Valor econômico, v. 17, n. 4434, 01/02/2018. Política, p. A8.​

 

 

Condenação de Lula não afeta dianteira na corrida eleitoral

Raphael Di Cunto

01/02/2018

 

 

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em segunda instância, que praticamente o inviabilizou como candidato à Presidência, não moveu o quadro eleitoral, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo". O petista continua a liderar e, quando é excluído da disputa, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) assume a ponta, com Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Luciano Huck (sem partido) disputando a vaga no segundo turno.

Para o PT, a pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que o petista "não perdeu um só voto" após a condenação - que a legenda acusa de ser uma perseguição - e que a eleição sem o ex-presidente será cassar o direito de voto de milhares de pessoas, criando "imenso vazio de democracia".

Já o PSDB, cujo candidato favorito, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, patina nas pesquisas, usou exemplos de crescimento dos tucanos em eleições passadas para dizer que é cedo para avaliar. "Meu partido ainda nem definiu quem será o candidato", desconversou Alckmin. Na mesma linha foram partidos governistas, como o DEM, que viu como natural o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que não se lançou oficialmente, pontuar apenas 1%.

A mudança mais drástica em relação ao último Datafolha, de 29 e 30 de novembro, é a redução na rejeição a uma candidatura de Temer: era 71% logo após a Câmara descartar a segunda denúncia criminal contra ele e está em 60% agora. Isso, porém, não se expressou no apoio a um candidato do emedebista. Assim como em novembro, 87% dizem hoje que não votariam no apoiado por Temer.

O governo Temer também continua mal avaliado: 70% dos entrevistados dizem que é ruim ou péssimo, só 6% acham ótimo ou bom. O resultado é apenas um ponto percentual melhor para ele do que em novembro. Os quatro candidatos mais identificados com o governo, Maia, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC) e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), além do próprio Temer, mal passam de 1%. Além de Huck, um outro outsider foi testado, Joaquim Barbosa, que oscilou entre 3% e 5%.

Não houve aumento relevante na rejeição a Lula (40% dizem que não votariam nele, eram 39%) por causa da condenação, nem a Bolsonaro (29%, eram 28%), que virou alvo de reportagens sobre seu patrimônio e entrou em polêmicas ao responder os questionamentos. Os outros candidatos também não tiveram alterações significativas neste campo, oscilando dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

 

A pesquisa permite poucas outras comparações com o último Datafolha. Não há cenário igual nas sondagens estimuladas (quando é apresentada uma lista de candidatos ao eleitor) porque o ex-presidente Fernando Collor (PTC) se lançou em janeiro. Collor pontua de 1% a 3%, dependendo dos adversários.

Bolsonaro registrava até 22% das intenções de voto na pesquisa de novembro e, agora, aparece com no máximo 20%. Ainda é o líder e não é possível dizer a que essa redução se deve - se uma oscilação negativa do apoio ao presidenciável, pela entrada de Collor (que nesse cenário alcança 3%) ou a outros fatores. O piso de votos, que era de 17%, está em 15% na nova pesquisa, mas mais candidatos foram acrescentados.

Já no segundo turno, Bolsonaro aparece em dois cenários sem grandes alterações. Ele perderia de Lula (49% a 32% agora, ante 51% a 33% em novembro, com um aumento nos votos em branco e nulos de 15% para 19%), de Alckmin (35% a 33%) e de Marina (46% a 32% em novembro, frente a 42% a 32% agora, também com ampliação dos votos anulados, de 20% para 25%).

O deputado, porém, vinha crescendo nas intenções de voto e isso parou. Na pesquisa espontânea, quando o entrevistado não recebe a lista de candidatos, ele oscila negativamente: tinha 11% em novembro e está com 10% agora, na margem de erro. Bolsonaro e Lula (com 17%) são os únicos que se destacam nessa sondagem.

O discurso do PT de que a eleição sem Lula não terá legitimidade pode encontrar eco na pesquisa, que mostra fatia expressiva dos entrevistados dizendo que votarão em branco ou nulo, de até 36% se somados aos 4% de eleitores que não sabem qual candidato apoiar. A explosão de votos anulados, contudo, ocorre quando a ex-senadora Marina Silva (Rede) também está fora da disputa. Com Marina, a taxa cai a 28%, ou 32% quando o candidato do PSDB é o prefeito João Doria e não há um nome governista.

Embora o cenário sem Lula aumente os votos em branco, nulos ou em nenhum candidato, nos cenários onde ele está presente esses índices também subiram. Em uma das possibilidades, chega a 22%, frente a 15% no cenário mais próximo de novembro - e que não incluia o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD) e Collor. Ou seja, mesmo com a inclusão de outros dois nomes, o percentual aumenta.

Os votos de Lula se pulverizam entre vários candidatos e a anulação do sufrágio, mas os que mais se beneficiariam da exclusão, neste momento, são Marina e Ciro. A ex-senadora, que registra entre 8% e 10% no cenário com Lula, vai a até 16% sem ele. Ciro fica em 6% e 7% quando o petista está no páreo e vai a 13% quando ele está fora. O ex-governador baiano Jaques Wagner é testado como alternativa a Lula dentro do PT e ficou com 2%. Na rede social Twitter, Wagner disse que não é candidato e que, caso de fato seja impedido de concorrer, Lula será o ator político mais importante. O petista poderá contar com um ativo poderoso: 27% dos entrevistados dizem que votarão "com certeza" no candidato de Lula, que continua o maior puxador de votos da eleição, embora o índice tenha diminuído cinco pontos percentuais.