O globo, n. 30958, 11/05/2018. País, p. 6

 

Ciro negocia ampliar alianças, e Steinbruch é cotado para vice

Jeferson ribeiro

11/05/2018

 

 

Filiação do empresário ao PP pode unir partido de centro ao PDT

Três dias após o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa anunciar que não concorrerá à Presidência, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, ampliou seu leque de opções, antes mais restrito ao campo da esquerda. O pedetista reabriu conversas com o PSB e pode negociar até com o PP, que filiou o empresário Benjamin Steinbruch, presidente da CSN. Desde ontem, ele é cotado para ser vice na chapa.

Steinbruch disse ao GLOBO que é amigo de Ciro desde os anos 1980, e que ouviu o pré-candidato antes de se filiar ao PP.

— Eu ficaria muito honrado com um convite para servir o meu país, ainda mais numa função de vice-presidente, mas não tem nada de concreto. Nem convite há — afirmou o empresário.

A prioridade na estratégia eleitoral de Ciro, neste momento, ainda é a construção de uma aliança de esquerda com o PSB, o PCdoB e, se possível, com o PT. Porém, o que deve imperar é o pragmatismo, e uma chapa com PP ou PR, que tem em seus quadros Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar, entrou no horizonte do pedetista.

— Nossa prioridade agora é conversar com o PSB e tentar construir uma frente de esquerda, junto com o PT se eles quiserem — disse o presidente do PDT, Carlos Lupi. Se os petistas insistirem na tese de lançar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde o mês passado, eles vão ficar isolados na avaliação de Lupi.

O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também disputa o apoio do PSB, que ainda tem como opção de não apoiar nenhum candidato.

— Acho que vamos priorizar os projetos regionais. Hoje, nem Ciro, Alckmin ou Marina têm condições de unificar o PSB. Se o partido liberar os diretórios, acho que o Ciro pode conseguir mais apoios — avalia o vice-presidente de relações governamentais da legenda, Beto Albuquerque.

 

ALIANÇA É BEM VISTA

É nesse cenário que Ciro pode alargar sua aliança além do campo da esquerda, atraindo um partido mais de centro, como PP ou PR. As duas legendas filiaram recentemente empresários com o perfil dos sonhos do pedetista para compor sua chapa: um empresário do Sudeste que pudesse reforçar o discurso de “projeto nacional desenvolvimentista”. Lupi disse que a filiação de Steinbruch os pegou de surpresa:

— Ele tem o perfil que se encaixa naquilo que pensávamos. Agora, o PP quer? Ele quer? Que aliança se formaria? Não sabemos porque não conversamos sobre isso. Mas essa é uma peça nova (a filiação do empresário) e não é conflitante com a nossa estratégia.

Já no caso de Josué Gomes, a situação é diferente. Lupi disse que tentou filiar o empresário ao PDT, mas ele preferiu ir para o PR.

Uma aliança de Ciro com partidos mais de centro, como PP e PR, não é mal vista em parte dos partidos de esquerda. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que essas legendas já integraram o governo do PT e não vê problemas na aproximação.

— Se o Ciro conseguir atrair partidos de centro merece nossos cumprimentos, porque deu um passo à frente no caminho certo. Ele tem espaço para dialogar com as legendas que estiveram no governo Lula — analisou o comunista.

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Isolado, PT discute anunciar vice de Lula

Sérgio Roxo

11/05/2018

 

 

Partido vive dilema interno sobre anunciar um nome para ocupar espaço

-SÃO PAULO- Enquanto seus antigos aliados discutem a formação de uma frente de partidos de centro-esquerda em torno da pré-candidatura de Ciro Gomes, o PT se volta para disputas internas. Com Lula preso, lideranças têm criticado a postura da presidente da legenda, a senadora Gleisi Hofffmann (PR), que, com suas declarações, estaria contribuindo para o isolamento petista.

A sigla vive ainda um dilema: anunciar ou não agora um précandidato a vice. Diante da ausência de Lula, o ocupante do posto teria a função de dar entrevistas e tentar conseguir participar de debates.

O PT ingressou ontem com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com pedido de liminar, para garantir a presença de um representante do partido na série de entrevistas com os pré-candidatos a presidente que vem sendo feita por SBT, UOL e pelo jornal “Folha de S.Paulo”.

O problema do anúncio imediato de um pré-candidato a vice é que o partido estaria jogando a toalha na busca de alianças e oficializando o isolamento da candidatura de Lula. O nome mais cotado para o posto é o do ex-chanceler Celso Amorim. Uma outra opção seria indicar o ex-ministro Jaques Wagner ou o ex-prefeito Fernando Haddad, os dois cotados até agora como plano B para a disputa presidencial.

Comandados por Gleisi, dirigentes da legenda têm interditado qualquer debate sobre uma alternativa a Lula. A ideia é inscrever o ex-presidente como candidato em 15 de agosto mesmo que ele continue preso até lá. Se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmar a sua impugnação com base na Lei da Ficha Limpa, já que o petista foi condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o partido indicaria um substituto.

 

GLEISI, A ANTICANDIDATA

Internamente, uma ala, encabeçada por correntes minoritárias, defende que, com a impugnação de Lula, o partido opte por uma anticandidatura. Nesse caso, o líder da chapa teria a função de denunciar a “perseguição” a Lula e passar recados do ex-presidente aos eleitores. Caso vingue essa ideia ainda embrionária, o posto seria ocupado por Gleisi, apesar das críticas que tem enfrentado.

Lula enviou anteontem da prisão uma carta de apoio a Gleisi na qual reafirmou a sua intenção de concorrer.

Para um grupo de lideranças petistas, porém, tanto o caminho da anticandidatura como de um eventual boicote à eleição é suicida e abriria caminho para a vitória de um candidato de centro-direita.

Os riscos de isolamento do PT se acentuaram com a possibilidade de adesão do PSB à pré-candidatura de Ciro, depois que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa desistiu de disputar o Palácio do Planalto.