O globo, n. 30934, 17/04/2018. País, p. 3
Odebrecht e Palocci serão ouvidos sobre ‘quadrilhão do PMDB’
Renata Mariz
17/04/2018
Outras 40 pessoas vão depor no processo que mira amigos de Temer
-BRASÍLIA- A Justiça Federal de Brasília autorizou que 42 testemunhas sejam ouvidas na ação penal sobre o “quadrilhão do PMDB”, em que amigos de Michel Temer, entre outros, são acusados de operar propinas em favor do partido e do próprio presidente, atuando em uma “organização criminosa”. As pessoas que serão ouvidas nas próximas semanas são, na maioria, delatores: ao menos 37 aparecem como “colaboradores” da Operação Lava-Jato nos registros do processo.
O pedido para que eles sejam ouvidos partiu do Ministério Público Federal no Distrito Federal e foi deferido pelo juiz Marcus Vinicius Reis, da 12ª Vara. Entre os delatores arrolados como testemunhas, estão os empresários Marcelo Odebrecht, Ricardo Pessoa (UTC Engenharia) e Otávio Azevedo (Andrade Gutierrez); os operadores Fernando Baiano e Alberto Youssef; o ex-ministro Antonio Palocci; o ex-senador Delcídio Amaral; e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
A ação penal incluiu recentemente dois amigos do presidente Temer, que foram presos temporariamente em março na Operação Skala: o advogado José Yunes e o coronel aposentado da PM de São Paulo João Baptista Lima Filho. Além deles, são réus nessa mesma ação mais quatro políticos do PMDB, todos atualmente sem direito a foro privilegiado: o deputado cassado Eduardo Cunha, os ex-ministros Henrique Alves e Geddel Vieira Lima; e o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures, entre outros.
Temer também foi denunciado, mas conseguiu que a Câmara dos Deputados determinasse o trancamento do caso até o término de seu mandato na Presidência. Com isso, o processo foi remetido do Supremo Tribunal Federal para a primeira instância, onde respondem acusados sem foro privilegiado. Essa é a segunda denúncia que a Procuradoria-Geral da República fez contra Temer e que foi barrada com o apoio dos deputados.
O grupo se tornou réu na Justiça Federal de Brasília por um conjunto de irregularidades envolvendo pagamento de propina em diversos escalões da administração pública, como na Caixa Econômica Federal (CEF). Delatores, como o doleiro Lúcio Funaro, apontam como o grupo ligado a Temer no PMDB operava os desvios de dinheiro. Há menções na denúncia sobre o setor portuário, que também é alvo da Operação Skala, que prendeu recentemente Yunes e o coronel Lima, além de empresários do ramo.
O presidente Temer é também investigado no caso do decreto dos portos, que teria beneficiado empresas do setor em troca de propina. Esta investigação, porém, ainda está na fase de inquérito policial. Ontem, o site G1 informou que o Palácio do Planalto enviou ao delegado Cleyber Lopes, responsável pelo caso, o conteúdo do sigilo telemático (de e-mails) de Rodrigo Rocha Loures entre 2013 e 2017. O ex-assessor de Temer é apontado como elo entre as empresas com interesse no setor portuário e o presidente.