Valor econômico, v. 17, n. 4440, 11/02/2018. Brasil, p. A2.​

 

 

Recuperação da produção industrial do país em 2017 deixa o Nordeste para trás

Bruno Villas Bôas

09/02/2018

 

 

Depois de três anos no vermelho, a produção da indústria brasileira voltou ao campo positivo no ano passado, ao registrar avanço de 2,5% na média nacional. Embora disseminada, atingindo 12 dos 15 locais pesquisados, a retomada deixou para trás a região Nordeste, que apresentou queda de 0,5% na produção frente ao ano anterior.

Na Pesquisa Industrial Mensal-Regional (PIM Regional), divulgada ontem pelo IBGE, o Nordeste é representado por Ceará, Pernambuco e Bahia, além de outros Estados que não têm resultados individualmente divulgados. No Ceará, a produção cresceu 2,2%, mas o resultado foi insuficiente para compensar as perdas de Pernambuco (-0,9%) e Bahia (-1,75%).

 

Segundo Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o pior desempenho do Nordeste pode estar relacionado ao perfil do parque fabril da região, menos voltado para a produção de bens duráveis e bens de capital. Essas duas categorias foram as que mais registraram maior expansão da produção em 2017.

"A indústria nordestina é voltada para bens de consumo não duráveis, que dependem mais de renda e emprego. São pontos que ainda precisam ser melhorados para uma reação mais nítida desses setores", disse Cagnin, ressaltando que Bahia e Pernambuco têm atividades relacionadas a refino.

O desempenho da Bahia foi o pior do país. A queda de 1,7% na produção no Estado tem origem na menor produção de derivados do petróleo e biocombustíveis. O IBGE não detalha a fonte dessa queda, mas uma consulta aos dados da ANP mostra que o volume de petróleo refinado na Refinaria Landulpho Alves (RLAM), da Petrobras, caiu 6,6% em 2017. A metalurgia baiana também produziu menos no ano passado.

O Iedi pondera que a queda do setor industrial na região Nordeste havia sido menos intensa do que na média do país nos últimos anos, o que pode ajudar a explicar uma demora maior para a retomada. Em 2015, a produção recuou 8,3% na média nacional; no Nordeste, porém, a baixa foi de 3% naquele ano. O mesmo se repetiu em 2016, quando a queda média nacional foi de 6,4% e no Nordeste, de 2,8%.

"Se você pensar em termos eleitorais, não sei o que pode pesar mais na cabeça do eleitor: a memória relacionada às perdas durante a crise, ou a perspectiva otimista com sinais de recuperação. Se for o trauma maior do período de declínio, o Nordeste teve perdas menores no passado", disse o economista do Iedi.

No quarto trimestre, a produção industrial do Nordeste ficou estável em relação ao mesmo período de 2016. O terceiro trimestre foi o único com aumento de produção em 2017, de 1,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Também neste caso, a perda de ritmo foi provocada pela Bahia, que desacelerou de 6,8% no terceiro trimestre para queda de 0,6% no quarto.

Por outro lado, a produção industrial paulista cresceu 3,4% no ano passado e liderou a retomada do setor no país. Maior e mais diversificado parque fabril, o avanço da produção em São Paulo foi responsável por 40% do resultado nacional da indústria, segundo cálculos de André Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE.

Além de São Paulo, foram também destaques positivos da produção industrial no ano passado o Estado do Amazonas (3,7%), Santa Catarina (4,5%), Paraná (4,4%) e Rio de Janeiro (4,2%). O Amazonas foi impulsionado pela Zona Franca, enquanto Santa Catarina e Paraná foram influenciados pelo processamento de alimentos. O Pará cresceu 10,1%, puxado basicamente pelo minério de ferro.