Título: Um favorzinho para a filha
Autor: Sassine , Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2012, Política, p. 6

O deputado federal Leonardo Vilela (PSDB-GO) fez um pedido diretamente ao bicheiro Carlinhos Cachoeira em fevereiro de 2011 e foi prontamente atendido. O parlamentar ligou para o contraventor e pediu emprego para a filha no Instituto de Ciências Farmacêuticas de Estudos e Pesquisas (ICF), sediado em Goiânia. O ICF pertence ao grupo de Cachoeira: um dos sócios é a ex-mulher do bicheiro, Andréa Aprígio de Souza, usada como laranja, conforme as investigações da Polícia Federal (PF). A filha de Leonardo Vilela, que é farmacêutica, conseguiu o emprego. É funcionária do ICF desde o mês do pedido.

O Correio revelou ontem que o parlamentar tucano, ex-secretário de Meio Ambiente do governo de Goiás e pré-candidato à Prefeitura de Goiânia, foi incluído pela PF na lista de pessoas ligadas ao bicheiro. Cachoeira está detido no presídio federal de segurança máxima de Mossoró (RN) desde a deflagração da Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Leonardo Vilela trocou ligações telefônicas e manteve encontros com ele, como admitiu à reportagem na sexta-feira. O deputado integra a lista de contatos políticos do contraventor elaborada pela PF.

Leonardo Vilela divulgou nota ontem em que diz ter conversado com Cachoeira por duas vezes. Em uma delas, há mais de um ano, pediu “apoio” ao bicheiro para conseguir uma entrevista de emprego para a filha. “Informaram-me que o empresário Carlos Ramos é ex-marido da presidente do instituto e que poderia nos ajudar. Como pai, fiz o pedido e ela conseguiu a entrevista de emprego.” Na nota, o deputado não informa se a filha foi contratada pelo ICF a partir da intermediação de Cachoeira. Ao Correio, o tucano admitiu que o favor prestado pelo bicheiro foi materializado. A filha de Leonardo Vilela é funcionária do instituto há mais de um ano.

O deputado exerceu o cargo de secretário de Meio Ambiente do governo de Goiás entre fevereiro de 2011 e março deste ano. Reassumiu o mandato na Câmara na semana passada, poucas semanas depois de se lançar pré-candidato à Prefeitura de Goiânia. É a aposta do PSDB para a retomada do poder na capital goiana, hoje na mão de um petista, o prefeito Paulo Garcia. Quando ele se tornou secretário, a filha de Leonardo Vilela era funcionária do estado de Goiás. “Para não se configurar nepotismo, procurei Cachoeira.”

O ICF existe desde 2002 e é tido como referência em estudos de equivalência farmacêutica, pesquisa clínica e controle de qualidade no ramo. A ex-mulher de Cachoeira, Andrea Aprígio, é sócia do instituto e dona também da Vitapan Indústria Farmacêutica, considerada pela PF como a principal empresa para lavagem do dinheiro obtido da exploração da jogatina. A Vitapan está avaliada em R$ 100 milhões, conforme a investigação da PF, e Andrea seria apenas testa de ferro do ex-marido.

Sociedade Outro sócio do ICF é Marcelo Henrique Limírio Gonçalves. O empresário é um dos donos do Instituto de Nova Educação, a Nova Faculdade, em Contagem (MG), que tem como sócio o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), flagrado em conversas telefônicas nas quais coloca o mandato a serviço de Cachoeira.

Em uma das ligações ao contraventor, Leonardo Vilela afirmou ter pedido ajuda para marcar um encontro com Demóstenes. “Eu precisava falar com ele, pois seu apoio seria importante para qualquer candidatura, caso desistisse. Todos sabem da amizade do senador com o empresário Carlos Ramos”, diz o deputado na nota divulgada ontem. “Nunca defendi negócios ilícitos nem participei de qualquer votação que pudesse favorecer esse empresário. Não sou investigado por qualquer ilicitude pela PF, muito menos nesta Operação Monte Carlo.” Na nota, Leonardo Vilela não cita os encontros que teve com Cachoeira. Um deles, segundo o próprio parlamentar, foi o batizado do filho de um vereador de Anápolis (GO), a cidade natal do bicheiro.