Título: Presidente imune à rebeldia dos aliados
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Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2012, Política, p. 4
A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem — que ouviu 2.002 pessoas — mostrou que a presidente Dilma Rousseff está mais forte do que o governo que comanda. A diferença entre a aprovação pessoal (77%) e a avaliação positiva da gestão (56%) é de 21 pontos percentuais. Dilma é encarada pela população como uma administradora capaz de resistir às chantagens do Congresso, uma instituição tradicionalmente mal avaliada pelos brasileiros. Ela surfou na onda da faxina ministerial em 2011 e, nesse ano, decolou de vez ao não ceder às pressões dos aliados por cargos e emendas, mesmo sofrendo derrotas contundentes como a não recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Para os especialistas, a presidente ganha novos argumentos daqui para a frente para não ouvir o choro dos parlamentares aliados. Nesse ponto, ela diferencia-se de seu antecessor, que aproveitava a popularidade para transferir votos e eleger candidatos aliados. Dilma, segundo os analistas, ainda não cedeu à essa tentação. Mesmo assim, a popularidade sempre é uma ferramenta a ser usada a favor de quem a desfruta. "O único caso em que a popularidade não adiantou foi na Proclamação da República foi proclamada, em 1889, no período em que a monarquia obtinha as melhores avaliações da população", disse o professor José Luiz Orero, do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).
Comparação O resultado embute uma avaliação curiosa, na opinião de especialistas ouvidos pelo Correio: Dilma consegue ter um governo ainda mais personalista do que o do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Nos oito anos em que Lula esteve no Palácio do Planalto, a avaliação pessoal também superava a de governo, mas a distância entre as duas não era, em média, tão grande quanto a atual. "O impressionante é que ela não tem o carisma e a comunicação direta com a população que o Lula tinha. Nem faz questão disso mas, mesmo assim, vem superando seu mentor nas avaliações positivas", disse o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez.
O professor José Luiz Orero reconhece que, ao assumir a bandeira da faxina, apesar de considerar que essa seja uma definição machista, a presidente acabou apropriando-se de símbolos que eram da oposição. "Ela angariou simpatia da classe média, um público mais ligado ao PSDB", completou Orero. A situação da presidente ficou ainda mais fácil com os recentes escândalos envolvendo parlamentares da oposição, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). A pesquisa divulgada ontem mostrou que os brasileiros se queixam da alta carga tributária, da saúde e da segurança pública.
Ceticismo na Rio+20 A presidente Dilma Rousseff elevou o tom e indicou qual deve ser a postura do Brasil na Rio +20, durante encontro do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Defendendo a necessidade de base científica para as discussões, Dilma afirmou que o papel do Brasil será "propor um novo paradigma de crescimento, que não pareça a alguns extremamente etéreo ou fantasioso. Porque ninguém, numa conferência dessas, aceita, me desculpem, discutir fantasia. Ela não tem espaço, a fantasia", sustentou. (Juliana Braga)