Correio braziliense, n. 20074, 07/05/2018. Política, p. 4/5

 

Por dentro da cabeça do eleitor

Bernardo Bittar, Renato Souza, Rodolfo Costa, Gabriel Vinhal e Maiza Santos

07/05/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » A partir do cruzamento de dados eleitorais e entrevistas com marqueteiros e professores de ciência política, o Correio apresenta o perfil de apoiadores dos 12 principais pré-candidatos ao Palácio do Planalto.

A dúvida sobre em quem votar nas eleições presidenciais é alimentada pela crise política. Especialistas garantem que, enquanto os vice-candidatos não forem escolhidos, não há como traçar um panorama detalhado e certeiro. Compilando os resultados de três pesquisas sobre o perfil dos eleitores em 2018, o Correio fez um levantamento sobre os anseios da sociedade, desmembrando o perfil dos 12 principais pré-candidatos ao Planalto já registrados até agora. Muitos podem desistir ou fazer coligações com seus pares, mudando novamente o cenário nas urnas.

Nas últimas seis eleições — ou seja, em 24 anos —, a briga no segundo turno (quando houve) ficou entre tucanos e petistas. Hoje, ao menos 22 nomes de diferentes partidos e com ideologias distintas correm atrás da cadeira presidencial. Aliada à polarização, há resistência aos dois partidos citados. A última presidente eleita pelo PT, Dilma Rousseff, sofreu o impeachment. Seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, está preso. No PSDB, a dificuldade de encontrar um nome forte faz com que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin seja a opção mais viável, mas ainda falta fôlego. Até mesmo os correligionários têm certa resistência a ele.

Teremos candidatos conservadores, liberais e sociais. Esses três pilares são capazes tanto de inflamar as pontas — como os de extrema-esquerda e extrema-direita — quanto de valorizar alguém que transita em todos os espaços. Um verdadeiro “representante de todos”, que fica no miolo das convicções. “É o cenário que as pessoas esperam. Você tem muita gente que conseguiu espaço com um discurso extremista, mas isso deu uma baixada. O que as pesquisas apontam é que um pouco de serenidade cai bem”, detalha Marcelo Vitorino, especialista em marketing digital.

Vitorino diz ainda que a escolha dos vices poderá ser decisiva na hora de convencer o eleitor. Segundo ele, as coligações podem dar luz aos indecisos na hora de votar. “O cara que tem simpatia por fulano poderá escolher beltrano se os dois se juntarem. Quem não conseguir caminhar sozinho terá sempre a possibilidade de puxar os votos da pessoa que ficará na chapa.”

Para o professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Barbosa, o eleitor brasileiro busca alguém de centro — com variações de esquerda e direita. Ele destaca que, nos últimos 40 anos, nenhum candidato de política extrema venceu as eleições. “Na história recente do Brasil, políticos com extremos ideológicos nunca venceram. Quando começar a campanha, os candidatos que se viabilizarem terão que adaptar o discurso para, enfim, conseguir fisgar os indecisos.”

O historiador aposta no impacto negativo da Operação Lava-Jato durante o pleito. Com isso, Barbosa afirma que as eleições deste ano serão imprevisíveis, mesmo na época de campanha oficial. “O eleitorado-base já está definido, mas o panorama deve mudar. Enquanto a campanha se desenrola, a Operação Lava-Jato e o juiz Sérgio Moro continuam. Cada passo dela vai influenciar no discurso dos candidatos e em determinadas coligações”.

A presidenciável Marina Silva (Rede), por exemplo, é majoritariamente apoiada por mulheres jovens sem ensino superior. Já Alckmin transita entre homens e mulheres com idade média de 45 anos e baixa escolaridade. Se o MDB escolher Henrique Meirelles, o eleitor será diferente do que prefere Michel Temer. Da mesma forma no PT, que bate o pé na candidatura de Lula, mas também cogita colocar Fernando Haddad em último caso.

A professora de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heucimara Telles calcula que as mudanças eleitorais só devem ocorrer a partir de julho. Enquanto os nomes não forem oficializados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acredita, os brasileiros não vão pensar sobre o assunto. “Eventos como a Copa do Mundo também podem mudar o percurso do eleitor. Em agosto, quando começar de fato a campanha eleitoral, eles vão pensar melhor em quem querem que presida o país”. Heucimara analisa que o caminho ainda está aberto para candidatos que conversarem com as ideologias centristas, que pensem na economia e tenham uma agenda de pautas sociais.

 

GERALDO ALCKMIN (PSDB)

“Uma referência”

Com base nas últimas pesquisas, Geraldo Alckmin é uma opção viável no Sudeste — foi, inclusive, governador de São Paulo — e disputa a liderança naquela região com Jair Bolsonaro. Lá, os dois estão empatados entre os mais populares. A faixa etária dos eleitores do tucano é de 35 a 60 anos, com ensino médio completo e que ganham, ao menos, três salários mínimos por mês. O dentista Joel Gouvea, 39 anos, morador de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo (SP), vai votar nele porque o considera “um homem sério que governa de forma discreta”. “São Paulo é uma grande referência para o Brasil e muitos outros que têm potencial para serem do mesmo tamanho, desde que tenham bons administradores. E ele é um ótimo administrador”, afirma.

 

LULA (PT)

Troca possível

O advogado Fernando Rodrigues Rocha, 35, faz parte do público-alvo de Lula, composto basicamente por homens negros, pardos e índios com idade entre 35 e 44 anos. A renda presumida para o eleitor do petista são dois mínimos, mas Fernando ganha mais. Morador de Águas Lindas (GO), graduou-se com auxílio do Programa Universidade Para Todos (ProUni), criado no primeiro mandato do petista. Lula corre o risco de ter a candidatura negada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por ter sido condenado por órgão colegiado, o que o impede de concorrer, de acordo com a Lei da Ficha Limpa. Neste caso, Fernando diz  que muda de candidato. “Penso em votar no Ciro Gomes caso Lula não concorra. Não votaria no Fernando Haddad. Mas, se ele for vice do Ciro, por exemplo, é mais um motivo para definir meu candidato”, completa.

 

JOAQUIM BARBOSA (PSB)

“Perfil ético”

Os escândalos de corrupção e a velha fisiologia política do “toma lá da cá” deixaram ressabiados eleitores como o aposentado Afonso Pimentel, 65 anos. A vivência de quem já observou de tudo no cenário político é o que alimenta a possibilidade de ele votar no ministro aposentado Joaquim Barbosa. “Votaria mais pelo perfil ético e confiável. Nem sei quais são as convicções políticas dele”, resume. O trato humilde do aposentado com o próximo é algo que ele gostaria de ver em um presidente da República. E, nisso, ele avalia que o histórico de Joaquim joga a favor. “Ele lavou banheiro quando ainda nem cursava direito. A origem humilde dele é algo que acho que o credencia”, pondera. A fama de ter sido algoz do PT no julgamento do mensalão também é outro ponto positivo para Afonso e o eleitorado. “Não tenho confiança em quem é da velha política”, ressalta.

 

MARINA SILVA (REDE)

Viés social

Confirmando as pesquisas, a professora de educação física Geisa Alves de Oliveira, 35, faz parte do eleitorado retratado nas ruas. É mulher, jovem, ganha mais de cinco salários mínimos e pensa no viés social da candidata. “Acho a Marina muito razoável nas ideias que apresenta. Foi a única que teve preocupação com bandeiras sustentáveis e populares em todo seu trabalho como parlamentar, não apenas para as eleições.” Geisa mora em Ceilândia, mas trabalha no Plano Piloto, dando aula em academias e em casa. “Não acho a política uma coisa muito simples de entender, mas eu penso muito bem antes de dar meu voto para qualquer pessoa. Neste ano tem muita gente, algumas pessoas da minha família ainda vão definir seu candidato, mas eu voto na Marina há muito tempo. É uma pena que ela não esteja mais atuando no Congresso”, reclama.

 

JAIR BOLSONARO (PSL)

“Ideias boas”

O perfil médio do eleitor do deputado Jair Bolsonaro é homem, jovem, que tem entre 16 e 34 anos, com escolaridade que varia de nível médio a superior. O pré-candidato é mais forte no Centro-Sul do país, que engloba estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste. A renda geralmente é mais alta, gira entre cinco e pode passar de 10 salários mínimos. Lucas dos Santos Roque tem 22 anos. Sua renda mensal média é de R$ 2 mil. Pastor evangélico, com ensino superior, e morador de Marília (SP), ele viu em Bolsonaro as ideias que sempre defendeu. “Ele é militar e vai cortar muitos benefícios sociais. Tem uma política de combate à esquerda, que vem prejudicando o país. A única dúvida que tenho é em relação a liberação do porte de armas, pode não ser uma boa ideia.”, afirma.

 

CIRO GOMES (PDT)

“Não vai errar”

O estudante Fernando Quaranta, 24 anos, faz parte de um dos principais públicos de Ciro Gomes: jovens com ensino superior que enxergam no pedetista o perfil de um candidato que reluta a cair na velha fisiologia política de loteamento de cargos em troca de apoio. “Ele não parece disposto a cometer o mesmo erro do PT de, em troca de alianças partidárias, distribuir cargos a pessoas como Eduardo Cunha, em Furnas, ou ceder a vice-presidência da República a um homem como Michel Temer”, avalia. Com ideologias de esquerda, Fernando não nega a simpatia por outros pré-candidatos do espectro político, mas acredita que o pedetista é mais bem preparado para lidar com o momento turbulento que o país enfrenta. “Acredito que Ciro reúna mais propriedade e conhecimento a respeito dos problemas do Brasil”, analisa.

 

FERNANDO COLLOR (PTC)

Por Alagoas

O estudante Alberto Fontan, 24 anos, é um dos eleitores que cogitam depositar o voto e a confiança em Fernando Collor. Natural de Maceió, o território eleitoral do atual senador, ele contempla um dos principais públicos eleitorais que avalia que os feitos do ex-presidente da República no Senado o credenciam a um novo mandato no Palácio do Planalto. “Acho que Alagoas ganharia muito mais destaque e investimentos”, justifica. A juventude de Alberto não o torna um desconhecedor do processo de impeachment de Collor. “Com certeza, a imagem dele ficou manchada perante boa parte da população, mas, aqui em Alagoas, ainda é bem-visto. Quero que, como candidato, ele demonstre transparência e explique todos os problemas que enfrentou em 1992”, destaca.

 

ÁLVARO DIAS (Podemos)

Tom sereno

A vivência do aposentado Paulo Roberto Costa, 62 anos, é um trunfo para a escolha do pré-candidato. Ex-simpatizante da esquerda petista, hoje, prefere depositar o voto em um pré-candidato que não tenha um perfil extremista. Por esse motivo, a opção por Alvaro Dias é a mais cogitada por ele atualmente. “É alguém com ideias neutras, que tem trânsito no meio político, sem um discurso muito pró-mercado ou antimercado”, explica. O traquejo político e o tom de seriedade do senador jogam a favor dele entre os eleitores. Ter o nome longe dos holofotes envolvendo suspeitas de corrupção também é um ponto positivo considerado pelo público do parlamenta e por Paulo, que não tem pressa em escolher o candidato. “Prefiro seguir minha própria análise, e não  a do candidato que tem mais chances de ganhar”, pondera.

 

MANUELA D'ÁVILA (PCdoB)

A transparência

O perfil de Manuela D’Ávila agrada mais às mulheres, como a estudante de ciência política Ruhana Luciano de França, 20 anos. Aluna da Universidade de Brasília (UnB), ela destaca a representatividade como um dos motivos para a escolha de Manu — como a candidata é carinhosamente conhecida pelos eleitores. “O fato de ela ser mulher também importa muito para mim”, explica. Moradora de Águas Claras, ela vive com os pais e o irmão e tem uma renda familiar de 18 salários mínimos — seis vezes acima da média dos eleitores da comunista. Ruhana acredita que o momento é de defender as bandeiras levantadas pela candidata. “Acho legal a comunicação, a transparência. Ela traz muitas discussões que são importantes, mas sempre foram ignoradas, como desigualdade, violência, a questão LGBT, educação e segurança.”

 

HENRIQUE MEIRELLES (MDB)

Elogio à gestão

O traquejo com o mundo dos negócios e a familiaridade com assuntos econômicos ditam a preferência do gestor de contratos João Márcio Costa, 56 anos, pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Funcionário de uma empresa de informática, ele acredita que o emedebista tem o perfil certo para ser o próximo presidente. Competência, experiência técnica, saber fazer gestão, ter trânsito no meio político e não estar envolvido em escândalos de corrupção são pontos que direcionam Meirelles à Presidência da República na avaliação de João Márcio e do eleitorado do emedebista. “É alguém que carrega esse currículo desde a primeira gestão de Lula. Ele tem as qualificações para estruturar o país e dar continuidade às reformas necessárias para melhorar a produtividade e gerar empregos e riquezas a serem distribuídas”, define.

 

MICHEL TEMER (MDB)

Pelas reformas

A convicção liberal do cientista político Matheus Leone, 25 anos, não deixa dúvidas de que, para ele, o candidato certo para manter o país na rota do crescimento é o presidente Michel Temer.  Ele faz parte do grupo de jovens disposto a votar no emedebista que acredita que o Estado deve ser mais enxuto, com menos peso na economia, e que dependa de uma política institucionalmente bem estruturada para enxugar a máquina pública. O caminho para possibilitar o desengessamento do Estado sobre o mercado depende de um Executivo que continue dialogando com o Legislativo, prega Matheus. “O Legislativo não pode ser um almoxarifado de um Executivo imperial. Eu acredito na política e vejo no Temer o perfil de coragem que o Brasil precisa para combater privilégios das corporações públicas e tocar as reformas necessárias para o desenvolvimento da agenda liberal e da economia”, defende.

 

GUILHERME BOULOS (PSol)

“Resposta forte”

Natural de João Pessoa (PB), Matheus Gomes de Carvalho, 22 anos, é filiado ao PSol e milita pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Ele vê o candidato como um sopro de esperança para a esquerda. “É tudo em que acredito, uma candidatura que vem de movimentos. É um grito de resistência contra os reacionários e reformistas, uma resposta muito forte neste tempo de crise e ataques à democracia”, avalia. Estudante de comunicação da UnB, Matheus mora na Asa Sul com a irmã. A renda dos pais é de aproximadamente R$ 12 mil. Matheus faz parte de uma lista que ainda não foi concretizada nas pesquisas. Boulos é apontado como um candidato ainda sem um número certo de eleitores, beirando 0%. Matheus se apega às propostas do socialista como argumento para a escolha.