O globo, n. 30934, 17/04/2018. País, p. 5

 

Tríplex do Guarujá é invadido por manifestantes do MTST

Dimitrius Dantas

17/04/2018

 

 

Militantes decidiram sair do apartamento depois de quatro horas

-SÃO PAULO- Após quatro horas de invasão, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) deixaram ontem o tríplex do Guarujá, no litoral paulista. Foi esse imóvel que levou o ex-presidente Lula para a prisão, condenado a 12 anos e um mês de prisão. Pré-candidato a presidente pelo PSOL e líder do MTST, Guilherme Boulos apoiou o ato pelas redes sociais.

À tarde, a Polícia Militar informou aos sem-teto que poderia ser obrigada pela Justiça a cumprir a reintegração de posse e pediu que eles saíssem voluntariamente. O MTST desocupou o tríplex pacificamente depois das 12h. Cerca de 50 pessoas invadiram o prédio às 8h30m.

De acordo com a sentença de condenação na Lava-Jato, o imóvel foi um presente da OAS ao ex-presidente como contrapartida por contratos celebrados com a Petrobras.

Embora advogados do movimento tenham dito que não houve violência na ocupação, moradores relataram que os manifestantes forçaram a entrada pela garagem. O caso será analisado pela PF porque o imóvel está sob custódia da Justiça Federal.

VISTORIA NA PRISÃO DE LULA

O advogado Ramon Koelle afirmou que o grupo não invadiu o prédio: — A porta fica entreaberta. Foi só abrir. A moradora Renata Simões rebateu a afirmação. Segundo ela, o portão estava fechado, assim como a portaria.

— Eles forçaram e entraram pela garagem — afirma Renata.

Segundo funcionários do condomínio, as câmeras de segurança flagraram a invasão. As imagens serão examinadas pela PF, que fará a perícia.

Enquanto Lula continua preso em Curitiba, parlamentares insistem em visitá-lo. Ontem à tarde, a juíza federal Carolina Lebbos, responsável pela custódia do petista, autorizou vistoria de 13 integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado na PF, onde o petista está preso. A juíza não deixou claro se os senadores poderão ver Lula.

À tarde, representantes do acampamento em apoio ao líder petista chegaram a um acordo com a Secretaria de Segurança para retirar as barracas do entorno da PF até as 18h de hoje. Os militantes poderão se manifestar livremente nas imediações do prédio, mas devem ficar atentos à lei do silêncio a partir de 19h30m.

Em carta, Lula agradeceu ontem aos militantes que acampam em Curitiba: “Continuo desafiando a Polícia Federal da Lava Jato, o Ministério Público da Lava Jato, o Moro e a segunda instância a provarem o crime que alegam que eu cometi. Continuo acreditando na Justiça e por isso estou tranquilo, mas indignado como todo inocente fica indignado quando é injustiçado.”

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Moro não vê risco à democracia no Brasil

Eduardo Graça

17/04/2018

 

 

Dodge e Barroso também falaram em debate organizado por Harvard

-CAMBRIDGE, EUA- O juiz Sergio Moro abriu ontem sua participação em um painel sobre combate à corrupção no Brasil na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard com o que disse ser sua mensagem “em alto e bom som”:

— A democracia não está em risco no Brasil.

Moro pediu permissão à organização do evento para, antes do debate, falar ao público:

— Vai parecer desnecessário para muita gente aqui. Mas creio ser importante porque, de certa maneira, o mundo está prestando atenção. Vou repetir: a democracia não está em risco no Brasil, de forma nenhuma. O que está acontecendo é apenas a luta para se afirmar o estado de direito. No fim, teremos uma democracia, uma Justiça e até uma economia mais fortes no Brasil.

O encontro reuniu, além de Sergio Moro, a procuradorageral da República, Raquel Dodge, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, que também discorreu sobre o combate ao crime no país:

— A corrupção sistêmica é um processo cumulativo, sempre esteve lá, não nasceu há dois, três ou dez anos. Ela é sistêmica com participação de membros do Congresso, do Executivo, dos setores privados, das estatais. Mas devemos estar orgulhosos. Provavelmente nenhum outro país no mundo teve a coragem de expor o problema e lidar com ele como estamos fazendo agora. É uma luta dura, que se ganha com tempo, e por pontos, não por nocaute, mas estou otimista.

DODGE: “CARÍSSIMAS CAMPANHAS”

Já Raquel Dodge manifestou preocupação com a influência do poder econômico nas eleições, mesmo com a proibição de empresas serem doadoras de campanha.

— Há alguns vazios nesta regulamentação que podem não favorecer um sistema de real competitividade entre aqueles que exponham ideias e propostas para exercer um bom trabalho no Brasil e sim garantir a eleição dos que venham contar com os melhores financiamentos — declarou. — A corrupção, que é uma praga no Brasil, começa nas urnas, nas caríssimas campanhas financiadas por empresas que querem garantir contratos com o Estado através do apoio ilegal aos eleitos.

Para ilustrar sua percepção do protagonismo da Operação Lava-Jato no combate à corrupção no Brasil, Moro recorreu a uma das tiradas mais famosas do ex-presidente Theodore Roosevelt (1858-1919), um ícone da hoje irrelevante ala progressista do Partido Republicano e aluno da Faculdade de Direito de Harvard.

— Ele disse que a exposição e a punição da corrupção pública é uma honra, não uma desgraça, para uma nação. A vergonha está na tolerância e não na correção dos erros. (*Especial para O GLOBO)

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Aécio pode virar réu hoje no STF, e Dodge reforça que provas existem

Carolina Brígido e Maria Lima

17/04/2018

 

 

‘Cometi um erro, mas não cometi um crime’, diz senador ao se defender

-BRASÍLIA- A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, entregou ontem memorial aos ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que seja recebida hoje a denúncia contra o senador Aécio Neves (PSDBMG) por corrupção passiva e obstrução à Justiça. Aécio é acusado de pedir R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. Em troca, teria oferecido atuação parlamentar em favor da JBS. Se a denúncia for aceita, o tucano passará a ser réu.

No documento, Dodge afirma que há provas do ilícito. Entre elas, a gravação de conversa entre o dono da JBS, Joesley Batista, e o senador. No diálogo, Aécio não só confirma o pedido de ajuda financeira, como sugere adoção de medidas para esconder a transação. Dodge também cita a ação controlada que registrou a entrega de parte do dinheiro ao interlocutor do tucano. A tendência é a Primeira Turma da Corte receber a denúncia apresentada pela PGR. Ao menos três dos cinco ministros do colegiado devem concordar que há elementos mínimos para justificar que as apurações sigam adiante.

“Esses elementos, associados aos termos da própria solicitação de vantagem indevida imputada na denúncia, são indicativos de que Aécio Neves, de forma consciente, recebeu, por intermédio de terceiros, vantagem indevida não por solidariedade ou qualquer outra razão alegada pelas defesas, mas porque estava preparado para prestar as contrapartidas de interesse do grupo J&F, no momento oportuno”, diz o documento assinado por Dodge.

Em entrevista coletiva, Aécio disse ser vítima de um “tsunami de versões” que, na avaliação dele, foram criadas pela PGR para prejudicá-lo. O tucano afirmou que receberá a decisão do STF com serenidade.

— As armas que tenho são fatos e verdades contra o tsunami de versões que vem me atingindo e tomando conta dos meios de comunicação a respeito da delação da JBS. O que tenho ao meu lado é a verdade e fatos — disse Aécio.

Aécio classificou de uma “conversa infeliz” o encontro que teve com Joesley Batista no dia 24 de março de 2017, no Hotel Unique, em São Paulo, quando foi gravado pelo empresário pedindo R$ 2 milhões. O tucano reafirmou que a conversa revela tratativas privadas, sem envolver dinheiro público.

— Cometi um erro, mas não cometi crime. Não teve dinheiro público, ninguém foi lesado, só minha família — afirmou Aécio. — Não serão 20 minutos de uma conversa infeliz que vão definir minha história — completou.