Valor econômico, v. 17, n. 4434, 01/02/2018. Brasil, p. A3.​

 

 

Com vaga precária, desemprego vai a 11,8% e tende a cair este ano

Bruno Villas Bôas e Thais Carrança

01/02/2018

 

 

Depois de surpreender positivamente ao longo do ano passado, o mercado de trabalho deve seguir em gradual recuperação em 2018. Analistas consultados pelo Valor estimam que a taxa de desemprego, que foi de 11,8% no quarto trimestre de 2017, deve ceder para 10% a 11,3% no fim deste ano. Mais do que uma redução da taxa, eles acreditam que a recuperação da atividade econômica em ritmo mais rápido vai produzir empregos de melhor qualidade no país, com carteira de trabalho assinada. Em 2017, a melhora foi integralmente calcada em postos informais e por conta própria, o que levou a uma precarização do mercado de trabalho.

Conforme dados divulgados ontem pelo IBGE, a taxa de desemprego foi de 11,8% no quarto trimestre do ano passado, 0,2 ponto percentual abaixo do mesmo período de 2016 (12%). Isso foi resultado da geração de 1,8 milhão de empregos, quase todos informais - 598 mil pessoas foram empregadas sem carteira assinada e 1,1 milhão começaram a trabalhar por conta própria. Com toda a melhora, havia 12,3 milhões de pessoas desempregadas no país.

Segundo economistas, o ritmo de geração de vagas não deve ser muito diferente neste ano: de 1,75 milhão a 2 milhões de pessoas devem encontrar uma ocupação. Essa desempenho estará assentado, no entanto, em uma recuperação mais acelerada e disseminada da atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 2,66% em 2018, superior ao 1% estimado para o ano passado, de acordo com as projeções de analistas ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central.

"O emprego informal foi uma válvula de escape e responsável por essa recuperação do emprego em 2017, mais rápida que a imaginada. Com a atividade acelerando, a expectativa é que haja mais geração de postos formais de trabalho. Faz mais sentido agora para o empregador pagar os custos relacionados a uma contratação", disse Arthur Manoel Passos, analista do Itaú Unibanco, que projeta taxa de desemprego em 11,3% no quarto trimestre deste ano.

Essa recuperação do emprego formal já estaria em curso nos últimos meses, segundo Bruno Ottoni, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Como o trabalho com carteira geralmente paga melhores salários e tem maior estabilidade, o economista não descarta uma mudança de comportamento das famílias em direção ao mercado de trabalho.

"Durante a crise, membros de uma mesma família deixaram a inatividade para buscar emprego e apoiar a renda do lar. É um movimento que pode agora cessar, especialmente com a retomada do emprego formal pelos chefes de família. Se confirmado, filhos e cônjuges poderão deixar de procurar emprego e reduzir a pressão sobre o mercado. Isso pode contribuir para uma queda ainda maior da taxa de desemprego", disse Ottoni.

No campo dos salários, a consultoria Tendências prevê crescimento real 1,3% no rendimento médio real ao fim deste ano, frente ao quarto trimestre de 2017. Essa alta, uma vez confirmada, seria ligeiramente menor que a apurada em 2017, de 1,6% no três últimos meses do ano. Por um lado, empregos de melhor qualidade pagam melhores salários. De outro, o reajuste do salário mínimo foi menor em 2018 e a inflação deverá ser maior.

Para analistas, o ano ainda guarda, porém, uma série de riscos para a atividade econômica e para o mercado de trabalho. O ambiente global, a incerteza fiscal e as eleições presidenciais são o tripé que pode gerar instabilidade na recuperação da atividade e do emprego em 2018, devido ao seu potencial para afetar a confiança e a oferta de crédito para as empresas, segundo Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.

"Existe um consenso entre os economistas de que a recessão acabou e a retomada está em curso. O dissenso que existe é quanto ao ritmo, se prevalecerá uma retomada mais robusta ou mais frágil", afirma Padovani, que está na ponta mais otimista do espectro, prevendo uma taxa de desemprego de 10% ao fim deste ano, bem abaixo da taxa de 11,8% registrada no quarto trimestre de 2017.

"O que pode ser um risco neste cenário é um mercado de crédito muito travado, principalmente para as empresas, o que pode dar um tom um pouco mais negativo para 2018 do que eu imagino", diz Padovani.

Para Daniel Silva, economista da Modal Asset, uma recuperação mais consistente do trabalho formal só deve ocorrer passadas as eleições, no último trimestre deste ano ou começo de 2019. "O grande fator para isso seria uma retomada mais forte da indústria e dos investimentos, o que só tende a ocorrer passadas as eleições e concretizado o cenário de um candidato de centro-direita, que continue a atual agenda de reformas. Até lá, o mercado formal tende a continuar mais lento, diante do atual cenário de incertezas", afirma o economista.