Correio braziliense, n. 20080, 13/05/2018. Economia, p. 8

 

O dólar subiu, como viajar?

Andressa Paulino e Maiza Santos

13/05/2018

 

 

SEU BOLSO » Especialistas dão dicas de como planejar passeios para o exterior sem extrapolar o orçamento

Com o dólar turismo a R$ 3,80, os brasileiros estão tendo que reorganizar a viagem de meio de ano para se adequar ao orçamento da família. Para os que desejam viajar ao exterior, especialistas afirmam que ainda dá para se planejar. A economia, entretanto, depende de a pessoa estar disposta a aceitar fazer substituição e a elencar prioridades.

A escolha do roteiro pode ser fundamental para evitar gastos acima do esperado. Se pacotes para locais mais populares estiverem muito caros, vale apostar em alternativas. É o que aconselha Adriano Severo, educador financeiro da QI Faculdade e Escola Técnica. “Uma boa opção é a troca de destinos. Em vez de locais que são pontos turísticos na Europa, como França e Inglaterra, a pessoa pode optar por países como Áustria e Hungria, que também são muito interessantes e acabam saindo mais em conta”, afirma.

Outra forma de driblar a alta do dólar em viagens internacionais é escolher destinos que também sofreram desvalorização da moeda. A vizinha Argentina — cujo peso, com a escalada da divisa da norte-americana, perdeu 10,7% do valor em maio — acaba sendo uma boa pedida.

Decidido o local, é preciso especificar o orçamento. “É importante que a pessoa coloque na ponta do lápis todos os gastos que terá com a viagem, desde as passagens aéreas até as lembrancinhas compradas”, explica Severo. Com o total de despesas somado, o ideal é definir a soma que será consumida em cada dia, e guardá-las em diferentes locais. “Isso faz com que a pessoa não gaste a quantia do dia seguinte”, afirma o educador financeiro.

Ao estimar gastos, Severo destaca a importância da utilização do dinheiro em espécie. “Isso porque o cartão pré-pago, apesar da segurança, não é aceito em determinados estabelecimentos. E a utilização do cartão de crédito pode vir a ser um problema, já que a conversão só é feita no fechamento da fatura e o dólar pode ter se valorizado”, informa.

Para não sofrer com a oscilação do câmbio, é essencial que não se deixe a compra do dólar para a última hora. “Quem faz isso corre o risco de viajar com a moeda em alta e gastar mais com as despesas lá”,  explica a educadora financeira Terezinha Rocha. “Como a crise econômica é geral, não é só no Brasil, a qualquer momento tudo pode mudar. O dólar pode subir, mas também pode baixar. As despesas, neste momento, serão mais altas, mas quem vai viajar daqui a alguns meses pode encontrar uma situação diferente”, alerta.

Conversão

Avaliando a oscilação da divisa dos Estados Unidos, Severo destaca a importância de fazer a conversão pouco a pouco. “Como, em geral, é mais vantajoso comprar a moeda aqui no Brasil, uma boa opção para os viajantes é ir comprando aos poucos”, explica. “O ideal é separar uma quantia determinada para compras mensais. Dessa forma, se leva para a viagem o valor médio da moeda e não a cotação mais alta do período”, acrescenta.

Prevenindo-se de uma futura supervalorização do dólar, a estudante Isabella Bertozzo França, 22 anos, decidiu fazer a conversão da moeda com seis meses de antecedência. A viagem marcada para julho, com destino a Cancún, México, foi comprada em fevereiro, mas a estudante já possui a quantia orçada para os gastos desde o ano passado. “Vou levar US$ 1 mil comprados em dezembro, a R$ 3,50, para bancar as despesas durante a estadia”, diz.

Segundo ela, a ideia é segurar as despesas para não ter surpresas. “Fizemos um pequeno roteiro de lugares a que queremos ir, como boates, restaurantes, e programamos dois passeios turísticos. Fiz algumas pesquisas e olhei muitos blogs de viagem no Youtube. Não pretendo gastar muito mais do que o dinheiro que vou levar. Com o dólar a esse valor, não me sinto encorajada a fazer compras”.

De acordo com o educador financeiro Reinaldo Domingos, da DSOP, a dica para não deixar de viajar, mesmo com a alta da moeda norte-americana, é comprar menos dólares do que se planejava inicialmente. “Se a programação era comprar US$ 5 mil, pode diminuir para US$ 4,7 mil e reduzir as atividades desejadas para se adequar ao orçamento. O importante é não cancelar, não faz sentido deixar de viajar só porque o dólar subiu”, ressalta. Domingos defende que haja uma readequação de desejos e gastos para garantir a viagem. “Faça alguns sacrifícios, reduza gastos do dia a dia para compensar essa alta”, sugere.

Por serem mais caras, geralmente, a passagem e a hospedagem são compradas primeiro. Por isso, o planejamento para se manter no orçamento deve ser feito em cima de despesas do dia a dia na viagem. “A alimentação é o que mais onera e, no caso de passeios, sempre é preciso levar dólares a mais para pagar possíveis atualizações nos valores das atrações”, acrescenta Terezinha Rocha.

Para quem, ao contrário de Isabella, ainda não fechou o hotel, pode optar por hospedagens mais baratas. “O aluguel de casa fica bem mais em conta. Mesmo que a hospedagem ofereça café da manhã, não é uma boa incluir a refeição no pacote. Vai sair mais caro pagar pelo serviço do que ir ao supermercado e fazer refeições práticas”, lembra a educadora financeira.

Na viagem

A economia, no entanto, não acaba depois do planejamento finalizado. Durante a estadia é preciso ficar atento ao limite de gastos, indica a educadora financeira Cintia Senna. “Se a pessoa se programa para gastar US$ 2 mil, e acaba desembolsando US$ 3 mil, o valor que não estava dentro do orçamento vai afetar as despesas dela na volta”, afirma. “Então, se você decidir realizar algum tipo de programação que não esteja dentro do roteiro programado, é importante analisar recursos e dívidas que poderão ser afetado”, diz.

Escolher opções mais econômicas de um mesmo serviço também é uma alternativa para se poupar dinheiro. “Existem diversas formas de se locomover. Então, se o dinheiro estiver curto, vale utilizar os transportes públicos”, indica Cintia. “Em vários países, é possível comprar um tíquete, que dá direito a utilizar diversos meios de transportes públicos sem cobrar integração. Além da economia, é uma oportunidade de conhecer o país por um outro ângulo”, enfatiza.

Identificar atrações com descontos também pode ajudar os que querem fugir dos gastos exagerados. “Existem muitos locais turísticos que são de graça, como parques. E alguns museus oferecem entrada gratuita durante um dia na semana”, afirma Severo, da QI.

As compras também precisarão ser repensadas. Com o dólar alto, deve-se analisar o que é prioridade. “Se a grana estiver curta, presentes para a família se transformam em lembrancinhas. E a compra de souvenires se restringe aos mais próximos”, aconselha Cintia. “Até com os itens pessoais, é importante analisar o que realmente é um desejo de aquisição para evitar gastos desnecessários”, aponta.

O que é

É aquele que compramos quando precisamos efetuar alguma viagem ao exterior. Ele é usado para aquisição de passagens aéreas, para gastos em estabelecimentos internacionais e também para a conversão de débitos efetuados em moeda estrangeira no cartão de crédito.