Título: Brasil cobra reação a tsunami monetário
Autor: Hessel , Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 10/04/2012, Política, p. 2
Washington — A presidente Dilma Rousseff descreveu ontem ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, toda a sua preocupação com a crise mundial, que já afeta os países emergentes, como o Brasil, e cobrou do colega maior responsabilidade no enfrentamento do que ela tachou de tsunami monetário. Na avaliação da líder brasileira, é preciso que os países ricos, sob a liderança dos EUA, parem de injetar tanto dinheiro no mundo com o intuito de salvarem as suas economias em detrimento das nações em desenvolvimento.
Desde 2008, os bancos centrais norte-americano (Fed), da Europa (BCE) e do Japão já despejaram mais de US$ 9 trilhões na economia global, desvalorizando as moedas dos emergentes e tirando a competitividade de produtos fabricados nesses países. Dilma isentou, contudo, a China da guerra cambial, apesar de a nação asiática tirar proveito da atual situação ao manter um câmbio artificial, que favorece as suas exportações.
"Precisamos ter clareza de que a responsabilidade de todos nós, nesse processo de contenção da crise, de retomada (do crescimento) é compartilhada. Ninguém pode falar: "Não, eu não tenho responsabilidade, não tenho nada com isso". Não é bem assim", disse Dilma. Para descrever as responsabilidades de todas ante a crise atual e reforçar que ninguém é dono da verdade e que o Brasil não tem divergência apenas com os EUA, ela recorreu a uma expressão (Joãozinho do passo certo) muito usada em Minas Gerais, estado onde nasceu. "Não podemos acreditar, principalmente nós, as duas maiores democracias do continente, que todo mundo é Joãozinho do passo certo. Nós não somos Joãozinho do passo certo, nem do passo errado", afirmou.
Na avaliação da presidente brasileira, se os países ricos pretendem emitir dinheiro para estimularem suas economias, que estão à beira ou mergulhadas na recessão, devem, também, abrir espaço para investimentos produtivos. "Apostar só em políticas monetárias expansionistas leva a um verdadeiro tsunami monetário", enfatizou. "Portanto, são necessárias uma ação conjunta e imediata", emendou, diante de Obama, reduzindo a importância da China no quadro de manipulação cambial. A seu ver, "os Estados Unidos são um país diferente do resto do mundo, pois emitem moeda". Já a China tem a sua moeda atrelada ao dólar.
Depois de uma hora e meia de conversa e de um almoço, Dilma destacou que Obama reconheceu os estragos provocados pelos tsunami monetário. "Agora ninguém questiona se há ou não o efeito. Há o efeito", afirmou. Ela ressaltou ainda que o encontro com o norte-americano foi muito positivo. Mas voltou a reforçar a sua visão de que os países ricos não podem exportar suas crises. O encontro também serviu para selar o acordo que prevê o fim, em um futuro próximo, da exigência de visto para viagens entre turistas e executivos dos dois países (Leia na página 4). A comitiva brasileira na Casa Branca contou com os seis ministros das áreas de comércio, relações internacionais e ciência. Entre os presentes divulgados, Dilma deu quadros a Obama.
Além das barreiras de locomoção, os dois países firmaram sete atos, entre eles a carta de reconhecimento da cachaça como bebida brasileira e do bourbon como bebida norte-americana. De acordo com Dilma, os executivos de empresas brasileiras e dos EUA, que participaram de um fórum ao lado dela e de Obama, avaliaram a reunião como muito produtiva. "Houve avanços de parcerias em inovação e desenvolvimento científico e tecnológico. É essa a relação que nos interessa, tanto no que se refere a trazer brasileiros e brasileiras para estudarem aqui nas universidades de excelência, como nos interessa que empresários americanos estabeleçam projetos de cooperação tecnológica e que isso se passe dentro das nossas instituições de pesquisa", afirmou.