O globo, n. 309951, 04/05/2018. País, p. 4

 

Toffoli nega pedido de Lula para paralisar ação do sítio em Atibaia

André de Souza

04/05/2018

 

 

Em Curitiba, petista recebe visita de Gleisi Hoffmann e Jaques Wagner

-BRASÍLIA E CURITIBA- O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), indeferiu ontem pedido de liminar apresentado pelos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para suspender a ação penal que trata das reformas no sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo petista. A defesa de Lula queria paralisar o processo, que tramita na Justiça Federal do Paraná, em decorrência da determinação da Segunda Turma do STF de que o juiz Sergio Moro remeta trechos da delação de ex-diretores da Odebrecht que envolvam o sítio para a Justiça Federal de São Paulo.

No entendimento dos ministros da Segunda Turma, na semana passada, os depoimentos dos delatores sobre o sítio de Atibaia e sobre o Instituto Lula, por exemplo, não têm relação com os crimes praticados contra a Petrobras e investigados pela Lava-Jato em Curitiba, foco da atuação do juiz Sergio Moro, e portanto deveriam ser enviados para a Justiça em São Paulo.

Ao negar o pedido, Toffoli explicou que o STF decidiu exclusivamente sobre os trechos das delações da Odebrecht, e “não examinou a competência da 13ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Paraná para processar e julgar ações penais que já se encontravam em curso”.

A defesa de Lula alegou ao STF que a decisão de Moro ao manter em Curitiba as ações penais do sítio e do Instituto Lula desrespeitaria a determinação da Segunda Turma. Toffoli afirmou que “não vislumbro ofensa à autoridade do STF” e que a determinação de transferência era apenas relativa aos trechos de depoimentos, e não às ações penais em si.

Também ontem, Lula recebeu pela primeira vez a visita de dirigentes do PT na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre pena desde o último dia 7 de abril. A presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Jaques Wagner, possível candidato do partido à Presidência caso Lula esteja inelegível, estiveram com o ex-presidente.

 

GLEISI: “CIRO NÃO É PAUTA DO PT”

Na última terça-feira, Jaques Wagner defendeu que o PT discutisse a possibilidade de apoiar Ciro Gomes (PDT) para presidente se Lula estiver impedido de concorrer. A presidente do PT, que discorda dessa ideia, negou que o assunto tenha sido debatido com Lula na visita.

— O Ciro não é pauta do PT, nem da conversa — respondeu Gleisi, ao deixar a PF.

O ex-presidente agora poderá receber a visita de dois políticos por semana. Cada um poderá ficar com Lula por meia hora. O esquema obedece às regras da Polícia Federal, e os pedidos serão filtrados e autorizados pela defesa do petista. As visitas vão ocorrer no mesmo dia em que os presos recebem os familiares. O PT deve elaborar nas próximas semanas uma lista de lideranças que irão visitá-lo.

A Polícia Federal definiu o sistema de visitas depois que a juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara de Execuções Penais de Curitiba, afirmou que os pedidos de visita deveriam ser encaminhados ao órgão, responsável pela custódia. Até a semana passada, Lula só podia receber visita de advogados e familiares de primeiro grau.

— O presidente Lula está preocupado com o Brasil. Ele está desconjurado com o país — disse a presidente do PT, lendo uma folha de papel com recados anotados por Lula. O ex-presidente também falou do desemprego, dos juros, do aumento da dívida pública e pediu que fosse transmitida solidariedade às famílias que viviam no Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo, que desabou na terça-feira.

— Encontrei um homem extremamente indignado, injuriado — afirmou Jaques Wagner.

Na comemoração do 1º de Maio, em Curitiba, o ex-ministro foi questionado sobre a possibilidade de o PT aceitar ser vice de Ciro e respondeu:

— Pode. Sempre defendi que, após 16 anos, estava na hora de ceder a precedência (cabeça de chapa). Sempre achei isso. Não conheço na democracia ninguém que fica 30 anos. Em geral fica 12, 16, 20 anos. Defendi isso quando o Eduardo Campos ainda era vivo.

De acordo com Wagner, a sua fala não provocou nenhuma reação de Lula:

— Ele me conhece muito. Sabe, desde a primeira hora, eu vou com ele até o final.