos, seguranças particulares fazem rondas noturnas pelo comércio. "Temos que ter segurança 24 horas, não só quando os PMs passam aqui. Falta um comando inteligente, pois Brasília está jogada às traças", afirmou. Nas entrequadras comerciais 209/210 e 410/411 Sul, nenhum dos entrevistados havia visto policiais militares na rua, durante o dia. "Na semana passada, uma dupla até se sentou no restaurante para assistir a um jogo à tarde", disse um funcionário da 209 Sul.

Redes sociais Apesar de os líderes das oito associações representativas de praças e oficiais afirmarem que vão sugerir o fim da Operação Tartaruga na assembleia de hoje, nas redes sociais há muitas mensagens atribuídas a supostos policiais fomentando a continuidade do protesto. Escondidos por pseudônimos, estimulam PMs a manter o atraso no atendimento de ocorrências. Alguns e-mails enviados às redações de veículos de comunicação da cidade são agressivos. Um deles diz que os soldados vão "tartarugar em dobro". Em outro, há insultos ao governador, ao novo comandante e aos chefes de batalhões.

O corregedor da Polícia Militar, coronel Francisco Carlos da Silva Niño, informou que a corporação monitora a internet. Até agora, nove sindicâncias foram abertas para investigar a conduta de militares acusados de criticar a instituição e o GDF por meio da rede mundial de computadores e por incitarem a desordem. Três oficiais, sendo dois tenentes-coronéis e um major, estão entre os suspeitos de serem os autores de algumas publicações.

Vice-presidente da Associação dos Praças (Aspra) —a maior do DF, com quase 8 mil filiados— o sargento Manoel Sansão Barbosa acredita que a campanha nas redes sociais não influenciará na decisão da categoria. Segundo ele, o compromisso do GDF em discutir o pleito dos PMs é o suficiente para acabar com o movimento. "Não podemos radicalizar ao extremo. O GDF cedeu de um lado e nós do outro. Eles assumiram o compromisso de iniciar as conversas sobre a restruturação da carreira dos PMs e a isonomia salarial com outras categorias. Foi um avanço e temos de dar um voto de confiança", resumiu.

Posse O comandante da PM, coronel Suamy Santana, se reuniu ontem à tarde com gestores da corporação no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Além de definir as primeiras diretrizes operacionais e administrativas a serem adotadas na corporação, ele recebeu representantes de associações de policiais militares para ouvir sugestões e reivindicações da categoria. Santana assume oficialmente o cargo amanhã, às 17h, durante solenidade no Comando da PM.