Título: O time de confiança da técnica Rousseff
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2012, Política, p. 4

Passado o prazo de desincompatibilização de ministros para disputar as eleições municipais de outubro, a presidente Dilma Rousseff começa a definir o seu time oficial para conduzir os projetos estratégicos de seu governo. A escalação faz com que, dentro da tática de ataque do 4-3-3, cada um conheça bem suas atribuições na equipe. Além dos titulares de confiança, o capitão também já foi escolhido: o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Embora ele tenha andado na berlinda por conta das denúncias de corrupção na Casa da Moeda, o ministro ainda é um dos que mais gozam da confiança de Dilma.

Os laços entre os dois são tão sólidos que, no dia em que o homem forte da economia depôs na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, a presidente foi pessoalmente ao Congresso para uma sessão em homenagem às mulheres. O ministro é o goleiro do time, responsável por não deixar passar nenhum descontrole da inflação ou derrapada no Produto Interno Bruto (PIB).

No miolo de zaga, estão a dupla de xerifes Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil. Especialmente para o Congresso, Ideli se tornou uma zagueira clássica, distribuindo botinadas nos parlamentares que reclamam da falta de emendas e cargos no governo federal. Gleisi é mais discreta, tem tom de voz mais baixo, mas quem a conhece de perto sabe que ela é capaz de espanar a bola nos momentos em que o time estiver acuado.

Antonio Patriota, das Relações Exteriores, foi puxado para a lateral direita, substituindo Celso Amorim. Muitos reclamavam da relação umbilical que o governo do ex-presidente Lula mantinha com os regimes esquerdistas da região, liderados pelo venezuelano Hugo Chávez. Dilma escalou Patriota para ter opções de jogadas pela direita. Deu certo e o Brasil está mais afinado com o governo norte-americano.

Pela esquerda, Dilma escalou o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que andou sofrendo alguns ataques da oposição e viu-se obrigado a ficar mais no campo de defesa. Aos poucos, no entanto, teve papel de destaque no anúncio de medidas de desoneração para a indústria, na última terça-feira.

O meio-campo do time de Dilma é clássico. Inspirado pelo antecessor, elegeu como volante o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Discreto, é responsável por proteger a zaga das investidas dos movimentos sociais e dar saída de bola com qualidade. Ao seu lado, com a camisa oito, o ministro Aloizio Mercadante.

Como meio-campistas tradicionais — bom santista, odiaria ser comparado ao doutor Sócrates —, o titular da Educação de vez em quando desaparece do jogo. Adora que toquem a bola para ele, no pé, e reclama quando a jogada não sai como deseja. Não era do time titular de Dilma nem do de Lula, embora o antigo técnico tenha sido o responsável pela sua contratação. Mas se destacou nos treinos, enquadrou-se no padrão "espancadora de projetos" da presidente e conquistou um lugar entre os 11.

A revelação foi Garibaldi Alves, da Previdência. Único peemedebista na linha de frente, comanda uma pasta pouco cobiçada. Nas últimas semanas, pôs a bola embaixo do braço e foi ao Congresso trabalhar pela aprovação da Fundação de Previdência Privada do Servidor Público (Funpresp). Usou o fato de ter sido presidente do Senado, percorreu os gabinetes e conseguiu marcar um gol que orgulhou a técnica Dilma, para quem a Funpresp era uma prioridade.

Do outro lado No time principal pela atuação para aprovar a Lei Geral da Copa, está o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, típico exemplo de jogador que mudou de posição ao longo da carreira. Após um começo na lateral esquerda, até hoje o palmeirense tem uma canhotinha eficiente, quando necessário. Mas, após a tramitação do Código Florestal no Congresso, encaixou-se na ponta direita, ao lado de aliados ligados ao setor produtivo rural.

Na ponta esquerda, aparece o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Dilma e Lula gostam dele, mas é uma posição perigosa. Afinal, quando as coisas apertam, o ponta-esquerda sempre é o primeiro a ser substituído. Tem um estilo de jogo mais livre, solto em todas as posições do ataque. É um dos poucos que não exerce só a função que lhe compete.

Por fim, no comando do ataque, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Responsável por conduzir o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Miriam tem sido muito cobrada pela falta de gols — ou as obras, para ser literal. Existem pressões pela sua substituição, mas, até o momento, Dilma mantém a confiança na sua principal atacante.