Título: Dadá espionou investigação
Autor: Maria Campos, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 11/04/2012, Politica, p. 6

Apontado pela Operação Monte Carlo como araponga da organização criminosa liderada por Carlinhos Cachoeira, o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias, conhecido como Dadá, obteve informação estratégica sobre investigação sigilosa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) a respeito de esquema de lavagem de dinheiro com empresas de informática ligadas ao bicheiro. Uma semana antes da deflagração da Operação Megabyte, em junho de 2008, Dadá procurou promotores de Justiça responsáveis pelo caso para tentar obter mais elementos sobre o cumprimento de mandados de busca e apreensão na sede de prestadoras de serviço que pagavam propina a Durval Barbosa no Distrito Federal. Há suspeitas dos investigadores de que pelo menos duas empresas do esquema, de propriedade de Messias Antônio Ribeiro Neto, sejam ligadas a Cachoeira.

Ex-integrante do serviço de inteligência da Aeronáutica, Dadá procurou o promotor de Justiça Libânio Alves Rodrigues com a informação de que Durval, principal alvo da Operação Megabyte, estava retirando documentos de casa para escapar da busca e apreensão. A conversa ocorreu no 9º andar do prédio do MPDFT, na presença do promotor Eduardo Gazzinelli Veloso, responsável pela Megabyte e por todas as investigações sobre desvios de recursos de contratos de informática no Distrito Federal. Messias Ribeiro Neto é dono da Sapiens e o irmão dele Jovair Ribeiro, da Patamar. As duas empresas foram vasculhadas na Operação Megabyte requerida pelo MPDFT e executada com a participação da Polícia Federal. A investigação apurava o caminho do dinheiro desviado num esquema que envolveu R$ 2 bilhões e a participação de laranjas.

O vazamento da Megabyte foi denunciado por Libânio Rodrigues e Eduardo Gazzinelli ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em depoimentos prestados por eles durante o processo administrativo disciplinar que tramitou contra o ex-procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra. Gazzinelli contou que Dadá, na ocasião, frequentava o 6º andar do prédio da Polícia Federal, onde estava sendo organizada a Megabyte. O militar atuava como agente de inteligência da Operação Satiagraha, que apurou suposto esquema de corrupção envolvendo o banqueiro Daniel Dantas. Os dois promotores suspeitaram de que Idalberto os havia procurado para denunciar o vazamento porque, na verdade, queria buscar mais informações. Eles, no entanto, encerraram a conversa sem confirmar os planos de executar os mandados de busca e apreensão.

Denúncia Nos depoimentos prestados na Operação Caixa de Pandora, Durval denunciou que soube antecipadamente da Megabyte por intermédio da promotora Deborah Guerner. Ela, por sua vez, teria tomado conhecimento por meio de Bandarra da autorização judicial para entrar nas empresas em busca de documentos e computadores. Deborah e Bandarra foram responsabilizados pelo CNMP pelo vazamento de informações sigilosas. Os dois também acabaram denunciados pelo Ministério Federal e respondem criminalmente sob a acusação de terem recebido R$ 1,6 milhão de Durval em troca da valiosa informação.

Por meio de seu advogado, Durval disse ontem ao Correio que conheceu Dadá quando era chefe da 3ª DP (Cruzeiro), mas não tinha contato com ele. Durval também sustenta não ter alertado empresários da área de informática sobre a busca e apreensão que ocorreria durante a Megabyte. Ao conversar com os promotores, Dadá não revelou suas fontes. Mas é certo que ele obteve uma informação restrita, tipo de dados que lidava na sua área de atuação, a espionagem.

Desde o começo das investigações sobre contratos de informática no DF, promotores do DF suspeitaram do vínculo do esquema com Cachoeira. A maioria das empresas migrou de Goiás para o Distrito Federal a partir de 1999, quando Joaquim Roriz assumiu o terceiro mandato de governador do DF e deu a Durval poderes para comandar o setor de informática. Messias Ribeiro, um dos denunciados como integrante do esquema, foi sócio de Cachoeira na Gerplan, empresa de propriedade do bicheiro que tem como foco a exploração de jogos de azar. Uma das empresas mais enroladas no esquema de Durval, a Linknet, também foi importada de Goiás. A prestadora hoje considerada inidônea doou R$ 58,1 mil à campanha do senador Demóstenes Torres (sem partido) ao governo de Goiás em 2006.

Demissão descartada

O Palácio do Planalto informou ontem que o subchefe de Assuntos Federativos, Olavo Noleto, será mantido no cargo. Noleto teve contato em 2010 com Wladimir Garcez, apontado como um dos integrantes do núcleo da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. "O Olavo é uma pessoa muito séria, conhecemos o passado dele, então não temos nenhum receio de nenhum respingo aqui", afirmou o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Por meio de nota, o subchefe de Assuntos Federativos negou que conhecia Cachoeira e disse que manteve contato com Garcez quando ele era presidente da Câmara Municipal de Goiânia, período em que Noleto era chefe de gabinete do prefeito Pedro Wilson Guimarães.