Valor econômico, v. 18, n. 4435, 02/02/2018. Política, p. A7.​

 

 

Planalto mapeia 54 'fiéis da balança' em votação da reforma

Daniel Rittner e Andrea Jubé

02/02/2018

 

 

O presidente Michel Temer e seus ministros da área política traçaram um mapa dos "fiéis da balança" na votação da reforma da Previdência: uma lista de 54 deputados, com ampla maioria de nomes pertencentes à base governista na Câmara, que hoje são apontados como indecisos.

Com esse mapeamento pronto, o Palácio do Planalto tratou de acionar seus aliados no setor privado: pediu a grandes empresários e banqueiros que atuem nos bastidores para convencer parlamentares na votação. A lista foi fechada na segunda-feira e encaminhada em seguida para um grupo seleto de pesos-pesados do PIB. Se houver sucesso na empreitada, o núcleo político avalia que ainda dá para alcançar os 308 votos necessários e obter vitória na proposta de mudança das regras para aposentadorias.

Valor teve acesso ao levantamento, que inclui cinco deputados do PMDB, partido do presidente: Hermes Parcianello (PR), João Marcelo Souza (MA), José Fogaça (RS), Lucio Mosquini (RO) e Walter Alves (RN). A lista também contempla legendas que fecharam questão - ou sinalizaram disposição em fazê-lo - a favor da reforma: PPS, PTB e PSDB.

O PTB é o partido do ex-deputado Roberto Jefferson, delator do mensalão, que aguarda com ansiedade a posse da filha, Cristiane Brasil, no Ministério do Trabalho. Se a Justiça não autorizar a posse, a bancada petebista não deve apoiar em peso a reforma.

Também chamam a atenção os seis dissidentes do PP, uma sigla que comanda quatro máquinas expressivas do governo: além da Caixa Econômica Federal, está no controle dos ministérios da Saúde, Cidades e Agricultura. Nessa bancada, ainda desponta Esperidião Amin, que tem relação de amizade com Temer há pelo menos 30 anos, desde quando foi governador de Santa Catarina.

O deputado Alberto Fraga (DEM), pré-candidato ao governo do Distrito Federal, confirmou ao Valor que foi procurado pelo ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) para votar a favor da Previdência, mas prefere não declarar o voto. "Coloque que continuo em dúvida", disse.

Fraga é um dos integrantes da chamada "bancada da bala", que tenta convencer Temer a criar o Ministério da Segurança Pública, na reforma ministerial prevista para em abril, quando os atuais ocupantes do primeiro escalão saírem para disputar as eleições.

Outros dois parlamentares relativizaram o fato de estarem na lista de Marun. O deputado marcos Abrão (PPS-GO) admitiu ter sido procurado no início da semana pelo ministro, com quem mantém boa relação - ambos foram secretários de Habitação em seus respectivos Estados. Abrão explicou ao ministro que não votará a favor da reforma porque tem restrições às regras de transição, que "sacrificam" pessoas perto da aposentadoria. Se houver suavização das regras, ele disse que aceita retomar o diálogo.

A deputada Shéridan (PSDB-RR), também citada como indecisa, afirmou à reportagem que é voto contra. "É uma bandeira do PSDB, uma reforma histórica para o meu partido, mas não resolve a situação deficitária da Previdência no Brasil", comentou.

Questionada por que está na lista, ela justificou: "Adoro o Marun, ele é um amigo querido, sua maior característica é a lealdade, mas tem falha de comunicação aí".