Título: CPI busca a rede do bicheiro
Autor: Correia, Karla: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 11/04/2012, Politica, p. 3

Apesar de já existirem condições para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara com o objetivo de investigar as ligações entre parlamentares e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, os presidentes da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), firmaram ontem acordo pela instalação de uma CPI mista. A ordem é apurar a rede de relações que o bicheiro teria espalhado no Congresso, no governo federal e na iniciativa privada.

O pedido de instalação da CPI na Câmara contava, até a noite de ontem, com 208 assinaturas. Como a criação de uma CPI mista exige um novo requerimento, a Câmara precisa coletar novamente um mínimo de 171 assinaturas para viabilizar a instalação da comissão. Serão necessárias também as firmas de 27 senadores.

Nos cálculos de Marco Maia, esse processo poderá ser concluído até quinta-feira, possibilitando a instalação da CPI já na semana que vem. "Não teria sentido a existência de duas CPIs, uma na Câmara e outra no Senado", disse o presidente da Câmara. "Cabe ao parlamento como um todo produzir essa investigação. Os fatos demonstraram a existência de um poder paralelo, criado à revelia do Estado, que precisa ser desmantelado", reforçou Maia.

Líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA) defendeu que a comissão investigue não só parlamentares, mas toda a rede de relacionamentos em torno de Cachoeira, incluindo membros do Executivo e do setor privado. "Temos que avançar além do parlamento. Aqui já existe o Conselho de Ética", ponderou o petista, que tem articulado a criação da CPI na Casa.

Decoro O Conselho de Ética do Senado abriu ontem o processo de investigação contra Demóstenes Torres (GO), acusado de quebra de decoro parlamentar por suspeita de se utilizar do cargo para beneficiar Cachoeira. Sem partido desde que pediu a desfiliação do DEM, Demóstenes tem 10 dias úteis para apresentar a defesa ao colegiado.

A sessão de ontem ocorreu depois de o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) aceitar ocupar interinamente a presidência do conselho, cargo vago havia sete meses, desde que o senador João Alberto Souza (PMDB-MA) se licenciou para assumir a secretaria estadual de Governo do Maranhão. O vice-presidente, Jayme Campos (DEM-MT), alegou impedimento de presidir o colegiado por ser correligionário de Demóstenes à época. O PMDB, maior bancada da Casa, tem a prerrogativa de indicar o titular, mas não houve consenso de um nome no partido. Embora negue que tenha sido sondado, Waldemir Moka (PMDB-MS) está cotado para ocupar a cadeira de Valadares.

Amanhã, um sorteio entre os parlamentares definirá quem será o relator do processo, responsável por sugerir a cassação ou a absolvição de Demóstenes. "Que o julgamento seja o mais célere e rigoroso possível", cobrou o líder do PSDB na Casa, senador Álvaro Dias (PR).

Ontem, a defesa de Demóstenes protocolou no Supremo Tribunal Federal pedido de liminar para que o inquérito no qual a Procuradoria-Geral da República investiga o parlamentar seja suspenso.

Planalto de olho no caso Ao menos no discurso, o Palácio do Planalto não faz objeções à CPI. "A gente nunca tem que ter medo da verdade", disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. "Não vejo razão nenhuma para temer. Já passamos por várias CPIs, sabemos do que se trata e não temos que ter temor nenhum nesse sentido neste momento", completou o ministro. Mas, nos bastidores, o empenho do senador Walter Pinheiro em abrir a CPI foi visto como desastroso pelo Planalto. O governo teme que a apuração esbarre em integrantes da base aliada ou do próprio Executivo. "Onde já se viu líder de um partido do governo pedir CPI? Não tem cabimento", criticou um senador.