Título: Mais um passo para o fim dos vistos obrigatórios
Autor: Castro , Gasielle
Fonte: Correio Braziliense, 10/04/2012, Política, p. 4

Os Estados Unidos e o Brasil aceleraram as tratativas para permitir a entrada de visitantes nos dois países e assinaram o compromisso de derrubarem os vistos obrigatórios. O anúncio foi feito ontem pelo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, e a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton. A queda dos vistos ainda não tem data para entrar em vigor porque existem requisitos legais a serem seguidos. A norte-americana ainda confirmou a instalação de mais dois consulados no Brasil — um em Porto Alegre e outro em Belo Horizonte. Em seu discurso, Hillary afirmou que a abertura dos consulados visa estreitar ainda mais o relacionamento entre os dois países. "Estamos tentando facilitar a retirada de vistos e as viagens, derrubar algumas barreiras que foram criadas, e continuar a promover o contato interpessoal", disse.

Em um primeiro momento, a decisão tem por objetivo ajudar a desafogar os consulados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Com o aumento no número de turistas brasileiros dispostos a visitarem e a injetarem dinheiro na economia norte-americana, a procura pelo visto aumentou 240% nos últimos cinco anos.

A quantidade de pessoas que procuraram o consulado do Rio de Janeiro no mês passado subiu 84% em relação ao mesmo período do ano anterior. Diante desse cenário, para o especialista em relações internacionais e professor da Fundação Getulio Vargas Maurício Santoro, não houve momento melhor para os Estados Unidos tomarem essa decisão. "Os novos consulados significam facilidade para quem está fora do eixo de representações americanas, que é Rio, São Paulo, Brasília e Recife, viajar", analisa.

Segundo ele, a situação econômica brasileira é o carro-chefe do país para se assegurar como um aliado. "A conjuntura é nova e completamente favorável ao Brasil. Há dez anos atrás, seria mais importante impedir a situação irregular dos brasileiros que estão lá. Hoje, temos uma situação que torna muito mais interessante para os EUA facilitar a entrada de quem quer visitar", explica. Santoro lembra que os brasileiros são os que mais gastam e os melhores parceiros em alguns estados. "O comércio da Flórida, por exemplo, é praticamente sustentado por brasileiros. Se a gente olhar 2011, o Brasil foi o sexto maior fornecedor de turistas deles", justifica. Para Santoro, ainda há um deficit por consulados norte-americanos em Salvador, pela demanda elevada da capital baiana por vistos.

Aproximação A abertura de mais entidades de representação, por outro lado, segue uma tendência de expansão que vai além da emissão de vistos. O diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eiiti Sato, esclarece que elas servem de apoio aos cidadãos americanos e aos brasileiros que querem se aproximar do país. "O Brasil também deve abrir mais consulados nos EUA e em outras partes do mundo. Essa movimentação dos países segue a regra da globalização.

Não podemos olhar para essas questões pensando apenas na emissão de vistos. A atividade consular independe desses interesses, existe um número intenso de brasileiros se espalhando pelo mundo, assim como existem de americanos. Os consulados são o que essas pessoas têm de mais próximo para resolverem questões internas aos seus países."

Em janeiro, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez o primeiro anúncio formal de comprometimento para agilizar em 40% a concessão de vistos de turismo para brasileiros. Uma das promessas do presidente foi a redução do tempo de espera para conclusão do processo de autorização, que hoje varia de uma semana a 35 dias. Entre as mudanças para obtenção da autorização, está o preço da taxa, que, a partir do dia 13, passará de US$ 140 para US$ 160.

Segundo o Departamento de Estado norte-americano, o valor atual não cobre os custos do processamento. O reajuste ajudará a custear a ampliação das instalações e a mão de obra gerada pela alta demanda.