O globo, n. 30934, 17/04/2018. País, p. 4

 

Sem Lula, Marina cresce em segmentos de eleitores do PT

Sérgio Roxo

17/04/2018

 

 

Pré-candidata sobe no Nordeste e entre brasileiros de menor renda

-SÃO PAULO- O detalhamento da pesquisa do Datafolha divulgada no domingo indica que a pré-candidata Marina Silva (Rede) ganha espaço entre os eleitores clássicos do PT nos cenários em que o ex-presidente Lula é retirado da disputa. O levantamento mostra que o desempenho da ex-ministra tem uma melhora substancial no Nordeste e entre a parcela mais pobre e menos escolarizada do eleitorado quando o ex-presidente está fora.

Com o ex-presidente na disputa, Marina, ministra do Meio Ambiente do governo Lula entre 2003 e 2008, tem entre 7% e 9% no Nordeste. Sem o petista, a pré-candidata da Rede fica com 16% em qualquer cenário testado, e seria a primeira colocada, à frente do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL).

No grupo de eleitores que ganham até dois salários mínimos, Marina soma 11% ou 12% das preferências quando Lula aparece como opção de voto. Mas, com o petista fora, ela sobe para 18% ou 19% a depender do cenário. Entre eleitores apenas com ensino fundamental, a pré-candidata da Rede oscila entre 9% e 11% quando o petista é uma opção, e sobe para 16% ou 17% sem ele.

CIRO TAMBÉM É BENEFICIADO

Tanto nas últimas disputas presidenciais como nas pesquisas feitas para a eleição deste ano, o melhor desempenho dos candidatos do PT é verificado no Nordeste e entre a população mais pobre e menos escolarizada.

O Datafolha faz três simulações de cenário com a presença de Lula. Neles, seu índice de voto no Nordeste varia entre 49% e 51%. Entre os que ganham até dois salários mínimos, obtém entre 37% e 39%. Já no grupo de eleitores de ensino fundamental, o petista fica com 37% ou 38%.

O PT tem reafirmado a intenção de registrar a candidatura de Lula na disputa eleitoral, mas, condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o ex-presidente seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Lula está preso desde o último dia 7 depois de o Tribunal Regional Federal (TRF-4) aumentar a sentença para 12 anos e um mês de prisão.

Marina iniciou a sua carreira no Acre pelo PT. Ficou no partido até 2009, quando se filiou ao PV para disputar a eleição presidencial do ano seguinte. Ela terminou em terceiro lugar.

Em seguida, tentou fundar a Rede, mas a legenda não obteve registro e ela acabou indo para o PSB.

Também ex-ministro de Lula, Ciro Gomes (PDT) é outro candidato que se beneficia da saída do ex-presidente quando analisados os segmentos tradicionalmente ligados ao PT.

O pedetista, que tem o seu domicílio eleitoral no Ceará, apresenta índice entre 5% e 6% no Nordeste quando Lula está na chapa, e consegue entre 13% e 16% se o ex-presidente não concorrer.

Com o ex-presidente entre os concorrentes, os eleitores da região que optam por votar branco ou nulo, ou estão indecisos, oscilam entre 16% e 17%.

Nos outros seis cenários testados, sem a opção de voto em Lula, esses valores ficam entre 36% e 38%.

No grupo de eleitores que ganham até dois salários mínimos, o pré-candidato do PDT obtém 4% com o ex-presidente, e entre 8% e 9% das intenções de voto sem ele.

Mas a maior variação nesse segmento também é no grupo de indecisos. Com Lula, entre 16% e 17% dos eleitores dizem não ter candidato. Quando o petista fica fora, esses números variam entre 32% e 33% dos entrevistados.

Para os pesquisados com ensino fundamental, Ciro passa de 5% ou 6% para um índice entre 10% e 12% sem Lula. Os eleitores sem candidato no grupo de menor escolaridade passa de 16% ou 17% com Lula para um índice que varia entre 31% e 32% sem o ex-presidente da República nas urnas.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

Barbosa ainda enfrenta resistências no PSB

Sérgio Roxo

17/04/2018

 

 

Boa performance na pesquisa, porém, reforça ala a favor da candidatura

-SÃO PAULO- Apesar dos bons números registrados no Datafolha, em que marcou até 10% das intenções de voto, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa ainda deve enfrentar dificuldades no PSB para se consolidar como candidato a presidente da República. Segundo integrantes do partido, há ainda oposição interna ao nome de Barbosa em estados do Nordeste, e até agora nenhum dos cinco governadores da sigla declarou apoio explícito a ele.

O próprio ex-ministro ainda não declarou que pretende ser candidato. De qualquer forma, para ter o nome e a foto na urna eletrônica, a avaliação no PSB é que Barbosa precisará conquistar o apoio do grupo de Pernambuco. O estado é ligado à história do partido por causa dos ex-governadores Miguel Arraes (1916-2005) e Eduardo Campos (1965-2014). Afilhado político de Campos, o atual governador do estado, Paulo Câmara, pretende postergar qualquer definição sobre o posicionamento da legenda na eleição presidencial.

Uma questão da eleição local pode acabar influenciando na adesão ou não de Câmara. O governador pernambucano, que na semana passada chegou a ir a Curitiba para tentar visitar o expresidente Lula na cadeia, quer que o PT retire a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo estadual. Neta de Miguel Arraes e prima de Campos, ela é vista como uma ameaça à reeleição do atual governador. Nas conversas, o PT tem cobrado uma sinalização de apoio do PSB na eleição presidencial ou, pelo menos, um não comprometimento com adversários do PT, para intervir contra a candidatura de Marília em Pernambuco.

Já o governador de São Paulo, Márcio França, que inicialmente se mostrava um opositor ferrenho a Barbosa, já começa a mostrar conformismo com o novo nome. França chegou a ser apontado como articulador no PSB de uma pré-candidatura de Aldo Rebelo, o que serviria para inibir a filiação do ex-ministro ao partido. Com a entrada de Barbosa, foi Aldo quem deixou o PSB. Agora, os aliados do governador paulista reconhecem que, se Barbosa crescer mais nas pesquisas, será difícil segurar a candidatura.

PALANQUE DUPLO

Se esse cenário se concretizar, França ficaria com dois palanques na eleição presidencial, já que é um entusiasta da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), de quem era vice. França falou até em tentar unir Alckmin e Barbosa.

— Quem sabe até lá não convenço o nosso partido a trabalhar para o Alckmin e quem sabe juntar a figura importante, carismática, do ex-ministro Joaquim? Seria uma grande chapa, fabulosa. Juntaria um pouco da novidade, a altivez, altitude moral do Joaquim — afirmou França, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, reconhece que houve resistências a Barbosa, mas diz que os entraves nos estados já foram superados.