O globo, n. 30946, 29/04/2018. País, p. 10

 

Acampamento pró-Lula é alvo de tiros em Curitiba

Flávio Freire e Katna Baran

29/04/2018

 

 

Segurança voluntário foi atingido no pescoço e está em estado grave; prefeitura pede transferência de petista

Apoiadores do ex-presidente Lula foram atacados a tiros durante a madrugada de ontem. Eles estavam no acampamento montado em Curitiba desde a prisão do petista, no último dia 7. Duas pessoas ficaram feridas, uma delas, Jeferson Lima de Menezes, recebeu um tiro no pescoço. Ele continuava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital do Trabalhador até a noite de ontem. Em sua conta no Twitter, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que a militância que espera “providência rigorosa por parte das autoridades de segurança".

No início da noite, a polícia civil do Paraná apresentou imagens de câmeras de seguranças que mostram o suspeito fazendo disparos contra o acampamento. O material foi divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

— O suspeito chegou em um carro preto modelo sedan e foi caminhando até o acampamento. Depois de efetuar os disparos, fugiu — disse o delegado da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Curitiba, Fábio Amaro.

Por conta do episódio, a prefeitura de Curitiba pediu mais uma vez à Justiça para transferir o ex-presidente Lula. É a segunda vez que a Procuradoria Geral do Município faz a solicitação. Não houve resposta para nenhum dos dois pedidos. De acordo os militantes, um grupo contrário ao ex-presidente Lula rondava a área durante a madrugada desde as 2h, gritando palavras de ordem e exigindo que deixassem o local. Teriam sido disparados sete tiros contra os militantes.

Jeferson Menezes atuava na madrugada como segurança voluntário do acampamento. Ele é de São Bernardo do Campo e está em Curitiba prestando solidariedade ao ex-presidente. Uma foto, que circula nas redes sociais, mostra um casaco ensanguentado que supostamente seria de uma das vítimas.

— São dois ou três carros que estavam rondando o acampamento nos últimos dias. É só buscar as imagens desses veículos e deverão chegar aos autores — disse ontem o deputado Doutor Rosinha, presidente do PT no Paraná. O movimento informou que reforçará a segurança no acampamento.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública já havia informado que os tiros partiram de um indivíduo que estava a pé. Segundo o órgão, apenas uma pessoa foi levada para o hospital. Um outro tiro acertou o banheiro químico e os estilhaços feriram, sem gravidade, uma mulher no ombro.

As polícias militar, civil e científica do Paraná foram acionadas. Um grupo de peritos analisou as marcas de tiros no local ainda durante a madrugada. Foram recolhidas cápsulas de pistola 9 mm, e foi aberto um inquérito para apurar o caso.

Ao GLOBO, militantes disseram que são alvos de provocações de grupos anti-PT desde que chegaram à cidade. A polícia pretende aumentar a segurança na região, para onde está prevista uma grande manifestação na próxima terça-feira, 1º de Maio, dia do Trabalho. O evento está sendo organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a expectativa é reunir milhares de pessoas em uma área próxima à sede da PF, onde Lula está preso.

 

TIROS NA CARAVANA

É a segunda vez que apoiadores do ex-presidente são alvo de tiros. No último dia 27 de março, também no Paraná, um dos ônibus da caravana que o ex-presidente Lula fazia pelo sul do país foi atingido por disparos de arma de fogo. A perícia, dias depois, detectou que os disparos foram feitos de uma “arma antiga” e a 18 metros de distância.

Os tiros acertaram o ônibus em que estavam jornalistas que acompanhavam a caravana. Não foram disparados tiros contra o veículos em que estava Lula. Ninguém ficou ferido. (*Especial para O GLOBO)

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PSDB pagou dívida no exterior, diz ex-deputado

29/04/2018

 

 

Ronaldo Cezar Coelho afirma que recebeu 6,5 milhões de euros na Suíça

Ex-deputado federal apontado por delatores como operador do senador José Serra, o banqueiro Ronaldo Cezar Coelho afirmou à Polícia Federal que recebeu do PSDB 6,5 milhões de euros, entre 2009 e 2010, numa conta na Suíça. Os pagamentos, segundo Coelho, eram referentes ao uso de aeronave de sua propriedade por membros da sigla e aliados.

As tratativas para o uso do avião, de acordo com ele, foram feitas com o então presidente da sigla, Sérgio Guerra, que morreu em 2014. Segundo ele, Guerra queria, com as viagens, arregimentar aliados para fortalecer a campanha do partido à Presidência em 2010, que teve como candidato José Serra. O depoimento foi noticiado ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo" e confirmado por O GLOBO.

A assessoria de José Serra informou que ele não vai falar sobre o caso. O presidente do partido, Geraldo Alckmin, por meio da assessoria do PSDB, afirmou que “todas as receitas e despesas do PSDB foram devidamente contabilizadas e informadas à Justiça Eleitoral. O partido desconhece qualquer transação fora de sua contabilidade”.

 

DINHEIRO DA ODEBRECHT

Coelho relatou que pediu a Guerra para fazer os pagamentos diretamente à operadora de táxi aéreo Ocean Air. Mas o tucano teria afirmado que só poderia pagar os serviços no exterior. O depoente disse ainda que não sabia que os recursos tinham vindo da Odebrecht, uma vez que, nos extratos, apareciam diversas empresas e bancos. Coelho disse nunca ter tratado dos repasses com nenhum outro integrante do PSDB, além de Sérgio Guerra.

Os delatores da Odebrecht, por sua vez, afirmaram que, em 2009, o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, teria pedido R$ 30 milhões para as campanhas majoritárias do partido em 2010, incluindo a campanha presidencial. Segundo os colaboradores, parte do repasse foi feita por meio de pagamentos no exterior, totalizando R$ 23 milhões. Outra parte teria ocorrido por meio da entrega de dinheiro vivo no Brasil. As entregas em espécie teriam sido acertadas com Márcio Fortes, enquanto que os pagamentos no exterior teriam sido combinados com Ronaldo Cezar Coelho. De acordo com o ex-presidente da empreiteira, Pedro Novis, o próprio Serra, de quem foi vizinho em São Paulo, foi quem indicou os dois como interlocutores.

Segundo os colaboradores da Odebrecht, o acerto com Sérgio Guerra ocorreu em troca de o governo de São Paulo, administrado pelo PSDB, ter pago a uma das empresas do grupo Odebrecht R$ 191,6 milhões que estavam pendentes de obra na rodovia Governador Carvalho Pinto. A liberação dos recursos vinha se arrastando em um processo judicial e, segundo os delatores, a situação só foi resolvida depois de feitos os repasses dos valores para a campanha de Serra.

Em seu depoimento, Coelho admitiu que só declarou a existência da conta no exterior em 2016, quando a Odebrecht anunciou que iria colaborar com a Lava-Jato e o governo federal deu início ao programa de repatriação de dinheiro no exterior. O exdeputado disse que repatriou R$ 23,8 milhões ao Brasil em 2016. O dinheiro recebido na Suíça, segundo ele, era de comissões e investimentos realizados. Ele apresentou os comprovantes referentes à legalização dos recursos.

O depoimento de Ronaldo Cezar Coelho foi encaminhado ao STF pela própria defesa do banqueiro, que alega que os crimes atribuídos a ele já teriam prescrito. Coelho pede a extinção da investigação e o desbloqueio da conta no exterior. O caso está sob análise do ministro Gilmar Mendes. As defesas do ex-deputado e de Márcio Fortes não foram encontradas ontem para comentar o caso.