Valor econômico, v. 17, n. 4441, 14/02/2018. Empresas, p. B1.​

 

 

Odebrecht busca fôlego de até R$ 3,5 bilhões para enfrentar 2018

Graziella Valenti

14/02/2018

 

 

A Odebrecht (ODB) começou a conversar com bancos comerciais nacionais com objetivo de obter entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3,5 bilhões para fazer frente a compromissos financeiros e de projetos. E, com isso, conseguir algum fôlego para passar o ano. As próximas semanas devem ser decisivas nessa negociação.

O Valor apurou que há duas frentes de trabalho em curso e que, em breve, elas tendem a se unir. Ambos os diálogos tem por base a estrutura financeira atual, em que ações da controlada Braskem servem de garantia para empréstimos que somam R$ 7 bilhões. Os dividendos desses papéis ficam também com os bancos, como rendimento dos créditos, e não chegam à holding do grupo - a ODB.

No início do ano passado, a participação detida na Braskem valia R$ 9,5 bilhões. Esse montante subiu para R$ 14,5 bilhões. O ganho abriu uma folga expressiva na cobertura e é em cima dela que a Odebrecht quer mais recursos.

Valorização do ativo petroquímico foi a única grande notícia boa para grupo, que ainda sofre impactos da Lava-Jato

O grupo tem pela frente R$ 1,2 bilhão em vencimentos da construtora e diversos compromissos com projetos para honrar.

A despeito da pressão no curto prazo, fonte que acompanha o assunto afirma que, no momento, a perspectiva de solução é boa. "O grupo tem demonstrado que está se esforçando para conduzir tudo com respeito aos credores."

Em nota, a ODB afirmou ao Valor que vem negociando formas para enfrentar, neste ano, o que considera "seus últimos desafios financeiros", após a reestruturação das dívidas de R$ 11 bilhões da Atvos (antiga Agroindustrial) e de US$ 5 bilhões da Ocyan (ex-Odebrecht Óleo e Gás) nos dois últimos anos.

A valorização da Braskem foi o único fato relevante positivo para o grupo em 2017. Contudo, o aumento do valor da petroquímica na bolsa não significa dinheiro para as companhias. Daí a necessidade dessa conversa com os bancos. A Odebrecht detém 38% da empresa. Essa fatia é 60% detida pela holding ODB e 40% pela Odebrecht Engenharia e Construção.

As entradas de recursos que o grupo contava que aconteceriam no ano passado, além da obtenção de R$ 2,5 bilhões pela venda da Odebrecht Ambiental, não se concretizaram. Havia grande expectativa de que fosse fechada a alienação da hidrelétrica Santo Antonio Energia, sociedade com Andrade Gutierrez e a estatal mineira Cemig, numa transação bilionária.

Além disso, nenhum centavo da venda da hidrelétrica de Chaglla, no Peru, chegou aos cofres do grupo devido à falta de acordo com o governo peruano. Isso é necessário por causa das denúncias de corrupção locais, que vieram à tona após a assinatura do acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ). O negócio traria US$ 1,4 bilhão ao grupo e permitiria a quitação de US$ 1,2 bilhão em compromissos ligados ao ativo.

O plano previa que a diferença ficasse depositada para o governo do Peru, até um acordo. As conversas com o Estado, porém, não só estão paralisadas como o cenário político é bastante complexo. Sobre isso, a companhia informou que "aguarda a autorização do governo peruano para a finalização do negócio".

A frustração nas expectativas de entrada de recursos novos somou-se à continuidade no aperto da Odebrecht Engenharia e Construção (OEC). Só nos primeiros nove meses de 2017, a construtora consumiu metade de seu caixa, fazendo a posição cair para pouco mais de R$ 2 bilhões ao fim de setembro. O volume é considerado apertado só para tocar a operação. Fica tudo pior com os vencimentos financeiros. Sem dinheiro novo, a construtora sozinha não fecha a conta.

Simultaneamente aos ajustes de governança e custo pelos quais a OEC passa, a Odebrecht decidiu há cerca de um ano procurar um sócio para capitalizar a controlada, que esteve no coração das denúncias da Operação Lava-Jato. Mas até agora nada de concreto ocorreu. Pessoas que acompanham o tema afirmam que é muito difícil qualquer movimento avançar antes que esteja resolvida a questão da inidoneidade, em trâmite no Tribunal de Contas da União (TCU).

De tudo que OEC precisa desembolsar no ano, o que mais preocupa são R$ 500 milhões em bônus internacionais. Os papéis têm garantia da ODB. Qualquer problema com esse débito pode trazer consequências sérias ao grupo, com antecipação de vencimentos.

Além dos esforços da holding, a OEC também tenta destravar recursos. A empresa afirma trabalhar "na liquidez dos seus recebíveis e na liberação dos financiamentos já contratados para fazer face a essa obrigação".

O último balanço publicado pela ODB é de 2015. É difícil estimar em quanto está o endividamento consolidado. No começo do ano passado, a holding tinha R$ 93 bilhões em dívida bruta, para R$ 17 bilhões em caixa (R$ 8 bilhões de Braskem e R$ 4 bilhões de OEC).

A Odebrecht disse, em nota, que considera ter feito "importantes avanços nos últimos dois anos" e acredita que "a trajetória de reestruturação empresarial a levará em breve à retomada do crescimento".