Título: Mercado de US$ 2,2 trilhões
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Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2012, Economia, p. 9

Washington — O peso que os Estados Unidos têm na economia mundial não decorre apenas do fato de ter o maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, de US$ 15 trilhões, e de ostentar uma renda per capita invejável, de US$ 48,1 mil — quatro vezes maior que a brasileira. O país comandado por Barack Obama, com o qual a presidente Dilma Rousseff se encontrará amanhã, é o maior importador do mundo. Somente no ano passado, gastaram US$ 2,2 trilhões, praticamente um Brasil, para absorver mercadorias de todo o planeta. Não por acaso, a questão comercial dominará as conversas entre os líderes das duas maiores potências das Américas.

O desejo de consumo dos norte-americanos é tamanho que a balança comercial dos EUA registrou deficit de US$ 715 bilhões em 2011, volume equivalente à soma de todas as riquezas produzidas em um ano pela Argentina e a África do Sul juntas. O Brasil, por sua vez, registra superavit na balança com quase todos os parceiros comerciais. Entre as poucas exceções, estão os Estados Unidos. No ano passado, o país comprou US$ 8,3 bilhões a mais do que exportou para os norte-americanos — um recorde. "Por isso, o Brasil não deve ignorar os Estados Unidos como parceiro comercial. Como eles compram de tudo, temos chances de voltar a registrar superavits na balança", diz o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (Mdic), não há tempo a perder. Em um momento em que o Brasil convive com o fantasma da desindustrialização, é na maior economia do planeta que reside a oportunidade de exportar produtos de alto valor agregado. "A pauta comercial do Brasil com os EUA é muito diferente da que vemos com a China. Para os asiáticos, vendemos basicamente produtos básicos. No caso dos EUA, mesmo tendo deficit, o Brasil exporta manufaturados", explica. O problema é que, cada vez menos, o país embarca produtos industriais para os Estados Unidos. A pauta de vendas vem se restringindo a commodities. Pelos cálculos da AEB, em 2002, sete entre 10 mercadorias brasileiras destinadas aos EUA eram manufaturados e três, produtos primários. Atualmente, essa relação é quatro manufaturados para seis básicos e semimanufaturados.

Apesar do distanciamento político entre os dois países durante a era Lula, o comércio entre Brasil e EUA nunca recuou efetivamente. "O crescimento decorreu, principalmente, das trocas entre empresas, ou seja, de multinacionais norte-americanas instaladas no país. E isso não depende das ações do governo", explica José Augusto de Castro. Não é o que pensa a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres. "O governo tem feito ações promocionais nos EUA e o diálogo bilateral entre o Mdic e o Departamento de Comércio dos EUA é intenso. Temos nos reunido a cada seis meses, as discussões têm avançado e a agenda, ficado bastante positiva", assegura.

Na avaliação de Tatiana, é impossível para o Brasil desprezar os EUA como parceiro comercial, pois as trocas entre os dois países avançam em um ritmo mais acelerado do que com a China. Enquanto as compras chinesas cresceram 8,8% de janeiro a março deste ano, as norte-americanas saltaram 38,8%. A continuar esse ritmo de crescimento, a secretária acredita na possibilidade de os Estados Unidos voltarem a ser, ainda neste ano, o maior parceiro comercial do país, resgatando o posto tomado pela China.

"Não podemos esquecer que, nos dois primeiros meses deste ano, os EUA já superaram os chineses como maiores compradores de produtos brasileiros, graças ao embarque de soja", destaca o presidente da AEB. "Mas durou pouco", alfineta ela. Para Tatiana, o importante é que o deficit na balança do Brasil com os EUA está diminuindo. No primeiro trimestre de 2011, somou US$ 2,3 bilhões. No mesmo período deste ano, caiu para US$ 770 milhões.

Tema espinhoso Em meio às discussões sobre comércio, o governo de Barack Obama pretende abordar com Dilma Rousseff como os Estados Unidos podem ter participação maior na exploração de petróleo na costa brasileira. O assunto, porém, passou a gerar atritos, devido aos recentes vazamentos de óleo em instalações da empresa Chevron na Bacia de Campos, que resultaram em ações judiciais no valor de até US$ 22 bilhões.