O globo, n. 30937, 20/04/2018. País, p. 6

 

Secretaria quer todos os presos da Lava-Jato no Rio em Bangu 8

Caroplina Heringer e Marcos Nunes

20/04/2018

 

 

Cadeia de Benfica, que tem histórico de regalias, ficará como unidade de triagem

A Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Rio (Seap) quer transferir os presos da Operação Lava-Jato e outros detentos federais que estão atualmente na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio, para a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, no Complexo de Gericinó. Desde o último dia 11, quando retornou de Curitiba, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral está em Bangu 8.

A transferência de todos os presos federais para o Complexo de Gericinó está sendo estudada pela pasta. Uma das razões para que a medida seja tomada é a necessidade de abrir mais vagas em Benfica, que também funciona como unidade de triagem do sistema prisional do Rio. Outro motivo é o histórico de denúncias de regalias para os presos da Lava-Jato na Cadeia Pública José Frederico Marques. O ex-secretário de Administração Penitenciária do Rio coronel Erir Ribeiro foi afastado do cargo por causa da suspeita de concessão de privilégios ao grupo de Cabral.

Foram as denúncias de mordomias que resultaram na transferência de Cabral do Rio para o Complexo Médico-Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, em janeiro deste ano. O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal. A transferência foi determinada pelo juiz Sergio Moro e pela juíza Caroline Vieira Figueiredo, que substituía o juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no Rio. A volta de Cabral ao Rio foi determinada na última semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em novembro do ano passado, durante uma vistoria em Benfica, o Ministério Público estadual do Rio encontrou alimentos proibidos para o consumo dos presos, como iogurte, queijos importados e camarão. Uma das embalagens encontradas tinha o nome de Cabral na tampa. No mês anterior, o MP já tinha descoberto a instalação de uma videoteca na unidade com uma Smart TV de LED com 65 polegadas, aparelho Blu-Ray 3D e Home Theater. A montagem do espaço, segundo promotores, teria sido articulada pelo ex-governador do Rio.

Na volta ao Rio, Cabral foi para o presídio de Bangu, e o secretário de Administração Penitenciária, David Antony Gonçalves, regulamentou quais alimentos e objetos poderão ser entregues pelos visitantes aos presos das unidades prisionais do estado. A lista de alimentos é bem diferente das iguarias encontradas pelo MP na Cadeia Pública de Benfica, onde o ex-governador ficou preso por sete meses. Agora, Cabral poderá receber, por exemplo, pão com ovo, pão com linguiça, cachorroquente e pipoca doce ou salgada.

Segundo a Seap, a nova regulamentação irá “garantir tanto o bem-estar do interno, como a efetivação das normas de segurança”, além de “dar mais transparência aos critérios usados pelas unidades prisionais”.

Cada preso terá direito, por exemplo, a uma garrafa de refrigerante de 600ml, pão na chapa com manteiga, biscoitos, bolo caseiro sem recheio, além de objetos de higiene, limpeza e de uso pessoal. Cabral e todos os outros detentos estão autorizados a receber os alimentos e objetos em uma sacola de supermercado após a inspeção dos materiais.

DEPUTADOS E EX-SECRETÁRIOS ESTÃO EM BENFICA

Na resolução anterior, a 610, de 18 de março de 2016, a Seap autorizava a entrada de frutas, alimentos cozidos, leite em pó, biscoitos, bolos, e doces, além dos materiais de limpeza e higiene.

No presídio de Benfica estão os deputados Édson Albertassi e Paulo Melo, os ex-secretários de Cabral Hudson Braga e Wilson Carlos, além de Carlos Bezerra, apontado como operador financeiro do ex-governador.

A Cadeia Pública José Frederico Marques funciona no local que abrigava o antigo Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar no Rio. O prédio foi totalmente reformado para receber os presos da Operação Lava-Jato. O BEP também tinha grande histórico de denúncias de regalias e irregularidades e acabou desativado após uma juíza ter sido agredida por presos durante uma fiscalização à unidade. Atualmente, os PMs presos estão na Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói.