O globo, n. 30943, 26/04/2018. País, p. 7

 

Rocha Loures diz que não sabia de dinheiro em mala

Aguirre Talento

26/04/2018

 

 

Ex-assessor de Temer foi flagrado com R$ 500 mil

-BRASÍLIA- Preso pela Polícia Federal (PF) em junho de 2017, depois de ter sido filmado arrastando pelas ruas de São Paulo uma mala com R$ 500 mil, Rodrigo Rocha Loures, o ex-assessor do presidente Michel Temer, apresentou à Justiça Federal, pela primeira vez, a sua versão sobre o episódio. Em uma petição de 49 páginas obtida pelo GLOBO, Rocha Loures afirma que recebeu a mala do delator Ricardo Saud, ex-executivo da J&F, “sem saber qual era seu conteúdo” e disse que “desconhecia quaisquer acertos, pagamentos e condições” relacionadas à mala.

Na denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou Loures de ser um emissário do presidente Michel Temer. Nas palavras do então procurador-geral Rodrigo Janot, o então assessor presidencial seria o “longa manus” de Temer, encarregado de buscar a mala e entregá-la a seu destinatário final. Temer foi acusado de corrupção passiva no caso, mas livrou-se temporariamente de responder ao processo porque o Congresso rejeitou a denúncia.

No documento entregue à Justiça, Loures não explica por que correu com a mala, por que devolveu os R$ 500 mil recebidos, por que estavam faltando R$ 35 mil e não detalha mais o assunto.

“É impossível demonstrar qualquer liame subjetivo porque tal vínculo nunca existiu, pois Rodrigo Rocha Loures desconhecia quaisquer acertos, pagamentos ou condições, (...) tendo recebido a mala de Ricardo Saud sem saber qual era seu conteúdo”, diz a peça de defesa de Loures.

 

PF GRAVOU CONVERSAS

As gravações feitas pela Polícia Federal na Operação Patmos, porém, colocam em dúvidas a versão apresentada por Loures. Em uma das conversas gravadas por Saud antes de se encontrar com Rocha Loures em uma pizzaria no dia 28 de abril do ano passado para entregar a mala de dinheiro, o delator afirma:

— Você, por ter nos ajudado, já tem quinhentos mil guardadinho. Tá guardado comigo em casa e eu não quero ficar.

Loures responde, de acordo com a transcrição da PF:

— Tá.

A defesa, apresentada pelo advogado de Loures, Cezar Bitencourt, em fevereiro. O documento foi protocolado na ação penal à qual Loures responde na Justiça Federal de Brasília, após desmembramento determinado pelo STF. Temer também havia sido denunciado sob acusação de corrupção passiva, mas não se tornou réu porque a Câmara dos Deputados suspendeu a abertura da denúncia. Na peça, Rocha Loures defende Temer, afirmando que não houve comprovação de que a mala seria para o peemedebista.

“O simples fato de Rodrigo ter exercido a posição de assessoria do presidente não caracteriza concretamente o acerto de vontades para o cometimento de ilícitos. Afinal, a Presidência conta com diversos assessores, sendo pouco razoável presumir que, ao exercer um cargo próximo ao chefe do Executivo, esses profissionais estão automaticamente anuindo com toda e qualquer ação do presidente da República”, diz a defesa.

Loures se tornou réu do caso em dezembro do ano passado, quando o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do DF, aceitou o recebimento da denúncia.

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Joesley conta como presidente do PP pegou R$ 500 mil em garagem

Mateus Coutinho

26/04/2018

 

 

Empresário diz que Ciro Nogueira recebeu mala de executivo da JBS

-BRASÍLIA- Como parte de sua nova leva de depoimentos à Polícia Federal, o empresário e delator Joesley Batista, da J&F, deu mais detalhes aos investigadores sobre as acusações feitas contra o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), no anexo complementar da colaboração premiada entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) no dia 31 de agosto do ano passado. Ouvido pelo delegado Cleyber Malta Lopes, que cobrou detalhes do delator em sua narrativa, Joesley contou que o ex-diretor do grupo J&F Ricardo Saud entregou uma mala com R$ 500 mil a Ciro Nogueira na garagem de sua casa.

O depoimento foi prestado no último dia 6 de abril, no âmbito do inquérito para apurar as suspeitas de omissões dos delatores do Grupo JBS após a revelação de diálogos gravados acidentalmente entre Joesley e Saud. Dentre os episódios que não haviam sido citados na leva de depoimentos de maio do ano passado estava o de Ciro Nogueira.

Em seu relato, Joesley contou que, em 17 de março do ano passado, houve uma reunião entre ele, Saud e o senador por volta das 19h. O encontro teria sido gravado “para registrar os diálogos e tratativas de entrega de R$ 500 mil para Ciro Nogueira, o que de fato ocorreu”. Segundo Joesley, a mala foi entregue por Saud a Nogueira na garagem da casa do empresário, em São Paulo.

Em depoimento anterior, Joesley já havia relatado a entrega dessa quantia para Nogueira, como pagamento de propina, sem dar os detalhes que acrescentou no novo depoimento.

Segundo o relato do empresário, ele repetiu o método usado com o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente Michel Temer, e que se tornou a cena mais conhecida da delação: uma mala de R$ 500 mil, também entregue por Ricardo Saud em São Paulo.

O advogado de Ciro Nogueira disse, por nota, que ele nunca recebeu dinheiro de Joesley Batista e que a gravação da conversa vai comprovar isso. Disse, ainda, que Ciro Nogueira mantinha com Joesley uma relação “republicana” de um senador com um grande empresário.

 

SENADOR FOI ALVO DA PF

O senador do PP foi um dos alvos de uma operação da Polícia Federal deflagrada na terça-feira, por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). A pedido da PGR, foram feitas buscas nas residências de Nogueira em Brasília e em Teresina, que chegaram a encontrar R$ 200 mil em dinheiro em espécie. Segundo a defesa do parlamentar, parte do valor foi declarado e parte era da mulher do senador.

A PGR suspeita que Ciro teria atuado para tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato contra ele por meio de ameaças e até pagamentos a um ex-assessor dele que vem colaborando com as investigações. Ciro está na Europa e nega as acusações.