Título: Independentes, mas com um pé no Planalto
Autor: Gama, Junia
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2012, Politica, p. 4

Apesar do clima de insatisfação e de Garotinho, que quase arregimentou aliados para a oposição, PR prega a liberdade em relação ao Executivo. Entretanto, ensaia reaproximação

A bancada do PR na Câmara decidiu ontem que irá manter a postura de "alinhamento independente" em relação ao governo federal. Ao contrário dos senadores, que partiram para a oposição na semana passada após embate entre o líder Blairo Maggi (PR-MT) e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, os deputados avaliaram que o partido tem mais a ganhar se permanecer como está. A tendência é, inclusive, que os deputados do PR, com exceção dos evangélicos, votem com o governo na Lei Geral da Copa.

A decisão, anunciada na noite de ontem, já havia sido tomada pela bancada há alguns dias, conforme adiantou o Correio. A falta de resposta do Planalto às pressões do PR no Senado para retomar o controle do Ministério dos Transportes e o temor em perder espaço nas eleições municipais acenderam o alerta vermelho na Câmara. Durante reunião de quase quatro horas, que terminou pouco antes das 22h, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) tentou convencer os colegas a aprovar um "indicativo de oposição" ao governo federal. A proposta, no entanto, não obteve sucesso. "O Garotinho é um incendiário. Ele acha que o governo só vai nos respeitar pelo tamanho do mal que nós podemos fazer. Agora, o governo vai sentir que ainda tem aliados no partido", pontuou uma liderança do PR.

A própria bancada no Senado já ensaia um recuo da declaração de guerra. Ontem, o presidente do partido, senador Alfredo Nascimento (PR-AM), afirmou que "nunca houve imposição ao governo" para que o partido voltasse à base. Segundo o ex-ministro dos Transportes, afastado do cargo após denúncias de corrupção, o que os republicanos querem é um pouco de atenção. "Nunca disse que só voltaríamos se for no ministério. Política é tapinha nas costas, tomar um café e respeitar. Não é só ministério. Nada é irreversível na política", disse ontem, na saída da reunião entre os presidentes dos diretórios estaduais do partido.

Se até o início de abril as bancadas da Câmara e do Senado não estiverem caminhando juntas, a executiva nacional da PR irá se reunir para unificar as posições. "Não existe Senado de um jeito e Câmara do outro", aponta Nascimento. "A maioria do partido decidiu fazer uma reunião com a Executiva Nacional para definir um consenso entre as duas Casas. Ou nós vamos para a oposição, ou eles voltam para a base", endossou o líder do PR na Câmara, deputado Lincoln Portela.

Propaganda eleitoral Apesar do abrandamento, a Executiva Nacional do PR definiu que ao menos uma conta o governo terá de pagar: as 40 inserções de 30 segundos a que o partido tem direito nessas eleições municipais serão regionalizadas. Com isso, as inserções, que até o último pleito eram usadas em âmbito nacional, com o partido vinculando seu apoio ao governo federal, ficam suspensas.

A situação nos estados também muda. Se antes a diretriz para a aliança nos municípios era voltada para candidaturas que tivessem o apoio do governo federal, agora, a regra passa a ser a independência. Os diretórios regionais estão livres para buscar alianças nas quais seja oferecido o maior espaço. Com isso, o PR desvincula um apoio automático a candidatos chancelados pelo Planalto, como Fernando Haddad, em São Paulo. "A crise contaminou o ambiente. Como a relação com o governo federal está assim, a Executiva Nacional interfere nessas alianças", afirma Alfredo Nascimento.

O debate para definir alianças e coligações, no entanto, fica para depois. "Para quê discutir isso agora? Temos até junho para definir isso", alegou um interlocutor da legenda. Até a semana passada, a expectativa era de que essa reunião definiria, por exemplo, o encerramento das conversas do PR com o PT em São Paulo e o embarque da legenda na candidatura de José Serra (PSDB). "Quando eu vi qual era a pauta da reunião, eu nem fui", disse o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT).

O partido alega que alianças eleitorais só são confirmadas nas convenções políticas de junho e que no caso de São Paulo, por exemplo, o PT não conseguiu ainda montar a equipe de campanha do pré-candidato Fernando Haddad, enquanto o PSDB sequer definiu quem será o candidato do partido, já que as prévias vão acontecer no domingo. "Se eles não têm pressa, por que nós precisamos ter?", indagou uma liderança do PR.

Bolo e salgadinhos para Ideli A reunião de lideranças que ocorre todas as segundas-feiras com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e os líderes do PMDB e do PT começou um pouco mais tarde nesta semana. O encontro, marcado para às 19h, se iniciou por volta das 20h por conta de uma comemoração surpresa para a ministra, que fez completou 60 anos no último domingo. A festa foi organizada pelos funcionários da secretaria, mas os líderes que foram chegando para a reunião aproveitaram os comes e bebes. Depois da festa, Ideli mandou salgadinhos para os jornalistas no comitê de imprensa.