Título: América do Norte se rende à cachaça
Autor: Hessel , Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2012, Economia, p. 8

Washington — Em clima de grande expectativa, o encontro entre a presidente Dilma Rousseff e seu colega norte-americano, Barack Obama, na Casa Branca, tratará de temas delicados e espinhosos, como o cancelamento da compra de aviões da Embraer pela Força Aérea dos Estados Unidos e o veto à participação de Cuba na 6ª Cúpula das Américas, na Colômbia. Embora haja ceticismo sobre possíveis avanços nessas questões, o governo brasileiro assinará sete memorandos de entendimento e acordos de cooperação com os EUA. Na área comercial, o destaque será para o reconhecimento da cachaça como produto genuinamente nacional e não mais como um rum latino-americano, abrindo um mercado milionário para os produtores do Brasil.

Em contrapartida, o bourbon (uísque de milho) entrará em território nacional como uma bebida típica dos EUA. "O acordo da cachaça é um muito importante. É resultado de uma negociação de 10 anos", disse Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento. Ela destacou ainda que deve ser fechada parceria comercial na área de aviação, para a troca de tecnologia e inovação. A Boeing está muito interessada nesse entendimento, pois enfrenta restrições impostas pelo Congresso norte-americano para atender às reivindicações do Brasil, especialmente no processo de compra de caças pela Força Aérea Brasileira (FAB).

Fadiga Acompanhada por uma comitiva de sete ministros para uma visita de dois dias, Dilma aterrissou na base aérea de Washington às 17h40 de ontem reclamando fadiga. "A viagem foi boa, mas cansativa", disse. A líder brasileira evitou, porém, fazer previsões para as conversas com o anfitrião norte-americano. Afirmou apenas que considerava "ótima" a expectativa do encontro com Obama. Logo após chegar aos Estados Unidos, a presidente reuniu-se com um grupo de 17 empresários brasileiros que mantêm negócios na América do Norte. A bitributação, que absorve até 60% do lucro das empresas brasileiras que investem nos Estados Unidos, foi a maior preocupação levantada pelos empresários. "Isso mata qualquer empresa", afirmou Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Confrontada sobre o tema, Dilma desconversou.

Espera-se que a presidente cumpra a promessa de discutir com Obama a política comandada pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, que deu origem à expressão tsunami monetária. Juntos, os bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão despejaram mais de US$ 9 trilhões na economia, provocando forte desvalorização das moedas dos países emergentes e tirando a competitividade de seus produtos no mercado internacional. Esse quadro, por sinal, levou o governo a anunciar, na semana passada, o sexto pacote de bondades para a indústria desde o estouro da crise mundial em 2008.