Título: Uma proposta para os extras
Autor: Valadares, Joao
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2012, Política, p. 2

Uma proposta para os extras

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu ontem, durante a sessão da Comissão de Assuntos Econômicos, emenda ao relator do projeto para reverter os recursos gastos atualmente com o pagamento dos extras aos congressistas em prol de financiamento do programa de renda básica e cidadania. De acordo com o parlamentar, é a maneira que o Senado tem de ajudar uma grande parcela de brasileiros. Questionado se já existiria um fundo para a destinação do dinheiro, Suplicy alegou que seria necessária a aprovação de uma nova lei.

De forma reservada, alguns senadores criticaram a iniciativa do parlamentar. "Acho que não iria pegar muito bem. Não duvido da boa intenção, mas abre margem para dizerem que estamos querendo jogar para a plateia e ainda lucrar eleitoralmente com essa ação", afirmou um senador petista. Apesar de a sugestão ter sido feita formalmente na CAE, o relator do projeto que prevê o fim dos extras, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), não se posicionou no momento uma vez que a votação já havia sido adiada.

Nos oito anos de mandato, o custo com o pagamento dos dois rendimentos adicionais no Senado Federal é de R$ 34,6 milhões. A Câmara dos Deputados gasta, em quatro anos, R$ 109,6 milhões. No caso dos senadores, como não existe nenhum desconto de Imposto de Renda no momento em que recebem o 14º e 15º salários, a Receita Federal deixar de arrecadar R$ 8,4 milhões, considerando todo o mandato. Por ano, cada senador deixa de pagar ao Fisco R$ 12,94 mil. Ao término dos oito anos, o parlamentar embolsa R$ 103,58 mil.

A tendência é que a votação na próxima terça-feira seja bastante divergente. "Existe um bloco se movimentando para não aprovar a proposta. No entanto, a pressão da opinião pública é muito forte em relação a esse tema e tudo pode acontecer", afirmou um integrante da CAE.

Levantamento realizado pelo Correio com os integrantes da comissão aponta que a maioria fugiu do tema. Dos 27 senadores, 14 preferiram não se manifestar sobre o assunto, 11 declararam ser contra, um a favor e outro não foi localizado. No entanto, quando o diagnóstico foi realizado com os 81 parlamentares da Casa, 41 deles, o que representa a maioria simples, se mostraram favoráveis à extinção do benefício.

Colaborou Grasielle Castro

Povo fala

Os senadores adiaram ontem a votação do projeto que acaba com os salários extras dos parlamentares. Qual sua opinião sobre o pagamento da mordomia?

Suzane de Oliveira, 24 anos, operadora de logística

"Essa questão é um absurdo. Eles recebem esse tanto de salário mais benefícios para trabalharem só três dias por semana e ainda têm poder para decidir se querem continuar recebendo ou não"

Sebastião Costa, 31 anos, encarregado de laboratório

"É de deixar qualquer um indignado. Falta verba para saúde, para educação, mas tem dinheiro suficiente para verba de gabinete, 14º e 15º? Infelizmente, não acredito que vão acabar com essas regalias"

Daniella Fernandes, 21 anos, estudante

"Já não basta receber um salário altíssimo 13 vezes ao ano? Receber 15 vezes é imoral, não faz sentido algum. As leis trabalhistas deveriam ser iguais para todos, principalmente no serviço público"

Jonas Nascimento, 22 anos, porteiro

"É por isso que o Senado é uma farra, porque é o lugar onde as mordomias se mantêm. E os senadores vão continuar adiando e só votarão o que é de interesse deles, e não da população"

Renata Sampaio, 38 anos, administradora

"Com tanto trabalhador lutando para receber o 13º salário, que é de direito, e os senadores ainda têm coragem de receber 14º e 15º. Eu tenho vergonha de ver isso acontecendo"

Alan Bem, 29 anos, técnico de informática

"Sou totalmente contra esse exagero de benefícios. Os senadores não são melhores que os outros trabalhadores para receberem