O globo, n. 30941, 24/04/2018. Economia, p. 16

 

Ação da Somos dispara e fecha com alta de 49,3% após anúncio

Roberta Scrivano e Glauce Cavalcanti

24/04/2018

 

 

Papéis da Kroton sobem 5,48%; empresa deve fazer outras duas aquisições

-SÃO PAULO- Com a aquisição da Somos Educação, antiga Abril Educação, anunciada ontem, a Kroton Educacional acelera sua expansão assumindo a liderança do setor de educação básica. Atualmente, só 3% da receita líquida do grupo vêm desse segmento. Com a Somos, esse percentual sobe para 28%. Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, revelou que ainda há outras duas aquisições no radar da Kroton para este ano. Uma delas, já estaria assinada, e a outra, com as negociações bem avançadas.

A compra da Somos fez as ações da Kroton fecharem em alta de 5,48% ontem na Bolsa, a R$ 14,22. Já os papéis da Somos dispararam, com alta de 49,3%, cotadas a R$ 21,35.

NEGOCIAÇÃO COMEÇOU NA SEXTA

A Kroton arrematou 73,35% das ações da Somos — fatia que pertencia à gestora Tarpon — por R$ 4,57 bilhões, ou R$ 23,75 por ação. Desse total, R$ 4,1 bilhões serão pagos à vista, em dinheiro, com emissão de dívida. A aquisição foi realizada pela Saber, holding de educação básica criada pela Kroton este mês para avançar neste segmento. Depois do fechamento do negócio, após a aprovação dos órgãos reguladores, a Kroton fará uma oferta pública de ações (OPA) para comprar, pelos mesmos R$ 23,75 por papel, os 26,65% restantes do capital da empresa — o que elevará o valor total da aquisição a R$ 6,23 bilhões.

As cifras mostram o apetite e o caixa recheado da Kroton, que no ano passado teve barrada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sua união com a Estácio, um negócio de R$ 5 bilhões.

Em 2017, o lucro da Kroton subiu 11% em relação a 2016, somando R$ 2,2 bilhões, mesmo num ano difícil para o ensino superior por causa dos cortes no Fies. Galindo evitou falar sobre eventual restrições do Cade à compra da Somos, mas frisou que o segmento de educação básica “é muito pulverizado” e que, por maior que seja a empresa que estão adquirindo, “o market share é baixíssimo”.

As tratativas entre Kroton e Somos — que já tinham conversado em 2017 — recomeçaram na última sexta-feira, quando Galindo procurou a Tarpon para fazer a proposta. Depois disso, os executivos reuniram-se durante o fim de semana para acertar os detalhes do contrato e a decisão foi tomada em muito pouco tempo. O lucro da Tarpon é alto: a gestora pagou por suas ações na Somos cerca de R$ 2,4 bilhões. De acordo com Fernando Schayer, presidente da Somos, não houve acordo nas negociações de 2017 porque o preço estava ainda abaixo do que a Tarpon queria.

VOLTA ÀS ORIGENS

Segundo Galindo, a aquisição é estratégica e faz a Kroton relembrar suas origens, já que seu início foi na educação básica.

— Estamos muito felizes. Esse é um namoro de longa data. Há mais de um ano estávamos tentando fazer negócio. Agora houve uma conjunção de fatores e a transação foi muito rápida — disse o executivo ontem, acrescentando que o grupo ainda não decidiu se manterá o capital da Somos aberto após a conclusão da OPA.

Em relatório, analistas da Rico Investimentos destacaram que a Kroton “avança em seu objetivo de aumentar a participação no setor de educação básica”. Para a Coinvalores, a compra fará os ativos das empresas “reagirem positivamente”.