Título: Cláudio Monteiro sai para se defender
Autor: Tahan, Lilian: Maria Campos, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 11/04/2012, Politica, p. 4
Cláudio Monteiro deixou ontem os dois cargos estratégicos que exercia no Governo do Distrito Federal. Pediu afastamento da chefia de gabinete do governador Agnelo Queiroz (PT) e da função de secretário-executivo do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. A decisão foi tomada ontem à noite após a divulgação de reportagem no Jornal Nacional em que dois investigados na Operação Monte Carlo tratam de suposto pagamento de mesada para que Monteiro favorecesse a Delta Construções em contratos do lixo que mantém com o GDF.
Desde a deflagração da Monte Carlo, que investiga o esquema de corrupção liderado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, Monteiro tornou-se alvo de suspeitas. O nome dele surgiu em conversas interceptadas pela Polícia Federal durante a investigação. Num dos trechos captados pela PF, o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, conhecido como Dadá, sugere a Cláudio Abreu, diretor da Construtora Delta no Centro-Oeste, retribuir a indicação do diretor-geral do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), que favoreceria os negócios da construtora com "um presente" para Cláudio Monteiro.
Segundo Dadá relata na conversa, ele estava ao lado de Marcello Lopes, o Marcelão, assessor do chefe de gabinete de Agnelo. "O Marcelão está aqui comigo, entendeu? Eu tava falando para o Carlinhos o seguinte, ele veio da reunião com o Cláudio Monteiro, entendeu? Então, ele tava falando o seguinte, que é ideal você dar um presente para o cara. A nomeação só vai sair na terça-feira no Diário Oficial", disse Dadá, apontado como um espião a serviço dos interesses de Cachoeira. O bicheiro é considerado pela Polícia Federal sócio oculto da Delta.
Abreu indaga: "Dadá, resume, o que é pra dar pra ele, Dadá?" Ele responde: "Dá o dinheiro para o cara, meu irmão". O diretor da Delta fala em números: "Faz o seguinte, vamos dar R$ 20 mil para ele e R$ 5 mil por mês, pronto!". E Dadá conclui: "Vou falar com Marcelão aqui". De acordo com investigações da Polícia Federal, Marcelão, que deixou o governo na semana passada, fazia interceptações ilegais de e-mails de autoridades e de jornalistas. Em outro diálogo interceptado, Dadá pede a Cachoeira chips de rádio Nextel para dar a Cláudio Monteiro e Marcelão. "Tem que estar fazendo ponte com ele, ficar perto dele", referindo-se a Marcelão.
Abertura de sigilos Cláudio Monteiro disse que pediu o afastamento ao governador Agnelo para se defender: "Exerço duas funções importantes no governo. Se em 485 dias a PF não tomou nenhuma providência porque acredita que eu tinha foro privilegiado, estou abrindo mão. Eu preciso ser investigado porque infelizmente nesse país não são as pessoas que te acusam que têm de provar, mas quem é acusado que precisa provar a inocência", justificou. Monteiro disse que ofereceu à Procuradoria-Geral da República a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico e que vai entrar com processo penal e cível contra Cláudio Abreu e Idalberto Matias. Muito próximo a Monteiro, Agnelo aceitou o afastamento do chefe de gabinete, mas disse que confia na inocência do amigo. Na avaliação do GDF, o caso de Monteiro se assemelha ao episódio do ex-ministro Henrique Hargreaves, que pediu afastamento do cargo no governo de Itamar Franco, e acabou reconduzido após a sua inocência ser comprovada.
O lobby na gestão do lixo expôs na semana passada um outro ex-integrante do governo. Em 29 de março, o tenente-coronel Paulo José Barbosa de Abreu foi nomeado para assumir o comando do 2º Batalhão de Polícia Militar, em Taguatinga. Um fim de semana depois, a condução de Paulo Abreu foi revista e o GDF tornou o ato sem efeito. Paulo Abreu também é citado no inquérito que investiga Cachoeira. Nas escutas gravadas pela PF, o nome dele aparece numa articulação em que seria indicado para assumir o Serviço de Limpeza Urbana (SLU). As articulações envolvendo o nome dele teriam ocorrido em janeiro de 2011. Mas quem tomou posse no cargo, no dia 20 daquele mês, foi João Monteiro, que acabou exonerado no mês passado.