O globo, n. 30935, 18/04/2018. Rio, p. 8

 

Crimes desafiam a tropa

Luã Marinatto e Rafael Galdo

18/04/2018

 

 

No primeiro mês da intervenção, roubos de carros, cargas e a pedestres atingem os piores patamares

O socorro federal para a segurança pública do Rio não resultou em uma queda dos índices de criminalidade. Pelo menos é o que mostram os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) referentes a março, o primeiro mês a ser, por inteiro, de responsabilidade da intervenção. As estatísticas permitem que sejam avaliados os resultados práticos da iniciativa, decretada pelo presidente Michel Temer em 16 de fevereiro. Foi registrado, por exemplo, um aumento de 7,1% nos roubos de veículos, que saltaram de 5.002, no mesmo mês do ano passado, para 5.358, resultando no pior março da série histórica, iniciada em 1991. Em média, é como se um automóvel fosse levado por assaltantes a cada oito minutos no estado.

Outras estatísticas seguiram o mesmo caminho e também atingiram o patamar mais alto desde que os números da violência no estado passaram a ser computados. Houve recordes negativos em crimes como roubos de cargas, a pedestres, em ônibus e de celulares. O quadro é ruim, mesmo considerado que a comparação com o março do ano passado foi prejudicada por uma greve na Polícia Civil que causou a chamada “subnotificação”.

Para especialistas, os índices indicam que são necessários ajustes na intervenção federal. Eles ressaltam questões que não serão resolvidas a curto prazo pelos militares, como a carência de efetivo das polícias. É a opinião, por exemplo, do antropólogo Paulo Storani, e ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM. Ele ressalta que a intervenção não adotou uma medida essencial para combater os crimes de rua: o policiamento ostensivo no ambiente urbano. Um problema que passa pelo déficit estimado em cerca de 15 mil homens na Polícia Militar — a corporação tem, atualmente, 44 mil em seus quadros.

— Naturalmente, esses crimes relacionados à vida urbana não param de crescer. E não adianta o Exército mobilizar suas estruturas, porque a experiência dos militares não é a mesma da PM, voltada para a atividade de rua — afirma Storani.

MENOS PRISÕES E ARMAS APREENDIDAS

O balanço divulgado pelo ISP também aponta para uma queda nos principais índices de atividade policial. As apreensões de armas caíram de 769, em março de 2017, para 680, no mês passado (redução de 11,6%). O mesmo ocorreu com as prisões em flagrante ou por cumprimento de mandado, que diminuíram 7%, de 4.347 para 4.043. As apreensões de adolescentes infratores despencaram ainda mais: 24%. Foram 642 jovens detidos em março último, contra 845 no mesmo mês de 2017.

Já o número de apreensões de drogas apresentou ligeiro aumento (2,2%), saltando de 1.706 para 1.744. O total de veículos roubados recuperados pelas forças de segurança cresceu: foram 3.450 em março de 2018, 17,7% mais do que os 2.932 no terceiro mês do ano passado.

Os homicídios dolosos permaneceram estáveis, subindo de 498 para 503. Os autos de resistência, por outro lado, caíram 11,4% (foram 123, em março de 2017, contra 109 no balanço mais recente). A queda ocorreu mesmo com as 13 mortes em confrontos na Rocinha, favela em guerra desde setembro do ano passado. Em março de 2017, a comunidade não tinha registrado qualquer homicídio em intervenções policiais. Na avaliação de Storani, a redução nos autos de resistência é um fenômeno explicado, em parte, pela intervenção:

— Estar presente na rua é muito importante. Mas saber o momento de agir também é. E uma das maiores preocupações de quem hoje está dirigindo as forças de intervenção é que, numa ação dos militares, evitar que eles atinjam inocentes. Vão evitar ao máximo essa situação, até porque fortaleceria a opinião dos que são contrários à intervenção.

O gabinete da intervenção e a Secretaria de Segurança não quiseram comentar os números.