Correio braziliense, n. 20077, 10/05/2018. Política, p. 3

 

Tucanos ainda indecisos

Bernardo Bittar

10/05/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Alckmin e Doria demonstram, em declarações após encontro em Brasília, que definição de alianças está longe de consenso no PSDB

A primeira reunião da executiva do PSDB após a desistência de Joaquim Barbosa (PSB) mostra um partido indeciso. O ex-prefeito João Doria (SP) anunciou, após o encontro, que a intenção dos tucanos era amarrar uma aliança com o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) e manter o legado econômico do presidente Michel Temer (MDB). Geraldo Alckmin (SP), consagrado como candidato, disse que “isso ainda não está na mesa”, mas elogiou Barbosa e não descartou futuras alianças com o MDB nem com o PSD.

Doria declarou abertamente que não vê problemas em uma aliança como o MDB, dizendo que é necessário “valorizar as coisas boas”, como o plano econômico de Temer tocado por Meirelles enquanto ministro da Fazenda. “Defendo a coalizão, quanto maior for, é melhor. Ganhamos mais tempo de tevê e mais capilaridade”, afirmou o ex-prefeito. Mais cuidadoso, Alckmin disse que falar sobre união agora “seria uma indelicadeza com o doutor Henrique Meirelles, que é candidato pelo MDB”.

Nem Temer nem Meirelles ainda estão garantidos na vaga de candidato governista à Presidência da República. Ainda assim, há uma resistência muito grande em torno do presidente, que chegou a declarar publicamente, semana passada, apoio a Alckmin. “Eu não teria dificuldade, não. Se houver uma conjugação política nestes termos que estou dizendo, se houver algo que seja útil para o país, e daí a história da união de todos os candidatos de centro, por que não apoiar?”, afirmou em um programa de televisão.

Alckmin disse que o momento é de conversar com partidos que ainda não têm candidatos ao Planalto, como o PSB. “Eles acabaram de ter a desistência do Joaquim Barbosa, né? Temos apreço pela legenda, claro, mas essa mudança repentina do ministro mostra que ele não quer a vida pública. Mas é claro que eles estão no nosso radar”, indica o presidenciável.

Proposta

Sobre a divisão de palanques em São Paulo, local que poderá ter Geraldo Alckmin tanto nos comícios de Doria quanto nos do governador Márcio França (PSB), o ex-prefeito diz que não há constrangimento. “A mim, não cria nenhum constrangimento ver o nosso candidato em dois palanques”, afirmou, lembrando que a “agenda econômica e a agenda social devem ser compartilhadas. Essas contribuições são saudáveis e positivas”.

Durante o encontro ocorrido no Setor Hoteleiro Norte, em Brasília, a executiva detalhou os planos de governo e uma estratégia de comunicação. Para enfrentar a rejeição e blindar o partido e seus candidatos, a ideia dos tucanos, segundo Alckmin, é “falar a verdade e trabalhar muito. A política é que comanda o marketing”. A economia também terá papel importante na campanha. Um dos argumentos é a possibilidade de dobrar a renda do brasileiro. Outra, zerar o deficit público. De olho na reeleição, o ex-governador fez questão de lembrar que, infelizmente, “nem tudo poderá ser concretizado em apenas um mandato”.

Frase

“Eles acabaram de ter a desistência do Joaquim Barbosa, né? Temos apreço pela legenda, claro, mas essa mudança repentina do ministro mostra que ele não quer a vida pública. Mas é claro que eles estão no nosso radar”

Geraldo Alckmin, candidato do PSDB ao Planalto

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PDT se anima com saída de Barbosa

Rodolfo Costa

10/05/2018

 

 

A desistência do ministro aposentado Joaquim Barbosa da corrida eleitoral reforçou as expectativas de crescimento do PDT no cenário nacional e nos estados e despertou de vez as atenções do governo federal. Sem o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal concorrendo, a perspectiva de pedetistas é que o PSB embarque na pré-candidatura de Ciro Gomes e, assim, reforce as previsões de chegar ao segundo turno com, pelo menos, entre 18% e 20% dos votos válidos. O fortalecimento do presidenciável deve, na avaliação de caciques do partido, favorecer o crescimento da bancada na Câmara dos Deputados na próxima legislatura, de 20 parlamentares para 35. No Senado, a esperança é dobrar o número de assentos, atualmente em três.

O possível crescimento do PDT está sob análise do MDB, cujos caciques não acreditavam em uma pré-candidatura de Barbosa. A avaliação era de que seria um “aventureiro” e, por isso, dificilmente conseguiria levar adiante uma candidatura consolidada. Mas, agora, o cenário tende a mudar, o que pode intensificar as conversas com o PSDB, do pré-candidato Geraldo Alckmin. “Não há nenhuma aliança, mas um começo de sinalizações. É o que mais se avizinha ao discurso do governo”, ponderou um articulador do Planalto.

A consolidação da aliança entre PSB e PDT é tratada com calma por pedetistas. Mas há uma confiança de que é uma questão de tempo até o embarque ocorrer. Os acenos de aproximação estão sendo dados nos estados. O líder do partido no Senado, Acir Gurgacz (RO), pré-candidato a governador, destaca que uma das duas vagas para senadores na chapa dele está assegurada para Jesualdo Pires (PSB), ex-prefeito de Ji-Paraná. E destaca que um apoio à pré-candidatura do governador de São Paulo, Márcio França (PSB), não está descartada. “Há uma possibilidade grande de aliança. Mas temos que saber se o PSB quer caminhar conosco”, enfatizou. O líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), avalia que o fortalecimento da pré-candidatura de Ciro pode favorecer não apenas o aumento da bancada no Congresso, como, também, em pré-candidaturas nos estados. Além de Gurgacz, a expectativa é emplacar candidaturas fortes em sete estados, sendo duas com viés de reeleição, no Amapá e Amazonas.