O globo, n. 30948, 01/05/2018. País, p. 4

 

Nomeado na Câmara dos vereadores, presidente do PDT viaja pelo país

Marcelo Remígio e Miguel Caballero

01/05/2018

 

 

Lotado em gabinete, Lupi, ex-ministro do Trabalho, cumpre agenda com Ciro

Nomeado no gabinete do vereador Daniel Martins (PDT) na Câmara de Vereadores do Rio, o presidente nacional do PDT e ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, não é visto na Casa. O pedetista não frequenta o plenário, nem dá expediente no prédio anexo como auxiliar de gabinete, cargo em que está lotado. Porém, fora do Palácio Pedro Ernesto, Lupi mantém, nos dias de semana, mesmo quando há sessões, uma agenda intensa pelo país, filiando novos companheiros para o partido e acompanhando o pré-candidato da sigla à Presidência da República, Ciro Gomes, em eventos.

Para ocupar o cargo de auxiliar de gabinete, Lupi recebe um salário mensal bruto de R$ 3,5 mil, que pode superar R$ 10 mil se somados os auxílios transporte e alimentação, além de gratificações. Cabe à função de Lupi redigir ofícios, atender ao público e secretariar o vereador.

No entanto, sua rotina diária é bem diferente. No último dia 19, quando o expediente da Casa previa sessão, Lupi estava a mais de 1.700 quilômetros de distância da Câmara. Junto com Ciro Gomes, visitou, naquela data, aldeias indígenas no Mato Grosso e se encontrou com a família do ex-deputado federal e cacique Mário Juruna.

Em vídeo postado nas redes sociais, Lupi justificou sua passagem pela aldeia. Junto com Ciro, foi “pegar energia da civilização originária do Brasil, de onde nasce a nossa cultura, de onde nasce a nossa gente, de onde nasce a nossa força espiritual”, e canalizá-la para a précampanha do pedetista.

Um dia antes, quando também houve expediente no plenário da Câmara de Vereadores do Rio, Lupi participou, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, do lançamento de um manifesto de seis partidos de esquerda em favor da democracia.

 

“NUNCA VI PISAR NO PLENÁRIO”

Também em abril, Lupi passou pelos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Em Tocantins e no Mato Grosso, o pedetista filiou deputados e a senadora Kátia Abreu; no Pará, recebeu a ficha de filiação de um candidato ao Senado; e no Rio Grande do Norte, participou, ao lado do prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT), de solenidade do lançamento do Projeto de Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.

Antes de ser nomeado por Daniel Martins no início do mês, Lupi esteve lotado por um ano no gabinete do antigo titular do mandato, Renato Moura, também do PDT. Moura foi nomeado secretário municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação da prefeitura de Marcello Crivella, pasta que coube à sigla dirigida por Lupi no loteamento do primeiro escalão entre as legendas aliadas. Suplente de Moura, Daniel Martins assumiu o mandato e também empregou o chefe partidário como assessor.

A dispensa de comparecer ao local de trabalho já era a praxe com Moura e continuou com Martins. Lupi mantinha sua rotina de viagens, deixando para trás as funções de auxiliar de gabinete para atuar em tempo integral como presidente do PDT. De dezembro do ano passado a março deste ano, Lupi viajou algumas vezes para Brasília e passou, também, por Santa Catarina e Ceará, onde participou de eventos partidários em dias de semana.

O desaparecimento de Lupi da Câmara é confirmado até por funcionários do gabinete de Martins:

— Carlos Lupi? Acho que você pode falar com ele lá no partido, não aqui (no gabinete) — afirmou uma assessora do vereador, por telefone, ao GLOBO.

Nas duas últimas semanas, a reportagem esteve no Palácio Pedro Ernesto em busca de Lupi, mas não obteve sucesso.

— Lupi? Nunca vi ele pisar no plenário — diz um assessor de um vereador com gabinete no terceiro andar do prédio anexo, onde também trabalha Daniel Martins.

Martins assumiu a vaga de Renato Moura no início de abril. De acordo com o vereador, Lupi é uma espécie de “guru” do gabinete. Ele confirma que o ex-ministro do Trabalho não tem dado expediente, dedicando-se às atividades de presidente do PDT. Mas afirma que as funções de Lupi como auxiliar de gabinete podem ser desempenhadas fora do Palácio Pedro Ernesto. Martins não explicou qual vinculação existiria entre a agenda de Lupi nos outros estados com o trabalho legislativo da Câmara.

— Estou há duas semanas na Casa, e Lupi era do gabinete de Renato Moura. Em março ele deu entrada na aposentadoria. Lupi vem no gabinete, mas não tem um horário certo — disse Martins, ao destacar que Lupi faz “trabalhos nas bases” e ajuda externamente o gabinete.

Procurado, o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, não comentou o caso.

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Pedetista promete deixar emprego no gabinete

01/05/2018

 

 

Carlos Lupi tem histórico como ‘funcionário fantasma’

Carlos Lupi reconhece que, mesmo empregado nos gabinetes dos pedetistas Renato Moura e Daniel Martins, frequenta pouco a Câmara de Vereadores do Rio. Ele diz que combinou com Moura uma “flexibilização” de sua presença no gabinete.

— Fui nomeado num cargo de confiança que é o de menor salário. Sempre tive essa flexibilidade, combinada com o Renato Moura. Presto assessoria fazendo articulação com partidos, nunca fui muito fixo no gabinete, minha atividade é mais fora. E não precisa estar todo dia lá para assessorar um vereador. Quando estou no Rio, fico mais na sede do partido, mas em vários dias passo na Câmara também. Tenho essa combinação, costumo viajar mais às segundas e às sextas — disse Lupi, que também publicou nas redes sociais fotos em outras cidades do país em dias de votação na Câmara.

Servidor concursado da prefeitura do Rio desde 1985, Lupi esteve cedido a outros órgãos do poder público na maior parte deste tempo. Desde que Renato Moura virou secretário municipal e seu mandato foi assumido pelo suplente Daniel Martins, no início do mês, Lupi ainda não foi à Câmara.

 

SUMIDO DO CONGRESSO

O pedetista diz que, no dia 23 de março, requereu sua aposentadoria junto à prefeitura. Quando sair, o que ele espera ocorrer nas próximas semanas, sua cessão à Câmara não será renovada, e Lupi diz que não continuará no emprego no Legislativo:

— Estou aguardando o despacho da aposentadoria. Depois, vou me dedicar só ao partido. Eu era lotado no gabinete do Renato Moura. Quando o suplente assumiu, ele renomeou todos que estavam como cargo de confiança, é a praxe. Mas eu não vou continuar, vou atuar apenas na campanha do Ciro à Presidência.

Esta não é a primeira, nem a segunda vez, que Lupi é flagrado como “funcionário fantasma”. Entre 2010 e 2016, ele tinha emprego de assessor na liderança do PDT na Câmara dos Deputados, mas também não comparecia ao gabinete. Funcionários da liderança declararam que ele nunca tinha sido visto por lá, e mesmo parlamentares do PDT disseram sequer saber que Lupi trabalhava, ao menos em teoria, na liderança, conforme registrou a “Folha de S.Paulo”.

Em 2015, Lupi esteve lotado no gabinete do secretário municipal de Trabalho do Rio, Augusto Ribeiro. A pasta era controlada pelo PDT, e Lupi também não aparecia na secretaria. No ano seguinte, chegou a ocupar dois cargos ao mesmo tempo, segundo a colunista Berenice Seara, do “Extra”: ele era assessor de Renato Moura e também atuava como coordenador de articulação política da Casa Civil do governo de Eduardo Paes. Foi exonerado dos dois cargos com uma diferença de 21 dias. (M.R. e M. C.)