O globo, n. 30940, 23/04/2018. País, p. 5
Perfil impulsivo de Joaquim Barbosa preocupa PSB
Catarina Alencastro
23/04/2018
Ex-ministro do Supremo se filiou ao partido mas ainda não decidiu se disputará a Presidência da República
-BRASÍLIA- Antes mesmo de o exministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa dar-se por convencido de ser candidato à Presidência da República, o PSB, partido que o abrigou, tem manifestado nos bastidores preocupação com o fato de ele ser neófito na política e ter um temperamento explosivo. Traumatizada com o fracasso da última candidatura presidencial, a sigla teme reviver problemas semelhantes aos que enfrentou com Marina Silva, cuja inflexibilidade atrapalhou a conquista de apoios no pleito de 2014.
— Todo mundo tem essa preocupação de que ele perca a calma e bote tudo a perder. Ou que seja inflexível demais. Mas ele não é mais o ministro do Supremo que todos conheceram. Ele largou a toga — diz um dos defensores do projeto presidencial de Barbosa no PSB.
A impulsividade de Barbosa, no entanto, foi exposta logo no primeiro encontro oficial que o PSB promoveu, na semana passada, para que o ex-ministro do STF conhecesse os principais caciques pessebistas. Na saída, questionado pela imprensa se uma demora em decidir sobre a candidatura poderia prejudicar o projeto, respondeu com outra pergunta:
— Who cares? — disse ele, lançando mão da expressão em inglês que significa “quem se importa?”.
Um dos maiores entusiastas do projeto Barbosa, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, tenta minimizar as preocupações:
— Ele não é impermeável. Esperamos que ele tenha capacidade de negociação. O presidencialismo nosso é de coalizão, e não tem outra forma.
Mas o fato é que o PSB conhece muito pouco Barbosa. Quando um grupo de nove deputados do partido desembarcou em São Paulo, em dezembro, numa investida para tentar trazer o relator do mensalão para a sigla, foi preciso uma reunião prévia entre os parlamentares para acertar o tom.
O líder do grupo, deputado Júlio Delgado (MG), era o único que já tinha estado com Barbosa antes e alertava que ele era muito sério e formal. O Joaquim Barbosa que os esperava à porta do elevador de seu escritório, no entanto, surpreendeu a todos. “Simples e sem frescura”, descreveu um. Aos políticos disse que seu momento de fama já tinha passado, referindo-se ao período em que ocupou a relatoria do mensalão e a presidência do STF.
— Aí é que o senhor se engana. Se quiser encarar uma disputa à Presidência, terá que estar preparado para tudo. Vão devassar a vida do senhor — disse um dos presentes.
Joaquim respondeu que estava preparado e enumerou os casos que seriam desenterrados: um apartamento que comprou em Miami para o filho e uma acusação de agressão à exmulher, na década de 80. Ao grupo, deu as explicações que terá de repetir à exaustão, caso se lance mesmo na jornada rumo ao Palácio do Planalto.
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Lula: ‘Poderia ter fugido do país, mas não quis’
Jussara Soares
23/04/2018
Em vídeo gravado antes de ser preso, petista diz querer provar inocência
-SÃO PAULO- Em um vídeo divulgado ontem nas redes sociais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que “poderia ter fugido” e buscado abrigo em países vizinhos, mas “não quis” fazer isso porque pretende provar sua inocência.
A mensagem à militância foi gravada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, antes de o petista se entregar, no último dia 7, e ser transferido para a sede da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná.
— Eu estive na divisa do Paraguai com o Brasil. Estive em Foz do Iguaçu, vizinho do Uruguai e Argentina. Eu poderia ter ido para embaixada, mas eu não quis fugir, porque quem é inocente não corre, enfrenta — disse Lula, fazendo referência a locais por que passou durante caravana pela região Sul, dias antes de ser preso.
CONVOCAÇÃO DA MILITÂNCIA
No vídeo, Lula explica que aceitou cumprir o mandado de prisão porque não teme as acusações da Lava-Jato.
— Não tenho medo das denúncias contra mim porque sou inocente e não sei se meus acusadores são inocentes.
O ex-presidente foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério Público Federal, a OAS destinou a ele um tríplex no Guarujá, litoral sul de São Paulo, em troca de favorecimento em contrato da Petrobras. Lula nega as acusações e diz que nunca foi dono do apartamento.
Em outro trecho do vídeo, o ex-presidente afirma que há “políticos que não têm honra e não se defendem”, mas este não seria o caso dele.
— Eu tenho muita honra e quero me defender. Por isso, eu estou muito tranquilo.
Por fim, o petista convocou a militância a continuar mobilizada e provocou o juiz Sergio Moro, que o condenou, e o procurador Deltan Dallagnol:
— (Quero) saber se eles estão dispostos a discutir comigo e debater publicamente os processos, porque quero provar que eles estão mentindo a meu respeito.
Desde que Lula foi preso, manifestantes ocupam um acampamento para cobrar que ele seja solto.
Ao receber o mandado de prisão expedido por Moro, no último dia 5, Lula foi ao Sindicato dos Metalúrgicos, onde ficou dois dias cercado por militantes do PT, aliados e familiares. No período, gravou vídeos para serem compartilhados em suas redes sociais.